sábado, 22 de agosto de 2009

Ainda a pirataria e o mistério do Arctic Sea


Crescem as dúvidas sobre o
sequestro do navio com tripulação russa


Tripulantes na cadeia da KGB? Piratas se dizendo inocentes. Ex-segurança russo falando de crise entre grupos empresariais e autoridades no Kremlin? Especulações sobre falso sequestro para levar lixo radiativo para o meio do Atlântico? E por que três enormes aviões para transportar de volta à Rússia apenas oito sequestradores e 15 marujos?
Russos e europeus desconfiam da história oficial...

Correio da Lapa comentando a notícia (*)

Tripulantes russos sob interrogatório


Pirata, mas cadê o olho de vidro? Bin Laden ecológico?

O história do sequestro do navio Arctic Sea na versão da mídia do governo de Moscou não convence nem os russos. Os oito homens suspeitos de terem assaltado o cargueiro foram levados a um tribunal em Moscou e acusados de pirataria e sequestro. Podem pegar de 15 a 20 anos. Mas os oito se declararam inocentes.

Ou teriam jogado as armas ao mar ante a aproximação de um barco de guerra da Marinha da Rússia perto do Arquipélago de Cabo Verde? Um advogado de defesa dos oito disse que eles são ecologistas pacifistas.

O caso é o primeiro de pirataria no coração da Europa em séculos. De acordo com o Ministério da Defesa, de início os sequestradores eram quatro estonianos, dois lituanos e dois russos. Agora Moscou diz que há um estoniano, um lituano e dois russos, além de quatro piratas de nacionalidade não revelada. Haveria até um espanhol no grupo, que teria exigido resgate de 1 milhão de euros sob ameaça de explodir o cargueiro.

Mas todos se entregaram desarmados.


"Artic" Sea? Ou "Arctic" Sea?


A alegação dos detidos também é estranha: “Fomos apanhados por uma tempestade e obrigados a buscar socorro no barco mais próximo”, disse Dmitri Bartenev, sem informar direito o que aconteceu a bordo para fazer o navio chegar ao noroeste africano, em vez de entrar no Mediterrâneo rumo a Argel como um carregamento de madeira finlandesa avaliada em 1 milhão de dólares.

O Helsingin Sanomat, jornal da Finlândia, estranhou o fato de que os 15 tripulantes russos, em vez de irem direto para suas casas, foram levados à penitenciária de Lefortovo (antiga cadeia da KGB) para interrogatório. Ainda não se avistaram nem com suas famílias, que também estão sendo interrogadas.

Outra coisa estranha: A Força Aérea da Rússia enviou três aviões de carga Iluyshin Il-76 a Cabo Verde para apanhar apenas oito sequestradores e 15 marujos. Não se sabe se dentro dos três gigantescos aviões haveria centenas de soldados para uma operação de confronto que acabou não rolando, ou se os mega-aviões foram ao Atlântico só para botar mais lenha nessa fogueira misteriosa.

Então é o suposto sequestro, a suposta carga de madeira, o suposto excesso da Marinha e Aeronáutica russas, enfim, tudo permitindo especulações, incluindo a retomada das primeiras, de semanas atrás, quando se insinuou na mídia europeia que haveria material nuclear ou radiativo a bordo do Arctic Sea, que tem bandeira de Malta, mas pertence a armador em Helsinque e é operado por russos.

Será que o navio foi jogar lixo nuclear no fundo do Atlântico? Será que foi poluir as águas cristalinas diante da Ilha do Sal, a mais importante de Cabo Verde? Ou será que é só burocracia?

Vinte países participaram da procura do navio, que teria ficado desaparecido por mais de duas semanas. E as autoridades dos 20 países não falam nada.

Agora as autoridades de Moscou dizem que a embarcação, de fato, nunca esteve desaparecida desde que foi sequestrada em 24 de julho em águas suecas. O mundo das superpotência teria monitorado o Arctic Sea o tempo todo.

E é tanta confusão que até o nome do navio confunde a imprensa em diversos países, sendo ora chamado de "Artic", ora de "Arctic".



Pirata

Com tanta dificuldade para relatar a verdade, as autoridades de Moscou, fazendo lembrar as autoridades soviéticas, fazem o mundo especular. Será que os moscovitas no poder se divertem com tamanha nebulosidade na mídia? Ou isso também seria parte da sinopse?

Evgeni Limarev, ex-agente da segurança russa, hoje trabalhando na França, afirmou que o navio estaria no centro de uma disputa política entre empresários e certos setores do Kremlin. E certos grupos empresariais da Rússia não são outra coisa do que máfia e das mais sanguinárias.

Então analisamos umas fotos de piratas e marujos suspeitos distribuídas por Moscou? Talvez elas ajudem a pensar em alguma lógica nessa enorme confusão. Talvez as imagens façam parte do mesmo script.

O presidente Dimitri Medvedev e seu mentor homem-forte VladimirPutin estariam tentando evitar um escândalo qualquer, ou melhor, um escândalo que não é qualquer um não. Isso já está parecendo script para um filme de ação e suspense made in Hollywood daqui a um ano.

Pirata e soldados russos

(*) Por Alfredo Herkenhoff