sexta-feira, 5 de junho de 2009

Obama Veludo Michele Veneno Blog sem "erre"


Solilóquio para o blog Veludo Veneno


O veludo é maciez, um suave pano de fundo que dos dois lados desliza luzindo insinuações no contato com o olho e no contato com a folhagem da pele. O veludo, além de magnânimas lambidas sensuais, dá ânimo a desejos como uma doce película envolve a alma em miados e manhas à meia luz.


O veneno é a ganância de saúde, uma ganância de ejaculação e gozos, sedução de fome de cama, um sinal de vem, venha, me beije, me sonhe nuvem e pingos de umidade fecunda, unguento de sêmen nas duas duplas de coxas encaixadas pela fenda da vida e convidando o homem ateu, já na mulher ateia, em assumido ato desinibido de fé nas bocas adultas, no exato tintim tilintante de línguas ágeis, saltitantes nas intumescências, a uma louvação da boca única, a sua, minha amada, a mais molhada e ampla, desmedindo, pelos estupendos lábios, os momentos inesquecíveis na mumunha da lascívia como uma luminosa manhã de mim e de si, de novo nos chamando a mais uma vez ao musgo da beleza, de novo ao talho que exala, numa solene saliência, essências do molejo, chamego na maviosa modulação genital, óbvia modinha de cetim, mucosa quente e fofa sob as ondulações movidas pelo ai! Que bom, movimentações de uma suada enfiada de axé com chacoalho num samba de testículos e monte de Vênus. Nesse compasso, somos amantes de mais uma novidade musical, somos uma sucessão de impacto epitelial e tátil, sons abafados de címbalos, um andante majestosamente nupcial, nupcioso.



Veludo e veneno vão e voltam sem simples noção de jamais um dia saudade, de jamais um não, jamais negando o mais uma vez, jamais um não ao aninhante vão da cópula nunca em vão. Então vamos nos aninhando na nossa mudez falada, juntando as imagens nascidas em cima do lençol como nascem as mensagens celestiais, e assim saímos do texto com a convicção de que ainda existe plano nesta evolução de avanços físicos no caminho místico do ponto mais sublime do infinito de nós dois, fêmea do macho da fêmea na dança das homenagens callientes sob a chancela do delicado e incansável pênis no afeto gigante pela sua vagina humilde, só a sua, e aos olhos de nossa cumplicidade, nessa desejância de ancas e mãos, bumbuns vão bombando invenções tão íntimas, e seguimos adiante como quem não imagina nenhuma hipótese, nada de consequência infeliz.



Inútil também é até a exibição só nossa desse instante independente de nomes e países com seus milhões de casais que pululam nos balangandãs de jóias lindas na ótima solidão do boca a boca, e nesse vai e vem sem fim, mas com meio, muitos meios, os demais amantes aí se espalhando, sei lá, enquanto tudo isso, sim, vamos nos desvencilhando das últimas velhas fantasias e nos amalgamamos como o mais mítico acoplamento na face da net. E nossas teias mentais dão espaço aos nossos gestos convincentes e convencidos de que nos metemos num balacobaco da pesada pela identificação poética de um metaesquema bacana, um limbo de avidez libidinosa, ou um nunca mais um afastamento que tivesse como alavanca uma atitude bisonha, ou um gesto que distanciasse, ou algo não muito gostoso. Não, nosso canto é melodioso e adocicado, é o mel de nossas canções, nossas navegações dando no mesmo cais, um cafofo com jasmim e cinema, filme tão pessoal que só nós, nus, nos entendemos na tela ou na planície da mansidão pós-coito.


Sua nudez é a minha nudez. Seu tipo de tecido, veludo com a mais chinesa das sedas, é o meu tecido. Seu lado avesso é o meu espelho, meu sexo nunca avesso ao seu, o seu também nunca avesso ao meu, e o nosso, nunca avesso ao nosso, os dois tão desiguais e gentis sintetizando selvagemente os ângulos de cobiça instintiva, e também os pêlos pubianos como pequenos novelos, alguns mais densos e alguns quase inexistentes, ou invisíveis, de tão finos, mas o conjunto fashion pintando num toque, pelo uso mútuo desde o início da queda de nossa moda, cueca e calcinha, nosso quase obsceno tempo de nenhum custo, nenhum susto ululante, apenas libação de velúcia em noite de lua cheia e tesão plena.


Seu veneno é como um neném que se embala pensando que se faz um bem. Seu veneno é o meu neném também. E nesse embalo, me ganha, até me mata, mas não me engana. E assim vou vivendo com o seu veneno, a tudo dá-se um jeito, vou me envolvendo com a sua astúcia do bem. Seu veneno não engana quem não o teme, seu veneno engana somente o engodo, e se alguma coisa divina existe em mim, no nosso veludo acima da suavidade do gozo, é o silêncio de quem, não sendo bobo, se sabe de bem com a loba e descansa ao seu ladinho.


Texto by Alfredo Herkenhoff

Fotos: Fonte: Casa Branca, Washingfton DC