quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Aids, HIV: -31,2%

Uma vacina experimental contra o HIV diminuiu o risco de infecção, afirmam cientistas. O teste com 16 mil voluntários - realizado pelo Exército americano em cooperação com o governo da Tailândia - demonstrou uma redução de 31,2% no risco de contrair o vírus.

Para os pesquisadores, os resultados renovam as esperanças de que é possível desenvolver uma vacina eficaz contra o vírus HIV.

O que é diferente sobre esta vacina?
Por mais de 20 anos, o campo de pesquisa de vacinas contra o HIV vem sendo marcado por decepções. Em 2007, a Merck suspendeu testes de uma vacina que era vista como uma das mais promissoras até então, depois de concluir que não havia diferença nos níveis de infecção entre os vacinados e os que haviam recebido placebo.

O último teste combinou duas vacinas que não haviam obtido resultados em testes separados no passado. Ao todo, 8 mil voluntários entre 18 e 30 anos de idade receberam uma primeira dose da vacina, seguida por um reforço, e 8 mil voluntários receberam um placebo.

Depois de três anos, a taxa de infecção de HIV foi um terço mais baixa entre os vacinados. Do grupo, 51 pessoas foram infectadas pelo vírus, em comparação com 74 pessoas que tomaram placebo.

O que o resultado mostra?
Os números de pessoas infectadas no teste são muito baixos e sempre há a possibilidade de que a diferença entre os grupos seja mero acaso. Mas Adriano Boasso, especialista em vacinas contra o HIV do Imperial College London, na Grã-Bretanha, afirma que os números são significativos, estatisticamente falando.

"Eles devem ter feito testes para verificar que a diferença dificilmente ocorreu por acaso e eu não tenho qualquer problema em acreditar nesses números." Os cientistas aguardam ansiosamente a publicação do relatório completo sobre o teste para que possam avaliar o quão significativas são as conclusões.

Mas porque esta é a primeira vez que uma vacina contra o HIV se mostrou eficaz - pelo menos parcialmente - a visão geral entre os especialistas é de que os resultados são um importante passo.

As cepas do HIV usadas na vacina são do tipo B e E - a cepa B é predominante na Europa e América do Norte. Com isso, os resultados não são imediatamente significativos para a África, onde a cepa predominante é a do tipo C.

O que pensam os especialistas?
Estima-se que cerca de 33 milhões de pessoas sejam portadoras do vírus HIV no mundo, e uma vacina teria enorme impacto, principalmente em regiões onde a infecção é endêmica, como na África sub-saariana.

Mas o HIV parece ser extremamente eficiente em "enganar" o sistema imunológico, daí o fracasso em se produzir uma vacina que proteja contra o vírus.

Este último estudo renova o otimismo dos pesquisadores de vacinas, depois de anos de decepções. Os cientistas estão cautelosamente esperançosos de que talvez seja possível, a partir dos resultados positivos, ter uma chance de eventual sucesso.

Segundo Boasso, o resultado é "uma lufada de ar fresco". "Ele sugere que há chances de se desenvolver uma vacina contra o HIV e que não devemos desistir só porque houve alguns fracassos." "O desenvolvimento de vacinas é um longo processo, e este é um passo a mais."

Lisa Power, chefe de política da Terence Higgins Trust, a maior ONG que cuida de Aids e saúde sexual na Grã-Bretanha, disse que os resultados dão aos especialistas uma boa idéia de onde concentrar as pesquisas no futuro.

E Seth Berkley, presidente e chefe executivo da Iniciativa Internacional de Vacina contra a Aids, acrescentou: "Até agora, só tínhamos provas da viabilidade de uma vacina contra o HIV em modelos animais".

"Agora, temos uma candidata a vacina que parece mostrar um efeito de proteção em humanos, mesmo que parcialmente."

E agora?
Ainda há muito trabalho a ser feito antes que uma vacina se torne disponível. É muito pouco provável que uma vacina seja licenciada com uma taxa de sucesso de apenas 30% - pesquisadores têm como meta uma taxa de sucesso de 70% a 80%.

Eles terão que trabalhar em cima dos resultados e modificar a vacina para obter uma resposta melhor. "Agora, os pesquisadores provavelmente vão examinar que tipo de resposta imunológica eles induziram para tentar descobrir que tipo de efeito eles precisam induzir nos voluntários para alcançar certo grau de proteção", explicou Boasso.

"Isso também poderia nos ensinar muito sobre outras vacinas." "Também é possível que sejam realizados outros estudos em voluntários de alto risco, onde as taxas de infecção seriam mais altas, apesar de que estes tipos de estudos são mais difíceis de se realizar e os resultados podem ser difíceis de se interpretar.

Texto da BBC avistado no site do Estadão