sexta-feira, 27 de março de 2009
Rubem Braga e amigo Otto Lara Resende - Parte 6
Rubem Braga ateu e amigo do católico Otto Lara Resende - Parte 6 *
Rubem dizia que Otto Lara Resende era tão educado, tão receptivo, que qualquer pessoa que se aproximasse do amigo, fosse quem fosse, Hitler o Stalin, era como um passarinho, o Otto ia comer na mão. Rubem morreu em dezembro de 1990 e cerca de um ano depois, morreu o grande amigo, que conviveu com ele durante 40 anos. Era uma das poucas pessoas que chegavam ao hospital onde Rubem morreu. Rubem não queria nada, nem enterro, nem homenagem nem nada, deixou texto proibindo. Oto ficou doente, teve uma coisa simples, foi operado, voltou para casa, na Gávea - a casa continua lá até hoje, mas se sentiu mal de novo e depois morreu, mas nesse espaço entre voltar para casa e ser internado novamente, numa noite, naquela casa, diante daquele vidro imenso, Otto viu do lado de fora um sabiá, e Rubem era chamado de Sabiá (quem inventou o termo foi o Stanislaw, mas Rubem não gostava do apelido: "Que sabiá nada, eu não sou sabiá, sou o urubu da crônica)". Mas eis que aparece aquele sabiá e fica bicando o vidro. Oto se vira para a mulher e diz: olha lá, é o Rubem me chamando. E voltou para o hospital e morreu. Otto era bastante religioso, católico extremado. Rubem era ateu, adversário das religiões. Mas essa historinha, que me foi contada por Otto, mostra até que ponto Rubem era uma espécie de ícone desses amigos, dessas grandes figuras que Rubem considerava maiores do que ele.
* - Depoimento de Marco Antonio de Carvalho
Por Alfredo Herkenhoff