segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Caso Sean, amor e ódio em torno de uma criança

O que me chamou a atenção no caso Sean

por Paulo Nogueira |

Deu na Revista Época

Com o pai antes da confusão: a disputa foi motivada por amor de ambas as partes

ACOMPANHEI A história de Sean Goldman pela mídia estrangeira, sobretudo a americana. Vivo em Londres, e meu trabalho está conectado à situação internacional. Minhas leituras jornalísticas concentram-se quase que 100% nos noticiários de fora, sobretudo os ingleses, e em parte os americanos. Como assinalei no texto anterior, me chamou a atenção, negativamente, o tom exacerbadamente patriótico e claramente maniqueísta dado pela maior parte dos jornalistas americanos ao assunto. Parecia o bem contra o mal e quando é assim as decisões ficam mais fáceis. Mas não era este o caso. Como também escrevi, para mim era um segundo choque negativo em pouco tempo. Pouco antes, também fora rasamente nacionalista o tom dado ao julgamento na Itália da estudante americana Amanda Knox, condenada a 26 anos pelo assassinato de Meredith Kercher, com quem rachava uma casa em Perúgia, cidade universitária. Amanda foi tratada como vítima pela mídia americana, numa absurda inversão de papéis.

Para que fique claro. Sou, há longo tempo, um admirador da mídia americana, para mim uma das melhores do mundo. Não passei um único dia de minha carreira, desde que ingressei na Veja garoto ainda em 1980, sem ler e consultar revistas americanas. Depois da BBC, ninguém faz jornalismo tão bem quanto o New York Times. Aprecio, além disso, amplamente o espírito americano — empreendedor, democrático, meritocrata, informal. A flexibilidade da sociedade americana é exemplar: o dinheiro pode mudar de mãos se quem nasceu com muito for inepto e quem nasceu com pouco trabalhar firme e bem. Muitas vezes, embora nem sempre, os Estados Unidos combateram o bom combate, como quando enfrentaram o nazismo e o imperialismo soviético, ou, em menor escala, quando fizeram carga contra o Muro de Berlim. De antiamericano nada tenho, portanto. Em minha carreira muitas vezes fui chamado de americanófilo, até por quem não sabia o significado disso. Se há preconceito em mim, é a favor dos Estados Unidos, e não contra para quem queira tirar a limpo minha afirmação.

Isto posto, não sabia, ao chegar ao Brasil para as festas de fim de ano, o quanto o caso Sean apaixonara brasileiros e americanos. Só tive consciência disso na repercussão do texto que escrevi ontem, em que falava do Natal duro a que estava condenada a avó do garoto. Se antes já me impressionara a falta de objetividade dos jornalistas americanos, outras coisas me surpreenderiam depois. A primeira, a maior delas, foi o ódio de muitas pessoas à família brasileira de Sean. Sei o quanto é difícil gostar de advogados, ainda mais bem sucedidos, como é o padrasto brasileiro de Sean. E sobre avó materna que disputa com o pai a atenção de uma criança, bem, minha história é longa e não cabe contá-la aqui.

Mesmo com todos os descontos dados a assuntos por natureza explosivamente emocionais, me deram um calafrio certas reações desumanamente odiosas contra quem, afinal, foi derrotado numa causa tão complexa, em que o principal componente foi o excesso de amor. Muita gente, nos comentários ao texto de ontem, desejou que a avó sofra imensamente, e isso porque era Natal. Algumas pragas foram escritas em letras maiúsculas, o que significa berro. É inútil desejar sofrimento a quem com certeza sofrerá, mas isso não deteve quase ninguém. Também li que o lado brasileiro usou o garoto para certas fotos dramáticas. Pode ser, embora ache que isso se deva a desespero e não a cálculo. Mas por que medir de outra forma a imagem sorridente de Sean ao lado do pai? O que aconteceu aí, a meu ver, foi o duelo do marketing da infelicidade contra o marketing da felicidade, sendo que o último é desnecessário, uma vez que a causa já foi vencida.

Outro ponto que sublinharam nos comentários foi o papel da mídia brasileira, “tão parcial quanto a americana”. Não acompanhei o caso pelos veículos brasileiros, como expliquei no primeiro parágrafo, mas de ontem para hoje pesquisei razoavelmente. Não vi, em nenhum lugar, a versão do pai tão bem contada como num vídeo de 7 minutos do Fantástico, que achei no twitter. Ninguém faz uma reportagem daquelas quando o objetivo é ser parcial; basta não dar voz ao pai se você quer contar apenas a parte do drama que convém. Quem contava a história, ali, era ele mesmo, o pai, numa conversa com um repórter na casa (muito boa) que será de Sean. O vídeo está aqui.



