segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Falando mal de Niterói

Qualidade de vida é conversa fiada na Terra de Arariboia

Agora surge uma pesquisa dizendo que Macaé e Niterói são as cidades com os melhores indicadores de qualidade de vida no Estado do Rio. Niterói tem essa mania, há muitos anos, uns 20, de propalar que é quarta melhor qualidade disso e daquilo do Brasil, tudo patriotismo da Praia de Icaraí. O melhor lugar de Niterói é a ponte, um adeusinho para a bunda da estátua nua de Araraboia ali perto da Praça do Pedágio. Tchau!

Mas agora vem a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) exibir uma lista para confirmar que Niterói é o máximo: isso é estranho: a pesquisa apontou os 100 municípios com melhor índice de desenvolvimento municipal no Brasil. Macaé ficou em 57º lugar, e Niterói, em 66º. Na pesquisa, foram avaliados itens como educação, emprego e saúde.

Saúde em Niterói? Um escândalo.

Niterói, vizinha de São Gonçalo, só esta com muito mais de 1 milhão de habitantes e sem um bom hospital de emergência. A Grande Niterói, uma imensa aglomeração desassistida, apenas um grande hospital federal e funcionando "maomé"... O Universitário Pedro Ernesto. Horror.

De madrugada, quem levar um tiro na barriga em Niterói, ou São Gonçalo, tem de duas uma: ou correr para morrer no Pedro Ernesto ou subir a rampa da ponte e tentar algo no Centro do Rio, no Hospital Municipal Souza Aguiar, e com o trânsito totalmente desimpedido, como costuma estar de madrugada, talvez melhor seja correr para, em menos de 15 minutos, entrar no Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon/Gávea, que este sim salva muitas vidas de madrugada. De dia, pelo fato de se acentuar como maternidade, o Miguel Couto ficou meio degradado, no sentido de que muitas adolescentes da Rocinha, do Vidigal e adjacências vão ali em meio a novos sonhos, ou velhos pesadelos sociais, tudo temperado com a falta de informação e gravidez precoce.

Qualidade de vida em Niterói é conversa. Vai lá no Morro do Cavalão ver como vivem os filhos e herdeiros do famoso bandido Pão com Ovo. Só o nome deste Um Dois Três de Oliveira Quatro é um sinal ou sintoma de uma dieta social, a dele, comida e algemas, tudo gorduroso com cheiro de injustiça e enxofre, balas nos sinais de trânsito, projéteis nas vítimas de uma linda e indefesa Icaraí se assemelhando a Copacabana. O Morro do Cavalão foi apaziguado, a polícia entrou e tal, parece em paz, mas a favela da Rocinha também viveu uns 10 anos sem guerra, até que a violência reapareceu, re-eclodindo como uma recidiva mórbida a partir do início deste novo século. Favela montanhosa e apinhada de gente é um bomba imprevisível, parece pacificada, mas, de repente, Boom! Ou será que Sérgio Cabral terá batalhões para botar nas 600 favelas existentes só na cidade do Rio de Janeiro?

O melhor lugar do Brasil é qualquer um longe do Senado Federal. Aqui parece uma Niteroifobia, mas não, claro que Niterói tem muitos encantos e gente linda. O melhor lugar pode ser um botequim qualquer no Saco de São Francisco, em Niterói, ou pode ser qualquer aeroporto internacional de um país que já teve 260 aeroportos comerciais e hoje tem menos de 70.

Por Alfredo Herkenhoff

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