domingo, 8 de março de 2009

DIA INTERNACIONAL DA MULHER BELA DA BOLA



MARILENE DABUS,


A MULHER NÚMERO UM DO FLA





Deu no Site Bela da Bola, neste domingo, uma entrevista reverenciando a mulher mais importante do time mais popular do Brasil. O Correio da Lapa endossa a homenagem e republica o texto.

Marlilene Dabus tem na Gávea uma trajetória que deveria ser contada em livro. Aos 69 anos de idade, com 40 de profissão, Marilene anuncia que fica no Flamengo até o fim do mandato de Márcio Braga e que, depois, se aposenta. Sua vida será dedicada ao descanso, aos amigos e ao seu amor mais querido e companheiro: o cãozinho Tererê San. Mesmo assim, nunca deixará de torcer para aquele que, depois de uma vez, sempre será Flamengo.

Pioneira no futebol

Paixão pelo Flamengo

Por Pamella Lima
www.beladabola.com.br



No Dia Internacional da Mulher, apresentamos a pioneira, em muitos aspectos e circunstâncias, Marilene Dabus. Com uma trajetória admirável (e até invejável), Marilene sempre conseguiu casar sorte com competência. Dona de um carisma e habilidade social que lhe abriam portas, ela soube retribuir o destino com dedicação e profissionalismo. Apaixonada incondicionalmente pelo Clube de Regatas Flamengo, esta carioca por opção mudou o esporte com seu sorriso e cílios postiços. Guerreira, aos sessenta e nove anos, é a chefe da assessoria de imprensa do Flamengo e do presidente Márcio Braga, a quem considera um grande irmão.

Com vocês, senhoras e senhores, a trajetória no futebol de Marilene Dabus.

BB: Desde pequena, você gostava de futebol?

MD: Eu gostava porque eu tinha um tio, irmão da minha mãe, que jogava bola em Caxambu e que até foi campeão pelo Flamengo em 1939. Eu tinha uma ligação grande com ele e ficava vendo os álbuns que ele tinha com os outros jogadores. O meu irmão mais novo era muito meu companheiro e íamos juntos ao Maracanã, jogávamos na praia. Mais jovem, eu ia à praia no Castelinho e meus companheiros eram João Saldanha, Sandro Moreira, Sergio Noronha, pessoal ligado ao futebol.

BB: E como foi esse pulo para o jornalismo?

MD: Um dia me telefonaram da TV Tupi querendo saber se eu queria responder sobre futebol no programa “Vença com o Vencedor” comandado pelo Blota Jr. Isso foi de 68 para 69, fui aprovada e comecei. Quando comecei, eu assumi que sabia falar sobre Flamengo e não sobre futebol, então a torcida ia toda com bandeiras, com gritaria. Foi o maior sucesso. Dei varias entrevistas, porque passou a ser notícia uma mulher falando sobre o Flamengo, sobre o Futebol. Foi uma novidade que deu muito ibope.

BB: E depois você trabalhou nos principais jornais da época.

MD: A Danuza leão, minha amiga, me ligou falando que o Samuel Wainer da Última Hora queria falar comigo. Eu disse a ele que não sabia se iria funcionar, mas ele me lançou com pompas e circunstâncias, fotos, capa... Depois, eu fui para o Jornal dos Sports e eu fazia muita televisão também. Haroldo de Andrade, da Cidinha campos...

BB: E mudou completamente a sua vida?

MD: Mudou a minha vida completamente. Antigamente, eu jogava muito, tinha uma vida social intensa e eu entrei num outro mundo, outra gente. Passei a conhecer gente de jornal, de imprensa, numa época pré-AI-5 e eu testemunhei a prisão de amigos. A minha visão de vida mudou muito com tudo isso.

BB: E depois veio a FAF - frente Ampla do Flamengo e...

MD: Em 1976, o Magaldi, da propaganda da TV Globo, me telefonou falando que o Walter Clark queria formar um grupo para entrar e ter um presidente no Flamengo. Eu comecei a trabalhar com eles, procurando um nome até que surgiu o do Marcio Braga, que era meu amigo de infância. Fizemos uma linda campanha em uma época que não tinha eleições no Brasil e ela foi acompanhada com muita expectativa. Ganhamos, larguei o jornal e fui fazer uma coordenação social no clube. Fiz o Baile Vermelho e Preto que foi o maior sucesso. O Flamengo virou moda no Rio de Janeiro e vinha numa ascendente no futebol. Eu Fiquei com o Márcio até 1980 quando acabou seu mandato, fui fazer assessoria política para ele quando foi deputado federal.

BB: Essa sua disposição, nunca te atrapalhou na vida pessoal?

MD: No princípio, tinha muito preconceito, não dos jogadores e dirigentes, apenas alguns que achavam que podiam me cantar, mas com jogo de cintura você coloca para escanteio. Eu tive mais rejeição por parte da imprensa, não pelos tops como Armando Nogueira ou João Saldanha que, inclusive, eram meus amigos, mas os setoristas, talvez porque vissem em mim uma ameaça. Eu acho incrível que esse espaço que eu abri, não foi amplamente aproveitado pelas mulheres.

BB: Como você lidava com isso, essa sua relação com os outros jornalistas?

