terça-feira, 14 de julho de 2009

Falcão escreve: demissão de Parreira foi vergonhosa e desrespeitosa. Ingratidão do Fluminense


Deu no jornal gaúcho Zero Hora, desta quarta-feira, 14 de julho de 2009:

Paulo Roberto Falcão
:
Desrespeito

Foi constrangedora para o futebol brasileiro essa demissão de Carlos Alberto Parreira pelo Fluminense. Parreira merecia mais respeito, por sua história, pelo tipo de relação que tem com o clube carioca, pelo que representa para o país. Ele é um campeão do mundo.

Está na galeria dos grandes, juntamente com Zagallo e Felipão. Mais do que isso: mesmo sendo um profissional consagrado e rico, assumiu a tarefa de tirar o Fluminense da Série C em 1999.

No mínimo, era de se esperar alguma gratidão por parte dos dirigentes.

Mas não: como acontece toda semana no país com técnicos de todos os calibres, bastou a má campanha no início do Brasileirão para Parreira ser dispensado. Ele manteve a elegância, mas não escondeu sua decepção: “Valeu ter voltado. Valeu ter matado a curiosidade, após sete anos seguidos em seleções. Queria voltar a sentir essa adrenalina. Mas só constatei que não se tem paciência com o projeto. Só se vê o resultado”.

Nenhum treinador pode ser intocável. Mas profissionais como Zagallo, Parreira ou Telê Santana, que já não está mais entre nós, só deveriam ser liberados pelos clubes de comum acordo. É o mínimo que os dirigentes deveriam fazer, em respeito a esses senhores que já contribuíram tanto com o nosso futebol.

Parreira lembrou, oportunamente, que no Brasil quase não há espaço e tempo para um treinador trabalhar. “É só jogar, jogar e rezar para os resultados acontecerem”.

Eis aí o problema: resultados.

Um treinador como Parreira deveria estar acima deste imediatismo.

Currículo

Campeão brasileiro pelo Fluminense em 1984, Parreira também fez boa campanha como técnico do Corínthians em 2002 (títulos no Paulistão, no Rio-São Paulo e na Copa do Brasil, vice no Brasileirão), mas não teve tanto sucesso nas passagens por São Paulo, Atlético Mineiro, Santos e Internacional.

Bandas

O 4-2-2-2 utilizado por Paulo Autuori contra o Corinthians deu certo principalmente porque Tcheco, Souza e Fábio Santos procuraram jogar também pelas laterais do campo.

Não basta, portanto, desmanchar um esquema de três volantes, como o que o Inter vem utilizando, e simplesmente colocar mais jogadores de frente.

Como dizia o mexicano Hugo Sanchez, é preciso jogar pelas “bandas”.

Elegância

Campeão do mundo no comando de uma seleção com visíveis carências, Parreira nunca deixou o sucesso subir à cabeça. Ao contrário de treinadores que ainda têm que provar muito, sempre aceitou críticas e tratou a com elegância.