sexta-feira, 17 de abril de 2009

Golpe - anos de chumbo - Marcio Moreira Alves - Roberto Beling - Arthur Poerner

Arthur José Poerner e Roberto Beling, baluartes da educação como luta política, escrevem sobre os anos de chumbo e as mentiras

A seguir, textos de dois amigos do Correio da Lapa, Roberto Beling e Arthur José Poerner. São ambos exemplos de excelência não apenas como idealistas que valorizam a educação. São atuantes. Roberto Beling, que não conheço pessoalmente, mantém um site que está ranqueado neste blogue-jornal pela qualidade das reflexões acadêmicas e pedagógicas. Poerner, o mais carioca dos gentlemen, exerce há tempos uma liderança especial entre universitários e estudantes secundaristas. Poerner é patrimônio simbólico das lutas da UNE e viaja pelo país inteiro a convite da própria garotada para falar de educação e política. Ambos revivenciam os anos de chumbo.

Sem entrar no mérito ideológico - ambos são aguerridos socialistas, republico os emails que me enviaram para enriquecer o
Correio da Lapa e a experiência única que é sonhar e lutar para que outros possam viver em melhores condições do que pôde ou pode a maioria das pessoas desta nossa geração. A seguir, o material de Roberto Beling e, no post logo abaixo, o do querido Poerner. Aos dois, meus agradecimentos: Alfredo Herkenhoff:

Anos de Chumbo - “Cidadão Boilensen" - Marcio Moreira Alves 1968


Por Roberto Beling

Os anos de chumbo estavam no meu pensamento. Estava preparando um texto comentando o lançamento nos cinemas do documentário “Cidadão Boilensen”, filme que resgata e discute uma das ações mais espetaculares da esquerda armada, no final dos anos 60: o assassinato do então presidente do grupo Ultragás, o empresário dinamarquês naturalizado brasileiro, Albert Boilensen, por um “Comando” da Aliança Libertadora Nacional, A ALN de Carlos Marighella.

No dia 04 de abril, os jornais de todo o país noticiavam a morte de Marcio Moreira Alves e destacavam a centralidade de sua ação política nos acontecimentos alucinantes do 68 brasileiro. Lembrei-me, então, da importância de Marcio Moreira Alves para toda uma geração de brasileiros. Geração, essa, na qual me incluo e que tinha em Marcio uma referência e um exemplo de coerência, destemor e combatividade.

Comecei a escrever imediatamente, a recuperar minhas lembranças, a percorrer tempos idos e vividos, a lembrar o impacto da leitura de seus artigos e livros, da sua atuação no velho MDB da resistência democrática (não esse aí de Jader Barbalho, Renan Calheiros e José Sarney que aviltam e conspurcam uma legenda que foi um marco de luta e esperança), de seus discursos inflamados, de sua juventude que desafiava os limites das circunstâncias.

"Um discurso que mudou a história" é o resultado dessa viagem no tempo e nessa escavação da memória. O artigo é a principal “matéria” da edição dessa semana. Para quem não viveu os conturbados anos 60 será uma aula de história. Para um Brasil que não cultiva a memória é importante que o que marcou uma geração não caia no esquecimento.

Um discurso que mudou a história:

"Todos reconhecem ou dizem reconhecer que a maioria das Forças Armadas não compactua com a cúpula militarista que perpetra violências e mantém este país sob regime de opressão. Creio ter chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento de união pela democracia. Este é também o momento do boicote. As mães brasileiras já se manifestaram. Todas as classes sociais clamam por este repúdio às polícias. No entanto, isto não basta. É preciso que se estabeleça, sobretudo por parte das mulheres, como já começou a estabelecer nesta Casa, por parte das mulheres parlamentares da Arena, o boicote ao militarismo. Vem aí o 7 de setembro. As cúpulas militaristas procuram explorar o sentimento profundo de patriotismo do povo e pedirão aos colégios que desfilem junto com os algozes dos estudantes. Seria necessário que cada pai, cada mãe, se compenetrasse de que a presença dos seus filhos nesse desfile é o auxílio aos carrascos que os espancam e os metralham nas ruas. Portanto, que cada um boicote esse desfile. Esse boicote pode passar também, sempre falando de mulheres, às moças. Aquelas que dançam com cadetes e namoram jovens oficiais. Seria preciso fazer hoje, no Brasil, que as mulheres de 1968 repetissem as paulistas da Guerra dos Emboabas e recusassem à entrada à porta de sua casa àqueles que vilipendiam-nas. Recusassem aceitar aqueles que silenciam e, portanto, se acumpliciam. (...) Creia-me Sr. Presidente, que é possível resolver esta farsa, esta democratura, este falso impedimento pelo boicote. Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre os civis e os militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte a democracia. Só assim conseguiremos fazer com que os silenciosos que não compactuam com os desmandos de seus chefes sigam o magnífico exemplo dos 14 oficiais de Crateús que tiveram a coragem e a hombridade de, publicamente, se manifestarem contra um ato ilegal e arbitrário de seus superiores.” (Câmara, sessão de 2 de setembro de 1968) (...)

Para ler a íntegra do que produziu Roberto Beling sobre aquele período crítico, acessar o seu site histórico e pedagógico, anotando o seguinte endereço>

http://www.robertobeling.com/principal/

E no post a seguir, o texto de Poerner sobre o Golpe da Mentira em 1964...