Senador mistura duas investigações para insinuar montagem de diálogos
Leandro Colon, de O Estado de S. Paulo
Num jogo de palavras, misturou duas investigações da Polícia Federal para insinuar que as gravações divulgadas pelo Estado no dia 22 de julho - em que ele negocia a nomeação do namorado da neta - poderiam ter sido montadas. Os áudios publicados no jornal são autênticos, do começo ao fim de cada telefonema, sem edição, e a voz de Sarney é real.
Na conversa, Sarney fala com o filho Fernando Sarney sobre a nomeação de Henrique Dias Bernardes - então namorado de Maria Beatriz Sarney - e diz que vai discutir o assunto com o ex-diretor Agaciel Maia.
As gravações, feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça, fazem parte da Operação Boi Barrica, em que a PF investiga o filho do presidente do Senado. Em seu discurso ontem, Sarney admitiu que era sua a voz nas gravações. Ele argumentou que os áudios não poderiam ser divulgados porque envolviam um senador, que tem foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). “Trata-se de conversas coloquiais entre familiares”, disse.
Logo depois, começou a falar de uma suposta montagem, sem, porém, explicar imediatamente do que se tratava. “Agora, quero mostrar aos senhores os métodos que foram adotados. Não encontrando nada contra mim, então, faltando, acho, notícia, querendo generalizar, os senhores vão ficar pasmados: fraudaram a fita que distribuíram aos jornais e incluíram o meu nome com a voz de uma outra pessoa”, afirmou.
Somente depois Sarney explicou que se referia à Operação Navalha, realizada em 2007 pela PF para desmontar um esquema de fraudes em licitações. Essa investigação envolveu o empresário Zuleido Veras - dono da Gautama - suspeito de ligação com a família Sarney. Segundo o senador, um áudio - que o Estado jamais divulgou - teria sido montado. Numa gravação em que Zuleido teria dito que iria à casa de Sarney, a voz não seria do empresário, mas de outra pessoa.
José Sarney durante discurso no plenário do Senado. Foto: Pablo Valadares/AE