Mídia impressa e internet, papo no Restaurante Lamas *
Segunda-feira, véspera do Dia Nacional dos Jornalistas.
Num almoço com o coleguinha Nilo Dante, no Lamas, ouço o velho amigo, saudoso de seus tempos de rapazola nos Anos Dourados do Rio de Janeiro.
Conta histórias, lembra a tentativa de destruir fisicamente a Tribuna da Imprensa pelas mãos do Almirante Aragão na madrugada de 31 de março de 1964. Lembra Alberto Dines, que o levou para lá e, na época, realizava a façanha de dirigir ao mesmo tempo o JB, Fatos & Fotos e às vezes também a Manchete. Lembra velhos parceiros de redação, como Guimarães Padilha e Miguel Borges. Nilo Dante poderia entrar para o Guinnes Book dos Recordes como o mais extenso currículo da imprensa brasileira. Trabalhou em 10 jornais e quatro revistas. Dirigiu a redação de cinco grandes jornais.
Entre uma tulipa e outra, Nilo debocha dos que culpam a internet pela queda de circulação e o empobrecimento de muitos jornais no Brasil. Os números não confirmam essa tese tosca, na maioria das vezes defendida por jornais decadentes, dirigentes perdedores e editores presunçosos.
O Rio Grande do Sul, segundo Nilo Dante, é o Estado da Federação que mais acessa a Internet, em relação ao número de habitantes. E lá se encontram três dos dez jornais de maior circulação do país: Zero Hora, Correio do Povo e Diário Gaúcho.
Não é a internet que atrai, diz ele. É o mau jornalismo que afasta os leitores. Hoje o de maior circulação é a Folha de S. Paulo, uns 297 mil em média por dia, seguido do SuperNotícia, de Belo Horizonte, O Globo, o Extra e o Meia-Hora. Em tempo: nos domingos de 2008 O Globo vendeu menos que nos domingos de 1980!
Nos EUA muitos jornais estão fechando. Não só por causa da internet, mas pela crise financeira que comprime o faturamento. E, também, pela alta eficiência do jornalismo 24 horas das redes de TV a cabo. Jornais americanos operam com custos elevadíssimos. O The New Yotk Times tem 1.300 jornalistas. Na Inglaterra, as tiragens continuam elevadas, mesmo com a internet a mil por hora. No Japão e na Coréia, idem. Entre os 100 jornais de maior tiragem no mundo, o último colocado tem o dobro da circulação da Folha de S. Paulo, a maior circulação do Brasil.
A verdade não se deixa prender pela mentira estampada: o Brasil lê pouco jornal e pouco livro porque os jornais e os livros não são feitos para os leitores, mas para a vaidade dos donos, dos chefes dos jornais, dos editores corporativos e para as autoridades de plantão no rodízio dos governos.
Falta respeito não só ao leitor, falta respeito aos profissionais e escritores mais criativos. O resto é conversa fiada de quem está aboletado num cargo de confiança que muitas vezes não é nem mais cargo ou coleguinha confiável a olhos mais críticos.
Os jornais brasileiros estão viciados em governo, viciados em verba pública, em press release, nas pautas produzidas pelas assessorias de imprensa. Mas há outras enfermidades, como o jornalismo declaratório, as efemérides previsíveis e os eventos de redação. A imprensa brasileira vive um momento de decadência por excesso de auto-estima de alguns e pela falta de concorrência.
* Por Alfredo Herkenhoff