O desemprego na globalização da crise
O desemprego é uma desgraça. Derruba o moral. Transforma a esperança de tempos felizes em gargalhada desesperada. Alcooliza.
O desemprego é um vazio que acomete uma pessoa adulta, infantilizando-a, como se pudesse fazer pirraça para ganhar um animal em extinção que é a carteira assinada, ou carteira assassinada.
O desemprego é a impotência diante do tempo e dos músculos. Sim, o jovem sabe que há trabalho, há tarefas possíveis, vender mariola, mendigar. Mas não foi preparado para ser criativo e dobrar o desassossego e os preonceitos, incluindo aqueles antigos, que qualificavam a pessoa desempregada como vadia.
A Central do Brasil, sem sombra de dúvida, é o local público no Rio de Janeiro em que existe a menor taxa de desemprego per capta. Isso dá ao lugar um ar de vitória, de otimismo, de alegria, de convicção, de passos firmes. Mesmo quem comemora a cada fim de tarde o dia bem-sucedido, bem trabalhado, bebendo quiçá uma dose a mais, jamais cambaleia. Na Gare Dom Pedro II, todo mundo parece saber o que quer, seja ir, voltar, chegar, caminhar. Mas, diferentemente de uma cidade como São Paulo, tão laboriosa, metrópole que tanto cultuou o lema “não pode parar”, a Central pode tudo e pára. A Central é um termômetro do ânimo carioca.
(trecho do livro inédito Central do Brasil no Século 21 - de Alfredo Herkenhoff)