Senado vai descansar com a trégua da pizza?
Será que a crise se voltará para Dilma contra o lobby Serra, Lina, Datafolha e Folha? Lula parece gostar da tese. É aquela da eleição plebiscitária...
Arquivaram tudo, incluindo a minha paciência. A pizza terminou num gurufim sem música, com a unanimidade de um Senado já cansado, desejando o fim da crise e saudando, merecidamente, o senador Arthur Virgílio.
Este tucano fez uma candente e emocionada defesa na mesa da mesa do Conselho de Ética, depois de ter sido para lá chamado pelo presidente da sessão, senador pós-biônico Paulo Duque, de réu. Virgílio, enfrentando acusações de desmandos, reconheceu erros, mostrou ter ressarcido a Casa, deu as explicações (fez o que todo mundo sempre fez no Congresso). Mas só ele, o tucano do Amazonas, ressarciu: devolveu 300 mil reais. Está limpo.
Houve uma trégua depois do 15 a 0 a favor de Virgílio. José Sarney, absolvido por 9 a 6, não compareceu para se defender porque não havia necessidade.
No dia em que a senadora Marina Silva abandonou o PT, depois de décadas de militância, para desafiar as forças do presidente Lula em 2010, no dia em que o senador petista Flavio Arns declarou que sentia vergonha pela posição do PT no Conselho de Ética, no dia em que Pedro Simon qualificou como um dos mais tristes da história política do Brasil, a TV Senado mostrou a receita da pizza: Petistas elogiando Virgilio. Renan Calheiros e Virgílio trocando mesuras, tudo lindo e maravilhoso, só Vossa Excelência.
E longe dali, Lula e a ministra Dilma Rousseff acertados com José Sarney, longe do olho do furacão, mas os três sob ameaça crescente do lobby da candidatura de governador de São Paulo. Lula não parece ver o perigo, parece gostar da tese maniqueíssta, plebiscitária: eu e Dilma contra José e Serra. O treco é mais complicado.
A pizza terminou num festival de inverno. O inferno não são os outros, mas apenas Sarney e o PT, os dois derrotados. Cada voto a favor de Sarney era proferido apenas por gesto, ou em voz baixa, envergonhada. Pra criar esse clima muito ajudou um texto de Ricardo Berzoini, presidente do PT, só faltando dizer que o Conselho de Ética era um Conselho de Nada, pura politicagem partidária. Claro, a Executiva do PT, com a nota lida na sessão, pediu transparência, investigação, reformas administrativas, etc, mas mandou seus senadores votarem pelo arquivamento total.
MP e policiais federais continuarão investigando as contas do clã de José Sarney inocentado? E alguém logo logo vai voltar a fustigar Sarney, agora no plenário do Senado.
Ou não? Porque sim, a crise parece agora estar mudando de lado. É Dilma Rousseff contra o lobby paulistano do governador Serra, que tem de combater em duas frentes: solapar a candidata de Lula e não deixar o governador mineiro Aécio Neves crescer como vem fazendo, já uma opção palatável entre os tucanos.
O lobby de Serra talvez tenha exagerado na dose. Os próximos dias dirão. No dia da pizza, a internet bombou com suspeitas de que o Datafolha não é mais o mesmo, tamanha a discrepância com os percentuais de sua últimna pesquisa com a do Vox Populi na aferição da popularidade dos presidenciáveis, com denúncias de internautas de que a Folha de S. Paulo estaria abertamente em campanha pró-Serra.
Vai recomeçar o vale-tudo? Ou o Senado vai descansar com essa trégua da pizza? Até Arthur Virgílio, revigorado ao superar as ameaças exageradas da tropa de choque do PMDB, merece um descanso, um pileque, um folgão, uma pescaria no Rio Negro.
A pizza terminou com uma chuva de declarações de amor a Virgílio e mútuas entre os senadores, todos se respeitando formalmente, e que cada um, com sacrifício, diminua a gastança, a mordomia, e que, se preciso for, que se gaste e se nomeie, mas, por favor, dentro do que prescreve o regimento interno.
Senado, dez mil empregados e um acordão! Rede Globo, um pouco menos, e Corujão! Prefiro esta última. Fora Correio da Lapa! (Por Alfredo Herkenhoff)