segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Lula e o discurso do pré-sal (1/2)

É nessa onda que eu vou....

6 de setembro não é 7 de setembro:
propaganda ou mentira de véspera...


Feriado desta segunda-feira, vejo de relance o patriotismo na TV e me recordo que Lula antecipou para a véspera o dia 7 da Independência do Brasil porque, mais importante do que a data e a verdade, era o índice de audiência na midia televisiva ontem à noite, um domingo... Lula desrespeitou o Dia 7 de Setembro em sua exatidão apenas para valorizar o ibope da propaganda. Mais uma vez Lula desrespeitou uma coisa simples: o óbvio, o bom senso. O petróleo, a 7 mil metros de profundidade, se sair um dia em grande quantidade, será só daqui a uns 15 anos ou mais. E até lá, o Brasil terá ou teria de investir, gastar muito, se sacrificar, nada de auferir ganhos fictícios para erradicar a pobreza, valorizar a educação ou defender o meio ambiente.

Botar o polêmico futuro do pré-sal como tema único e ainda jogar brasileiros contra brasileiros.... Que coisa mais ofensiva aos sentimentos de brasilidade e independência. Lula falou bonito, mas parecia tudo cascatol. Puro marketing.

Nos próximos 15 anos, o pré-sal só virá à tona se a matriz energética não sofrer nenhum solavanco, como parece que já começou a sofrer com a determinação de vários governos mundo afora, incluindo o de Barack Obama, de buscar alternativas tecnológicas e arrojadas no campo de etanóis, carro elétrico, geração nuclear, eólica, solar etc. Até sair o pré-sal em quantidade, o Brasil terá de economizar recursos e atrair capitais internacionais, ou seja, terá de angariar apoios e confiança para realizar a mega operação conjunta de superação do desafio tecnológico, algo sem precedentes: alcançar petróleo 7 mil metros abaixo do mar.

Quando acabar o petróleo quase ao rés do chão na área do Golfo Pérsico e noutras regiões cada vez mais raras, aí sim vai começar a era das reservas de pré-sal. A descoberta no Brasil não é a única. Estima-se que a Petrobras, daqui a 11 anos, estará produzindo o dobro do que faz hoje. Em 2020, deverá produzir cerca de 5 milhões de barris por dia. Numa hipótese mais otimista, produzirá 7 milhões de barris. E lá na frente então, Lula deverá estar concluindo o segundo mandato de seu segundo governo a se iniciar em 2014.


O 6 de setembro foi o mais mentiroso dos dias de que me lembre... O Brasil unidireiconado por uma propaganda nacionalista renovada, mas sempre de quinta categoria, talvez suficiente nesse ritmo para emplacar Dilma Rousseff no Planalto com as fantasias do pré-sal.

Mas é preciso pensar que a internet não vai deixar barato esse volume de cascata. Multidões vão se informando, a cada dia, num confronto com a publicidade do governo, que o tempo da urgência pedido ao Congresso é apenas eleitoral.

Em sua fala em cadeia de Rádio e TV, Lula tentou jogar mobilização popular contra congressistas. Lula se disse dono da verdade absoluta e quer o povo pressionando parlamentares para uma questão de longuíssimo prazo. Escolheu a data perfeita: o dia 6 de setembro. Escolheu o momento perfeito: o Congresso, em especial o Senado, nunca esteve tão mal na fita do ibope das ruas.

No meio da retórica, Lula parecia dizer que, por presente de Deus, o Brasil está ficando rico da noite para o dia, mas que saberá gastar essa baba apenas para erradicar a pobreza e salvar o meio ambiente das aventuas da candidata ecológica Marina Silva. Que loucura! O presidente afirmou que o petróleo existe em abundância e que não existe risco nenhum no empreendimento. Afirmou que, por isso, foi preciso mudar o sistema de participação de capitais privados para o novo esquema de partilha. Disse que a mudança é para evitar que estrangeiros venham aqui e fiquem com a melhor parte do pre-sal.

Loucura total. O risco é total no pré-sal. A mentira eleitoral é total no pré-sal. O bom senso crítico começa a permitir que essa aventura de performance publicitária deve ser comparada com outros momentos da história.


O que diz o voo de um pássaro?

Um chefe nazista dizia que a verdade é a mentira mil vezes repetida.

O Plano Cohen, para dar um plus a Getúlio Vargas em 1937. Seria governo provisório em 1930... Bem, 15 aninhos...

Mobilização popular, carta Brandi, falsos dossiês: o jogo sujo está apenas aflorando, não das profundezas de 7 mil metros sob uma pressão inimaginável para o estágio do conhecimento tecnológico atual, mas jogo sujo emergindo de nós mesmos, de nosso desejos de mandar e querer mais poder o tempo todo, de vencer a qualquer custo, e o que vemos são esses preparativos para o duelo de outubro de 2010.

Por Alfredo Herkenhoff

Texto continua logo a seguir neste Correio da Lapa