domingo, 26 de abril de 2009

Um poema para o magistrado Joaquim Barbosa

Filhinho de Papai Estado

Por Alfredo Herkenhoff

A justiça do seu país parece um hímen complacente

Parece uma menina que gosta de estuprador

Quanto mais lenta é, mais lenta tem prazer em ser

Quanto mais canalha a desafia

Mais se regozija na selvageria

A justiça do seu país é a vergonha da cultura

É a tortura dos prazos e das formalidades

Parece brincadeira de funcionário da coisa pública

A justiça do seu país não apressa o passo diante da boa fé

A justiça do seu país ajuda o Estado a produzir filas

Aprova anos de espera, anus estuprados em pequenas celas

Mas a justiça acha que não é com ela

Acha que o Estado é pai, parece filhinho de papai

A justiça ameaça tudo e todos

o delegado, o soldado, o rábula, o prefeito e até o presidente

Ameaça principalmente a gente humilde que devia proteger

Entre rompantes, a do seu país é muito escrota

É muita gente pobre na cadeia

E ricos fora com ritos, prazos e agravos de instrumento

Protege quem não é jumento, desde que dê coice,

Distribui afagos entre datas vênias e requerimentos

A justiça cumpre risonha a lei

Mas se eu fosse da do seu país não dizia o que digo

Eu flanava de recesso em recesso sem nenhum perigo

Eu procuraria esconder a impotência na aplicação da lei

E se me viesse um peso na consciência

Eu não chorava e nem me matava

Muito menos rasgava a toga em praça pública

A justiça brinca com a vida enquanto o querelante morre

Brinca com adiamentos enquanto o querelante morre

Brinca com a chicana enquanto o querelante morre

Brinca com o advogado do ladrão enquanto o querelante morre

Brinca com a vítima enquanto o ladrão nem se apresenta

O ladrão manda alguém com procuração porque não tem tempo a perder

A justiça do seu país desanima tudo

Até o carnaval fica sem graça sob a tutela da do seu país

A justiça do seu país ainda será best seller

No mercado pedagógico de livros futuros sobre erros passados

Tchau! eu aqui volto mais não

E quer um conselho? Faça concurso de juiz

Os concursos são maravilhosos!

A justiça do seu país não lê jornalistas

Prefere inocentar os proprietários do FGTS alheio

Prefere liberar empréstimos do BNDES deles

Prefere exigir compostura formal

Prefere marcar mais uma audiência

Prefere se achar justa

Enquanto ninguém acredita nela

E o querelante morre