MD: A Desculpa que eles tinham antigamente era a de que mulheres não podiam entrar no vestiário, mas eu nunca precisei disso. Mas, eu tinha jogo de cintura, eu sabia que tinha competência. Além disso, eu tinha as costas largas, o Samuel Weiner me dava todo apoio e os meus editores também. Hoje em dia, uma das facilidades que eu tenho para exercer minha função é que todos eles que trabalharam comigo, se encontram hoje em cargo de chefia ou são colunistas, Fernando Calazans, Renato Mauricio Prado, Marcio Guedes, José Trajano.

BB: Você esteve ao lado dessa geração de ouro do jornalismo esportivo?

MD: O irmão do João Saldanha, Aristides, era casado com minha tia. Então desde os doze anos que eu conheço o João. Então, tínhamos uma relação de família. Uma vez, eu fui fazer o treino da seleção Brasileira, quando cheguei, perguntei que horas poderíamos entrar e ele me chamou para almoçar com ele enquanto o treino não era aberto para entrevistas. Com isso, fiz uma grande matéria exclusiva com o Pelé. Os jogadores estavam dormindo e ele desceu e perguntei se podia fazer uma matéria com ele. Quando cheguei à redação todos ficaram assustados com o fato de eu ter conseguido fazer uma exclusiva com o Pelé. No dia seguinte foi um grande furo de capa. O Sandro Moreira era um grande amigo, íamos à praia juntos, o Fernando Horácio... Mas, eu nunca misturei trabalho com minha vida afetiva, assim não tem briga, não tinha promiscuidade. Eu não sou contra de casar com pessoas do trabalho, mas eu era camarada dos companheiros de imprensa, nunca namorei ninguém.

BB: Mais que o Futebol, a sua paixão é mesmo pelo Flamengo, não é?

MD: Hoje em dia eu nem ligo para o futebol, o que me emociona é a torcida do Flamengo. Sou apaixonada por ela. Eu fico doida. Eu não assisto mais o jogo hoje por dois motivos: porque o futebol ficou muito feio e porque o meu coração não agüenta mais. Durante o jogo, eu passeio com o meu cachorro, Tererê San, na orla da Lagoa. Eu tenho paixão pelo clube, pelas tradições, pela responsabilidade social e afetiva que ele tem na vida das pessoas.

BB: O Futebol também mudou bastante...

MD: Quem viu Pelé, Garrincha, Didi, Nilton Santos, Zico jogar não consegue assistir o futebol de hoje. Esse jogo de choque, de tática sem talento. Às vezes, acho mais bonito uma jogada de efeito do que um gol em si. Eu gosto de futebol arte, futebol bonito. Gostava de ver o Denner jogar, mas infelizmente ele morreu naquele acidente.

BB: Qual foi a matéria que mais te marcou?

MD: Eu fiz a primeira matéria do Zico, na casa dele em Quintino. Desde as divisões de base, ele já despontava como um craque e fui lá pelo Jornal dos Sports. A capa dizia assim: “Hoje ele é o irmão do Edu, amanhã vocês ouvirão muito falar dele”. Acho que essa a do Pelé foram as mais importantes que eu fiz. Mas fiz outras com Jairzinho e Paulo Cesar também.

BB: Como é a sua rotina hoje com a responsabilidade de chefiar a assessoria de imprensa do Flamengo?

MD: Deus foi muito generoso comigo. O dia a dia é muito desgastante. Eu acordo às 7h, o Marcio me liga todo dia para despachar às 7h. Mando email para torcedores, coloco noticias no site. Faço o clipping e só depois faço as minhas coisas. Quando volto, fico à disposição até as oito, nove da noite. Assisto aos programas de TV. Toda a comunicação com a imprensa eu que faço ou por email ou por telefone.

BB: O que o Márcio Braga significa para você?

MD: Ele é um irmão. Nossas mães eram amigas quando éramos crianças e trabalho com ele há mais de 30 anos. Somos parceiros, temos uma identidade de pensamento. É como se fosse um irmão.

BB: Você sente-se realizada por tudo que já fez?

MD: Acho que fiz um bom trabalho, desempenhei um bom papel em várias etapas diferentes. Hoje eu faço o que gosto, principalmente porque o Flamengo me dá muito essa motivação. O Flamengo me dá essa motivação de lutar, até porque trabalhar aqui é uma luta diária, de sobrevivência. Eu luto pelo Flamengo, eu ligo para as pessoas para defender o Flamengo. Eu fico indignada quando eu vejo que uma notícia que não tem procedência e eles não consertam, eu vou à loucura. Tem várias notas oficias que mando para a imprensa, para os sócios, que publico no site.

BB: Que conselhos sobre a profissão você daria a quem está começando?

MD: Integridade e verdade não têm muito mistério. Tem que ter uma boa cultura, ler jornal, se interessar, ter uma boa relação com o texto. Mas, como em qualquer profissão, com respeito, verdade e integridade. A credibilidade é a coisa mais importante que você adquire no seu trabalho. Quando eu passo um email para a imprensa, aquilo é noticia oficial, ninguém refuta, pode ser a favor ou contra. Mas para o jornalista, a credibilidade é a coisa mais importante.

As fotos são do arquivo pessoal de Marilene.