quarta-feira, 3 de junho de 2009
Airbus Air France Causa mortis Supertempesta Intertropical
Deu no belo jornal Zero Hora, do Rio Grande, terra pioneira da aviação civil brasileira com a querida e falida Varig, artigo de um piloto aposentado, observando especulativamente que um fenômeno gigantesco da natureza na Zona de Convergência Intertropical (imagem) seria a possível causa de desintegração do Airbus em pleno ar.
Como leigo, o Correio da Lapa, simples reflexo de nossas curiosas leituras internáuticas, indaga a partir do artigo do comandante se o desastre no meio do Atlântico não representa para a ciência um novo desafio nesses tempos de aquecimento global e formações meteorológicas de grandezas maiores e mais imprevisíveis do que admitidas até então.
A região do desastre não é nenhum Triângulo das Bermudas que tantas naves deglutiu, mas, vale lembrar, sempre de modo leigo, que aqueles megafuracões, que invadem anualmente o Golfo do México, costumam brotar ali onde acabou o voo 447, com 228 pessoas que decolaram do Rio de Janeiro para nunca chegar a Paris.
Leiamos na íntegra o artigo publicado nesta quarta-feia pelo Zero Hora:
Reflexões sobre o voo 447
Por Carlos Ari César Germano da Silva *
Duas informações veiculadas pela mídia chamaram minha atenção. A primeira foi uma foto de satélite mostrando a situação meteorológica na rota do voo AF 447. Observei a inusitada atividade da frente intertropical, localizada ora um pouco acima ora um pouco abaixo do equador. No inverno, ela se aproxima do Brasil, estendendo-se sobre o Atlântico Sul. Durante os cinco anos em que voei em Hércules na FAB, atravessei muitas vezes a intertropical sem qualquer problema. Não recordo, entretanto, de ter observado a frente tão ativa quanto na noite do desaparecimento do avião da Air France.
A segunda informação foi a transmissão automática à central da companhia de falha dos sistemas de pressurização e elétrico do avião. É preciso situá-la numa linha de tempo. Se foi emitida antes de o avião cair, isso indicaria que as falhas desses sistemas poderiam ter concorrido para o acidente. Alternativa pouco provável, pois envolveria falha simultânea de dois sistemas independentes com redundância. A outra alternativa pressupõe que a emissão da informação foi consequência do acidente. Ou seja, os sistemas falharam porque o avião estava se desintegrando em voo.
Aviões como o A330 voam na faixa de 41 mil a 43 mil pés. Nessa altitude, a velocidade máxima se aproxima da velocidade de estol. Isso não requer maiores cuidados, desde que não haja previsão de turbulência na rota. Por essa razão, o fabricante recomenda que, nessas circunstâncias, o nível de cruzeiro seja 4 mil pés inferior ao chamado “nível ótimo”, para que se reduza a possibilidade de uma rajada de ar ascendente levar o avião a ultrapassar seu limite de fator de carga ou estolar. A ausência de sustentação de um A330 a 39 mil pés pode levar o piloto a perder o controle do avião. Nesse caso, ele pode mergulhar a uma velocidade crescente, ultrapassando os limites de resistência do projeto e levando à desintegração da estrutura em pleno ar.
Outro aspecto: radares de bordo indicam ao piloto a localização das precipitações apenas no interior das grandes nuvens. Importante considerar, contudo, que a turbulência não se restringe ao núcleo das formações. Quanto mais forte, mais extrapola o núcleo e a própria nuvem. Assim, se o piloto ultrapassar uma linha de instabilidade pelas brechas, poderá deparar com a turbulência de duas nuvens paralelas. Não seria a primeira vez que as forças da natureza teriam surpreendido um piloto experiente.
* Comandante aposentado