HÉLIO OITICICA - (dirigindo-se com deboche ao jornalista Alfredo Herkenhoff, acabando de ligar o gravador na mesa de centro de sala entre sofás de couro).
- Não adianta fazer perguntinha pra depois ir contar pra Caetano Veloso...
NdA: o deboche tinha uma razão de ser. Na ocasião, eu cutucara Caetano Veloso, numa conversa despretensiosa no Baixo Leblon, dizendo que Hélio Oiticica estava de volta e que havia observado o seguinte: no Brasil daquele momento, parecia que tropicália era movimento inventado pelos baianos, quando era anterior – 1966 ou mesmo antes - , e Caetano, meio blasé, limitou-se a sorrir dizendo: Hélio diz que o que faz é música. Mas John Cage já havia dito: “I hate harmony” – na verdade a frase mais famosa do músico experimental americano é: “I certainly had no feeling for harmony”.
Mas, qual moleque de recado, contei esse diálogo a Hélio Oiticica, que viu na pequena história mais uma pequena fofoca do que discussão frutífera ou o que fosse, afinal ele e Caetano sempre foram admirações mútuas.
E segue o início da primeira fala de Hélio Oiticica:
"Mas a última vez que eu vi Antônio Dias foi lá em Nova Iorque, eu fazendo um filme do qual Christine faz parte. Chama-se Agripina é Roma Manhattan, um filme que não tem montagem. São takes, assim, em super oito, de três minutos. Vou juntar todos e fazer um strip porque, pra mim, montagem é coisa muito velha, que não me interessa. Quando filmo três minutos, é um filme, penso em usar tudo. Nunca penso em cortar e juntar como se fosse costurar ou cozinhar. Aliás, o Godard fez uma coisa gozada. De restos de um filme ele fazia mais quatro filmes (...)"