segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Editorial: Sarkozy & Lula, pre-salt & Hugo Chávez


Helicópteros! Helicópteros! Helicópteros!
Precisamos de mais helicópteros!


GOSTEI DESSA, LULA

Considerações sobre o Brasil em suas necessidades de defesa e deslocamentos militares profissionais


Em vez de trazer consigo aquele avião que é a primeira-dama Carla Bruni, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, trouxe máquinas de guerra, contratos envolvendo helicópteros, caças e submarinos, incluindo nucleares e incluindo transferência de tecnologia para futura construção de novos submergíveis por aqui mesmo no Brasil. Em vez do fromage, um queijo brie, Sarkozy traz promessas para ajudar o país de Lula a entrar no Conselho de Segurança da ONU. Em vez de trazer o charme de Paris, traz as aflições humanas que, por vezes, são amenizadas por meio de armas de guerra.


O Brasil precisa sim vigiar o mar, evitar que ladrões estrangeiros roubem o ouro negro guardado no cofre escondido a 7 mil metros de profundidade, precisa sim evitar incursões alienígenas nas nossas fronteiras amazônicas, sejam índios cocaleros de Evo Morales, comunistas urbanos de Hugo Chávez ou narcotraficantes e comunistas das montanhas na arregimentação das FARC.


Este é o quadro caricato, esta a fantasia.

Sim, meio século depois do fim da Segunda Guerra, já se sabe: Forças Armadas eficientes neste início de milênio precisam ter capacidade de deslocamento rápido, de reagir a situações de risco e capacidade de informação, serviço de inteligência que anteveja possíveis cenários de operação. Oficiais das Forças Armadas do Brasil precisam trabalhar em cooperação com universidades, centros de pesquisas, instituições e empresas, dentro e fora do Brasil.

Helicópteros de transporte de tropas, ótimo. Sempre haverá situações de risco amazônico, quedas de avião num território continental, enchentes, tragédias, imprevistos diversos, pequenas incursões desses grupos paramilitares do universo bolivariano etc.


Submarinos nucleares? Há controvérsias.

Caças? Só em caso de guerra com a Argentina. Melhor cantar um tango, com Maradona llorando, é claro... Mas alguns precisamos, afinal pode chover Hugo Chávez por aí.

E submarinos? Consideremos: um modelo tradicional, tipo o que Júlio Verne idealizou no século 18, é realidade histórica, há muito mais de 100 anos operando nas Marinhas, antes do Hemisfério Norte. Hoje esses pequenos dinossauros a diesel ficam uns dez dias debaixo d'água, mas são barulhentos, ineficazes contra armas letais para o fundo do mar. Essas naves velhas são uma Disneylândia para jovens oficiais de diversas Marinhas de nações pobres. Brasil se inclui aí.

Os nucleares, em operação há décadas, estão ficando rapidamente cada vez mais sofisticados. Ficam submersos por meses sem vir à tona. Não fazem barulho nenhum. Um grande submarino nuclear, armado ou não com artefatos nucleares, mas com sistema de energia alimentado por reação atômica de urânio, faz tanto barulho quanto o ruído de uma agulha fina ao penetrar numa manteiga num dia de verão no Rio de Janeiro.

Mas de que nos serve um aparelho desses? Quem os fabrica já faz outros melhores. Essa tecnologia que a França cede ao Brasil, num pacote, a um custo inicial de 10 bilhões de dólares, é quase estado da arte, guardando as devidas...

Ainda assim o acordo parece bom. Boa parte da riqueza está no mar. E pelo mar surgem sempre surpresas, boas ou ruins. Precisamos de submarinos, mas não ficou claro de imediato que transferência real de tecnologia do setor é esta que nos está sendo oferecida.

Toda tecnologia militar no Brasil precisa atender a pelo menos duas linhas básicas: defesa e deslocamento rápido. No mar, não existe nada abaixo da Linha do Equador capaz de impedir o deslocamento de uma força-tarefa do Norte: uma esquadra americana, por exemplo, com porta-aviões, helicópteros 24 horas no ar ao redor das embarcações na periferia da esquadra, com navios pequenos e grandes, submarinos protegendo tudo na parte de baixo, e tropas nos grandes cargueiros navegando no meio do conjunto, sob proteção de tantos armamentos... O que fazer? Nada. Em quatro semanas, Washington pode acabar com qualquer defesa em qualquer praia do mundo. Por isso, porta-aviões, para nossas necessidades, é quase uma brincadeira romântica, nostálgica. E e França nos empurrou o porta-aviões São Paulo, um sucatão, há poucos anos... Já uma tropa incursora se manter num terreno esturricado previamente é outra história, vêm as guerrilhas.

Só uma dissuasão nuclear poderia, por exemplo, parar os americanos hoje num avanço militar especifico. Mas estamos muito mais próximos da cultura dos Estados Unidos do que imaginam alguns nacionalistas de plantão na fantasia de uma revolução internacionalista.

A democracia ocidental que integramos e que derrubou o nazismo está mais forte do que nunca. Seus principais detratores amam o modelo como o pior de todos, entre os únicos regimes toleráveis, como dizia Churchill. Moscou fez a perestroika contra a planificação centralizada da economia porque não se aguentou de inveja diante do que é mais eficiente, apesar de pouco solidário, um campo a crescer... A inclusão social etc. O presidente Lula tenta isso: equilibrar forças do Estado com as do mercado, apesar de errar bastante.

Então que venham os helicópteros franceses, latinos, ocidentais, românticos e eficientes. Que venham muitos, muitas dezenas. O Exército Brasileiro, a Marinha e a Aeronáutica agradecem. Precisam, precisamos, desses aparelhos.

A Embraer também precisa aprender a construí-los com tecnologia de ponta e própria. São essas aeronaves as peças mais eficientes das Forças Armadas de hoje e do futuro próximo. Tropas com treinamentos especiais, específicos, e tendo helicópteros prontos para operar 24 horas por dia, em qualquer ponto do território nacional. Isso é tudo de bom para a Independência do Brasil. São Forças Armadas assim com que sonhamos, forças militares muito mais construtivas do que destrutivas, muito mais de rápida proteção e rápida ajuda do que de dissuasão.

Tropas com poder letal sim, mas que estejam, na maior parte do tempo, desenvolvendo tecnologia e operações de solidariedade, forjando a história e o orgulho da brasilidade, ajudando na integração dos quatro cantos do país.

Gostei dessa, Lula... E defendo essa tese desde os anos 80, quando fui editor da Mesa Brasileira da agência de notícias UPI, United Press International.

Helicópteros! Mais Helicópteros!

Por Alfredo Herkenhoff