quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Guerra de Chávez começou: não é na mata da Colômbia, mas na mídia e contra a democracia dos seus maiores vizinhos


Um Tributo:

Eu Odeio Hugo Chávez

Por Alfredo Herkenhoff



E se um dia Chávez ameaçar uma guerra com o Brasil? Onde? Na fronteira onde só há a imensa mata instransponível? Bobagem. A guerra já existe e é de midia. O objetivo de Chávez é ganhar corações e mentes dos milhões de eleitores pobres nas maiores cidades de toda a América do Sul.

No domingo, Hugo Chávez empunhou uma Kalash, nesta quarta-feira, 5 de agosto, voltou a falar em "guerra" com a Colômbia e EUA e segurou uma senhora bazuca. Nesta quinta-feira, este Correio da Lapa rende um modesto tributo-troco ao ditador.

Vinte anos atrás, o ditador Manuel Antonio Noriega pegou um enorme facão (foto) e o ergueu na Cidade do Panamá
para afrontar George Bush Pai. Estava Noriega à frente de um governo dominado pelo narcotráfico, mas travestido de nacionalista. Ele gritou: "Que vengan los americanos". Noriega, que pouco antes teria mandado decapitar um de seus principais adversários políticos, foi apanhado em casa, de pijama, por marines na calada da noite, tal qual os militares hondurenhos fizeram com Manuel Zelaya semanas atrás. Noriega foi levado para Miami, onde cumpriu 18 anos de cana brava por tráfico, regime diferenciado, num porão, pior do que o presídio de Beira-Mar. Cumprida a pena, Noriega, velho e cansado, quis voltar para o Panamá, país que na verdade é apenas um protetorado americano, porque não tem nem moeda, tem um tal de balboa que ninguém vê, lá é só dólar, pobreza e Canal levemente estratégico ainda. E Noriega permaneceu na Flórida aguardando extradição para a França, onde novas penas o aguardariam.

Saddam Husseein, em três ou quatro ocasiões, empunhou um rifle, no começo deste milênio, e até deu tiro para o alto, dizendo a mesma coisa em árabe; Americano, pode vir quente que estou fervendo. O Iraque hoje é um horror, com mais morte do que fios de cabelo havia na cabeça do enforcado.

O ditador argentino, general Leopoldo Galtieri, também armado de uma 45 e umas doses extras de uisque made in Scotland, fez a mesma coisa, só que desafiava Margaret Thatcher, irritada em 1982 com a invasão das Ilhas Malvinas, ou Falklands. Salvo engano, Galtieri não empunhou o trabuco, mas em tom de deboche machista, e bêbado, perguntou ao cordão de nacionalistas também embriagados na Casa Rosada: Quem essa mulher pensa que é? Ou seja, pensava que estava falando com uma pessoa física, e não com a Royal Navy. E deixou a imprensa sob censura publicar o seu despautério, sinal de um despreparo.

Apesar da diplomacia do apaziguamento, apesar da diplomacia de ponte-aérea, apesar dos mediadores de plantão, dos diplomatas pacifistas, neste Mundo cada vez mais pop, com imagens cruzando fronteiras na velocidade da luz e alcançando lares de todo o planeta, insultar no estilo Youtube uma nação militarmente poderosa é complicado e, como no passado, ainda hoje costuma terminar mal.

Hugo Chávez age claramente para internacionalizar tensões, que são preâmbulos de um conflito que ninguém quer, só ele. E faz isso o tempo todo. Falou tempos atrás em tom de vanglória sobre operação conjunta Caracas-Moscou, acena para os seus amigos russos, comprou destes 5 bilhões de dólares em fuzis e tanques, e se estima que a compra em uma década e meia de poder tenha sido três ou quatro vezes maior, ou de 15 a 20 bilhões de dólares, incluindo jatos de guerra No Brasil, o Congresso está discutindo a compra de meia dúzia de caças desde o tempo do governo Fernando Henrique Cardoso. Aqui está tudo sucateado. E agora está no Brasil o assessor especial de segurança de Barack Obama.Veio explicar que o problema são as Farc e Chávez. Ofereceu até vender jatos com transferência de tecnologia. Os jatos tradicionais já são tecnologia de domínio público, apenas não vale a pena para a imensa maioria de países fazer tanto investimento se existe oferta fácil no varejo do mercado de armas. Porém com a Embraer de plantão e moderna....

Quem pensar que os 2 mil homens que Obama está prestes e enviar à Colômbia representem uma ameaça ao Brasil ou à região se ilude. O Brasil é inexpungável por terra ao Norte porque, pior do que os 2 mil metros da camada de sal no Pré-sal, existem lá uns 2 mil quilômetros de Pré-Salada Virgem, mata fechada, com malária, índio, quase nenhuma estrada, ou seja, só exuberância e problema, incluindo ecologistas, garimpeiros, guerrilheiros e ongs chatas.

A diplomacia brasileira, que já foi tão serena, já costurou a grandeza do território, hoje está dividida em duas seções. Uma é da cota pessoal de Lula, com aquele assessor especial Marco Aurélio Garcia, e a outra é a do tradicional Instituto Rio Branco, relegada porém a um segundo plano. Reconheça-se que Lula ampliou o comércio externo e faz um bom trabalho de aproximação com grande número de nações na Ásia, Europa e África. Tem seu méritos e são muitos nesse sentido.

Apenas aqui na nossa América é que Lula dá uma de rico e bonzinho com os vizinhos sacanas, todos pedindo mais e mais, mudanças bruscas nos contratos, como se o Brasil nadasse em ouro e fosse culpado de tudo, o pecador geopolitico, apenas por ser a nação mais unida e menos erodida.

E cada nação que pediu na marra, levou, Paraguai pediu e levou, Bolívia pediu e levou, Argentina pediu e levou, Uruguai está pedindo. Já a Colômbia não nos pede nada, só se explica. A Venezuela também nada nos pede, exige tudo, nada material, apenas dita normas para Brasília, que ou aquiesce ou dá vexame com silêncio ou omissão. O governo Lula cala a boca diante do boquirroto do Chávez. A popularidade do ditador parece estar crescendo muito mais depressa do que imaginam os liberais que o detestam. Chávez cresce na miséria que não é devidamente enfrentada nos países vizinhos.

Qualquer semelhança entre Noriega, Saddam e Chávez não será coincidência no futuro. Os americanos na Colômbia não vão entrar em combate, vão lá para fazer fofoca contra Chávez, vão lá com radares, satélites, hackers e experts em produção de mídia tipo youtube. A loucura pessoal ou personalista de Chávez agora será exibida em slow motion, alta definição e tempo real, com edição feita pelos Obama boys em Hollywood.

O Correio da Lapa passou a chamar formalmente Chávez de ditador porque perdeu a paciência. Ele era um desconhecido tenente-coronel quando, no início dos anos 90, deslanchou um fracassado golpe de estado dentro dos quartéis. Ficou uns dois anos na cadeia pela Intentona. Mas mesmo no xilindró militar passou a mandar no pais. Chávez, que agora pode ser eleito ad eternum, manda de fato na Venezuela há cerca de 15 ou 16 anos. A democracia que ele defende é tudo isso que ele espalha: ódio, tensão, falta de educação, intimidação, censura e espancamentos de adversários em plena luz do dia e nas ruas.