A perda do acervo do artista plástico Hélio Oiticica, atingido por um incêndio na madrugada de sábado, foi menor do que a estimativa feita inicialmente pelo irmão do artista, César Oiticica, que avaliava anteontem que pelo menos 90% do artista havia siso consumido pelo fogo. "Quando a gente olha tudo preto, parece que tudo se acabou, mas quando vamos abrindo as caixas chamuscadas, vamos achando obras. Melhorou bastante de ontem para hoje (de sábado para domingo).", disse o curador do Projeto Hélio Oiticica e sobrinho do artista, César Oiticica Filho.
De acordo com ele, foi "precipitado" fazer a estimativa anterior e também o seria fazer outra agora, sem um estudo maior por parte de restauradores, com laudos. Os gases na sala do primeiro andar da casa no Jardim Botânico, na zona sul do Rio, onde ficava a maior parte do acervo do artista, ainda prejudicavam a respiração de pessoas no local ontem. Outro fator que dificultava o levantamento da situação era a falta espaço em condições para se abrir totalmente as obras encaixotadas.
"Praticamente todos os metaesquemas (obras em papel) na mapoteca podem ser salvos. Tem alguns que estão intactos", disse. Foram encontradas obras maiores também. " Alguns bilaterais, apesar de estarem chamuscados, estão inteiros. Achamos dois relevos espaciais que a restauradora disse que vai dar para recuperar. Tem dois bólides inteiros. Outros só não estão inteiros porque o vidro estourou, mas podem ser restaurados. Também encontramos núcleos em caixas". Outra descoberta positiva foi a de negativos do fotógrafo José Oiticica, pai de Hélio.
Existem dois parangolés, tipo de obra para se vestir, usar como bandeira ou estandarte, que se imaginava ontem que estivessem totalmente perdidos, mas que foram salvos por estarem em uma exposição na Bélgica. "Infelizmente, os bólides tinham acabado de voltar da Holanda", disse o curador.
Instalações
Na garagem da casa, contou, há instalações maiores preservadas. Também citou que no Centro Municipal Hélio Oiticica, no centro do Rio, estão grandes penetráveis, obras em que o público pode entrar, que participaram da última exposição, que foi de dezembro do ano passado a abril e depois novamente apresentada em julho e agosto. Entre as obras no Centro, disse, estão "Éden", "Rijanviera" e uma cópia de "Tropicália".
O curador afirmou também que entregará esta semana as chaves da reserva técnica que está fechada com algumas dessas obras no Centro Municipal. De acordo com ele, o Projeto Hélio Oiticica gastava só de Museologia e Pesquisa R$ 8 mil por mês e, incluindo, outros despesas mais que R$ 20 mil.
César Oiticica Filho agradeceu o apoio do Ministério da Cultura e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) no trabalho de procurar e recuperar as obras que estavam no incêndio. "A obra de Hélio Oiticica não vai morrer", afirmou. Há uma parte de obras do artista plástico no exterior, em coleções particulares e em museus no País.
Por Adriana Chiarini, do Estadão