quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Gloria Vanderbilt, sexo total, Obsession

Gloria Criança, Gloria Jovem e Gloria Madura


Gloria Vanderbilt lança livro sobre a vida sexual escabrosa de uma órfã

A devoção irônica e o constrangimento festivo com que nos Estados Unidos receberam o novo romance da herdeira empobrecida Gloria Vanderbilt não tem relação com o seu conteúdo, uma floresta de caralho e clitóris, tulipas e vaginas submetidas continuamente a todo tipo de maluquice erótica, mas com o fato de que a sábia e fantasiosa senhora (uma escrita de máxima elegância, nos falando de todas as cores em 144 páginas, um texto de letras grandes, talvez em respeito aos anciãos e aos presbíteros lascivos) é de fevereiro de 1924, portanto já completou 85 anos de vida.


Resenha de Natalia Aspesi no jornal La Repubblica (*)

(...) o sexo, que segundo os experts seria ilimitado, tem, em vez disso, seus limites. E se tratando de uma senhora já na quinta idade e de aspecto bonito bem Dorian Gray, parece uma evocação... (...)

A trama do livro: Talbot Bingham è arquiteto querido e famoso e que, com a sua amada mulher Priscilla forma um casal perfeito com trepadas diárias, embora a senhora seja frígida. Na comemoração dos 10 anos de casamento, ele morre, morte súbita. A viúva estupenda e desesperada encontra um pacote de cartas assinadas por Queen Bee, ou Abelha Rainha e que chama Talbot de Master, ou Paizão, ou Mestre, relembrando um paraíso infernal de reciproca obsessão sexual, na qual a belíssima e misteriosa jovem é uma escrava entre outras escravas submetidas às incessantes crueldades amorosas do seu Senhor abusando de suas Senhoras de joelhos ao seu redor; mas, na troca, somos gente do grand monde, ele a presenteia com a casa mais bonita jamais mostrada numa revista de arquitetura, são modos sofisticados de Fortune, jóias raras e uma pensão vitalícia, além de milhares de euro e um par de pingentes de fazer loucura com sexo e dinheiro.

Imaginemos então a frígida Priscilla, além do mais, repetidamente citada nas cartas de Bee pelo apelido desprezível de "Mulher", isto é, pessoa inútil e incapaz de venerar ou se fazer venerada, prisioneira de uma vida e de um corpo que não conhecem alegria nem prazer.


(...) A senhora Vanderbilt conhece certamente aquele monumento inigualável de fantasias eróticas femininas que é a Histoire d´O, publicado em 1954, três meses depois de Bonjour tristesse, da Sagan. A autora, que muita gente acreditou que se tratasse de um autor, porque era inimaginável que as mulheres tivessem a palavra onde haviam sido submetidas ao silêncio, manteve-se no anonimato até 1995, quando, aos 87 anos, revelou a sua identidade ao New Yorker: Pauline Réage, que tinha assinado aquela fantasia barroca e saborosa, se chamava na verdade Anne Desclos, e tinha tal vocação à clandestinidade que, tornando-se secretária-geral da prestigiada Nouvelle Revue Française, e publicando Antologia de poesia religiosa francesa, tinha assumido o pseudônimo de Dominique Aury.

O livro escandaloso que os grandes editores rechaçaram e as livrarias não queriam (até hoje vendeu na França 1 milhão de exemplares) rendeu processo, prêmio e ataques (até por parte de Mauriac, mas este não quis lê-lo). Os tempos mudaram. Vanderbildt não tem necessidade de pseudônimo, os críticos literários a ignoram. O colunismo social pergunta ao filho da autora, Anderson Cooper, jornalista da CNN, se está contente com a mamãe pornográfica. Resposta: Sim. Estou feliz por ter uma mãe tão audaciosa.

Naquela obsessão funambuleca e farsesca entre grossas correntes de outro, máscaras e asas de pomba, chicotes, flechas, música celestial, unguentos fatais, misteriosos objetos de cristal, frutas e verdura em grande quantidade, Bee descreve o êxtase da submissão a regras cruéis e malucas, portanto, eróticas.

A presença de um unicórnio nos assegura que se trata de um sonho, no qual Bee e Priscilla sejam talvez uma mesma pessoa, como costuma acontecer em toda fantasia sexual feminina que transforma uma senhora casta num demônio em forma de gente. Também o luxuriento Talbot è, mais do que uma invenção, uma miragem, que finalmente uma velha senhora se concede depois talvez de alguns erros ou desilusões com os quatro maridos, entre eles o regente e diretor de orquestras Leopold Stokovski e o diretor de cinema Sidney Lumet, e ainda os seus muitos amantes, talvez sobrevalorizados, tipo Marlon Brando ou Frank Sinatra, e a perda do seu último amigo, o grande fotógrafo negro Gordon Parks, morto no 2006. E depois também de dores tremendas, como a do suicídio do mais velho dos seus quatro filhos homens, o qual, em junho de 1988, se jogou do 14° andar do apartamento em que viviam em New York, apesar da tentativa em vão da coitada da Gloria para que ele não cometesse aquela loucura.

Correio da Lapa informa:
Tradução
do italiano feita de afogadilho por Alfredo Herkenhoff para não perder o tom deste blogue-jornal, que avistou a resenha no excelente site italiano Dagospia, o mais bombado em Roma, Milão e Turim, site aliás que é uma referência de alta qualidade, exibindo todo dia o momento em que neurônios e informação se amalgamam em nome da esbórnia intelectual e política. Gloria Vanderbilt é trisneta de Cornelius Vanderbilt, o Comodoro, o empresario que, 150 anos atrás, ergueu um império financeiro se destacando na marinha mercante e na indústria ferroviária. Na esteira da família milionária, que sempre deu, abnegadamente, muito apoio à cultura e à educação, houve muitos suicídios e brigas entre parentes por heranças, tendo como pano de fundo a decadência com elegância.

O Correio da Lapa prepara, em homenagem a Gloria e a Barack Obama, pelos seus 48 anos recém-completados, uma exposição digital com uma retrospectiva de Gordon Parks. A foto com a Ingrid acima é só a primeira do que vem por aí...