segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
Livro e editora, tempo, aflições e amadurecimento
O tempo dos livros
"Por que livros demoram tanto?", me perguntou um autor num tom aflito.
Essa pergunta é irrespondível. Cada livro tem seu tempo, e é preciso respeitá-lo. É preciso aprender a caminhar com o livro. Aprender que ele nos mostre o caminho. Não adianta ser caprichoso com ele. Um livro não atende as nossa vontades. Atende somente às suas vontades, que são muitas.
A convivência com livros me mostrou que todos são aparentemente iguais e inteiramente individuais. Como os seres humanos, os livros se parecem por fora, mas por dentro, são distintos. Podem conter páginas e palavras, mas o conteúdo dita o seu peso.
O caminho para se fazer um livro começa na irremediável criação. "As palavras fluem, os poemas nascem prontos", me disse outra autora, me explicando a urgência de publicá-los.
Eu sei, eu sei, é assim mesmo, os poemas ovíparos nascem prontos, como os ovos. Já os poemas vivíparos, são lapidados, um a um, como diamantes. E cada releitura os lapidamos um pouco mais, me explicou outro poeta que publiquei. Quanto se aprende com esses autores!
Mas, e tempo do livro? O que determina quanto ele demorará a ficar pronto? Isso nem o melhor astrólogo poderá responder, pois livros têm sua maturação prescrita nas folhas das árvores de onde são colhidas as suas páginas. Livro é matéria viva, não é um objeto, é um ser, por isso, vive como quer, faz o que quer, e nós somos os intermediários entre pensá-los e publicá-los.
Dê tempo ao livro. É tudo o que ele precisa para ficar pronto. Não o apresse, não o afobe, não o aflija. Ele precisa de tempo para evoluir, crescer e adquirir a sua forma. Há livros que nascem prontos, outros se fazem lentamente, com o passar de meses e anos. E se tentamos acelerar este processo, acabaremos por danar sua construção.
Meu autor conformou-se ao me ouvir dizer: "Vamos dar tempo ao livro, e fazê-lo sem pressa". É o único modo de termos certeza de que ele ficará perfeito.
By Thereza Christina Rocque da Motta em 6 de fevereiro de 2010 no Rio de Janeiro.