sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um canalha, conto de Marechal, o Alvaro Costa e Silva

Um canalha



Por Álvaro da Costa e Silva (Marechal) **

Tudo aconteceu no tempo em que ainda dava as caras na noite. Pois agora é ruim que saia de casa, preso ao trabalho. Quando me dou folga, prefiro ler um livro escolhido entre os empilhados ao lado da cama larga e vazia, ver um filme no vídeo ou cantar ópera, libreto à mão. Samba quase nunca, é raro um disco que consiga captar o clima das rodas, com única exceção: Axé. Mesmo assim, andam me encontrando por aí. Pior, nas situações mais vexatórias, mal barbeado, camisa encardida, calça caindo pela bunda. Em minha defesa devo dizer que não sou eu, é meu sósia. Ele costuma pendurar contas no Picote; subir no alto do escorrega na Praça São Salvador e ser de lá retirado pela polícia, a bem da ordem pública; ameaçar de morte o Narciso do Jobi (no último entrevero borrifou o português com azeite ordinário); pôr fogo em mendigas e ouvir o canto da sereia no Mirante do Leblon.


Em sua mais recente peça, apareceu num desses programas de tevê a cabo, meio de porre, a desancar o Candeia. Para vingar-me, envio pelo diagramador Nélio Horta um dos relatos que o canalha largava sobre o meu capacho, à cata de elogios, mesmo falsos. Usava o criptônimo Alvaro Marechal, segundo ele uma homenagem ao escritor argentino Leopoldo Marechal, autor do romance peronista Adán Buenosayres, ainda não traduzido no Brasil.


** -Alvaro da Costa e Silva é jornalista e escritor - Este mesmo Correio da Lapa publicou, dias atrás, outro conto do Marechal, sob a título O Vermelhão da Madrugada. É só correr o mouse que o conto está logo à frente...