A lei da Ficha Limpa causou mais confusão do que depuração do processo eleitoral. Os nossos juizes deixaram concorrer candidatos na condição de sub judice. E assim, no Pará, o mais votado no pleito para o Senado, o atual deputado federal Jader Barbalho, e o terceiro mais votado, Paulo Rocha, tiveram seus registros de candidatura negados. O total de votos dos dois supera 50% dos votos válidos e são considerados nulos... E a lei diz que quando mais da metade é de nulo, deve ser realizada nova eleição. A barafunda afunda a imagem do Judiciário. Jader, cuja sorte ficou empatada em 5 a 5 no Supremo, aguarda decisão do magistrado substituto de Eros Grau, que se aposentou meses atrás, com a sua vaga se estendendo de modo a permitir esses empates curiosos. A verdade machuca. O Ficha Limpa apenas ampliou o poder dos magistrados de enfiar os pés pelas mãos, de humilhar, mesmo que sem intenção, ou bem intencionados, milhões de votos dados a candidaturas autorizadas por juízes na ocasião do pleito. Quem devia cassar o Ficha Suja era o eleitor, que troca voto por mariolas e outras promessas vãs e fartas em campanhas eleitorais. O Judiciário devia "caçar" os corruptos. Como está, não faz nem uma nem outra. Não consigo saber se no Maranhão, onde o govrnador Jackson PDT foi cassado pelo Supremo e substituído pela belezura da Rosenana Sarney, se o médico vitimado pela lei é menos ou mais ficha limpa do que a filha do ex-presidente. Do mesmo modo na Paraíba, onde foi cassado o jovem governador Cassio Cunha com base em denúncias de que propiciou um mini-bolsa-família, 4 milhões de esmolas ou 30 e poucos mil cheques para famílias pobres, mas com muitos votos. Do ponto de vista da ajuda, o que Cassio fez uma vez o governo Lula fez o tempo inteiro, 11 bilhões de reais ou mais apenas num ano em bolsa-familia, só que esta devidamente autorizada pelos legisladores e juízes. Enquanto isso, Sarney Ficha Limpa segue impávido representando os lídimos eleitores do Amapá. E cá no Rio de Janeiro, responda depressa, sem pesquisar: quem são os nossos três senadores hoje em Brasília, dois deles em fim de mandato? Tenho o pressentimento de que o Ficha Limpa, sucesso de público, de abaixo-assinado, foi apenas um rio que passou na nossa fantasia de limpar o galinheiro esquecendo que os galos continuam reinando e cantarolando no terreiro. Serão os nossos magistrados, na sua ampla minoria, tão emblematicamente honestos como a maioria dos nossos candidatos eleitos? Especulações... Democracia é isso. Vote mal, vomite bem.
( Por Alfredo Herkenhoff)