O que vi e ouvi reforçam minha impressão de que a justiça acertou: ali emerge um pai amoroso, dedicado, com plenas condições de dar uma vida boa ao filho. Se isso não ocorrer, todo mundo logo saberá, dada a notoriedade do caso. Também ficou reforçado em mim o sentimento de pena pela avó brasileira, que não apenas perdeu a companhia do neto, já tendo enterrado a filha, como conquistou a raiva assassina de muita gente — e não estou falando apenas de americanos. O sociólogo Sérgio Buarque de Holanda definiu no livro Raízes do Brasil, de 1936, o brasileiro como um “ser cordial”. “A cordialidade, a lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam um traço definitivo do caráter brasileiro”, escreveu ele. Talvez não seja tão definitivo assim. É possível que se ela fosse pobre as reações fossem mais generosas: faz parte do caráter moderno brasileiro, pós-Raízes do Brasil, o ódio contra ricos e contra uma elite que basicamente inclui quem tem mais dinheiro que a gente, ou achamos ter. Pai e filho provavelmente se redescobrirão rapidamente, é é bom que assim seja. A casa em New Jersey, que se vê na reportagem do Fantástico em detalhes, é perfeita para um pai e um filho se esbaldarem. Para a avó, os dias e as noites serão longos, frios e escuros.


Comentários para “O que me chamou a atenção no caso Sean”

Claudio:
28 dezembro, 2009 as 7:47 pm

O Sean foi pra casa com o pai dele…la…la…la… A familia materna e o padastro se ferraram….la…la….la….

O proximo capitulo o padastro vai arrumar uma namorada e afilha dele vai chamar de mamae e a vovo vai pirar…la…la…la.



Maria:
28 dezembro, 2009 as 7:31 pm

Assisti varias vezes a entrevista do David Goldman em Ingles; (como leio, escrevo, falo e escuto perfeitamente em Ingles, quero corrigir algumas inverdades que foram ditas pelo IBSON (quero acreditar que pelo desconhecimento do Ingles)…

Em primeiro lugar o David, quando a reporter perguntou se o Sean o chamava de pai, ele respondeu, ainda nao, a reporter perguntou de que ele te chama, David respondeu, ele nao me chama David, pai…A reporter perguntou, e vc? Como chama o Sean? Davi responde, chamo de filho, “buddie” e as vezes Sean….Dai o David argumentou com a reporter que sabia o quanto o filho estava conflito internamente com toda aquela violencia sofrida pelos anos em que ele nao pode ver o filho implicitamente percebemos o quanto o pai sofre tb pelo fato do filho ter sofrido alienacao parental imposta pela familia Brasileira.

Em segundo, o pai relata como foi seu encontro no consulado com a Silvana Bianchi e aqui fica registrado o quanto o David eh amororo, perdoador, excelente carater, bem ao contrario da laia baixa dos Bianchis e Lins e Silva.

Davi falou que quando a Silvana Bianchi entregou o Sean ao david, pediu a ele que a deixasse visitar o menino ao que o MAGNIFICO, GENTIL e amavel

Davi respondeu: “Deixo sim, nao vou fazer contigo o que vcs fizeram comigo todos esses anos…agora diga a verdade ao Sean, diga o quanto eu fui, sou e vou ser um bom pai para ele” (aqui o david implicitamente diz para aquela bruxa caluniadora e mentirosa, que ela, pelo menos um dia em sua vida, seja verdadeira e fale a verdade negada ao Sean: que David foi, eh e sera um bom pai).

Depois o David deu um abraco nela (Silvana) na frente do Sean. A reporter chocada com esse relato perguntou ao David: Why? Pq vc fez isso. Davi respondeu: Pelo Sean, fiz isso pelo Sean!!!

Gente! Tem como nao amar o David? Eu no lugar dele daria um soco na cara da Silvana Bruxa…mas o LINDO david, por amor ao filho e para nao traumatiza-lo mais do que ele ja tinha sido violentado pela familia dos Lins e Silva e dos Bianchis, abracou sua algoz por tantos anos!

Isso sim eh amor, desprendido, absoluto, imenso, sem egoismos de um verdadeiro pai. Ao contrario do david, a familia criminosa sequestradora (Bianchs e Lins e Silva) pelo seu egoismo, maldade preferiram submeter o Sean aquele traumatico caminhar em meio ao turbilhao de fotografos.

Amanda:
28 dezembro, 2009 as 7:11 pm

A realidade do mundo midiático é essa. Não temos como deter o processo de informação e resistir. As informações chegam em nossas casas através de vários veículos.
Ninguém sairá impune dessa realidade. Nem quem se julga detentor da pena de talião e não quer opinar ,mas vem dar uma olhadinha por pura curiosidade.


IBSOM:
28 dezembro, 2009 as 6:45 pm

saiu hoje uma noticia que fala muito mais toque todos nos .

em entrevista exibida nesta segunda-feira no programa Today, da emissora de televisão NBC, David disse que Sean está contente em estar com ele, ( esse contente que David fala e que o menino esta feliz esta do lado do pai dele ) . Goldman afirmou ter dito a Sean que o garoto pode chamá-lo de “Papai”, ( mais o Sean falou que ele nunca vai ser pai dele de verdade) ate o sean saber que pai e aquele que cria e não aquele que colocou no mundo. quanto o pai falou isso o sean não não respondeu.

isso já fala como vai taque para frente com David

fim