sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Dilma 100% indicada para o Nobel da Paz



Correio da Lapa anuncia: com Dilma Rousseff, vai também em dobradinha o nome de Cristovam Buarque para o Nobel da Paz.
Do alto da minha pequenez, anuncio: é Dilma 100%: compartilhe se concordar em tê-la compartilhando o Nobel da Paz com Cristovam Buarque.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Morre Joelmir Beting, pioneiro da simplicidade, elegância nas metáforas

Palmeirense patológico e patogênico, como ele próprio se definia, Joelmir Beting foi um pioneiro da simplicidade, sempre com aquela elegância nas metáforas com que descrevia os caminhos e os descaminhos do dinheiro que move o dia a dia. Uma perda irreparável para o Brasil e o nosso melhor jornalismo.
 Inevitabilidade atroz que esmaga qualquer possibilidade de alegria nesta quinta-feira,  manhã das mais amargas depois de meio século de bons exemplos desse profissional que nos deixa sem.que possamos fazer nada a não ser lembrar e sonhar.

Correio da Lapa, Rio de Janeiro, 29 de novembro de 2912  

No link, a fala de Ricardo Boechat sobre o companheiro de bancada na TV 
http://www.radiobandeirantes.com.br/notas.asp?ID=635257 

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

EU E NÓS, JUÍZES DOS JUÍZES Cachoeira à frente de 46 pedidos de indiciamento

EU E NÓS,
JUÍZES DOS JUÍZES 

Cachoeira, à frente de 46 pedidos de indiciamento, sinaliza a chuva benfazeja de alvarás de soltura. 

 Dura led sed lex, no cabelo só Gumex.

In dubio, pro JB, pro Joaquim Barbosa.
 

Eliza não morreu.

 Mensalão, Mensalinho, Bruno e Macarrão.


 Enquanto houver vara, haverá esperança para a preservação da floresta, todas as cascatas convergindo para a Cachoeira's Fall.
 


O relatório final ca CPMI é só o começo. Qual a maior surpresa? O pedido de indiciamento de Locanty Cavendish (isso mão parece nome de pirata do Caribe)? Ou pedido contra um graduado jornalista da Veja pelo crime de formação de quadrilha? Ou será o documento do parlamentar petista, que  assina o relatório, pedindo ao Conselho Nacional de Procuradores que investigue o Gurgel, o procurador geral da República? E pior, pelo crime de prevaricação... Ou a maior surpresa será o pedido - na verdade recomendação - para que MP e PF investiguem e indiciem o governador Perillo por associação goiana com o crime organizado do Charlie Waterfalll?
 A exemplo do Mensalão, agora o MP e a PF vão produzir provas, milhares de interrogatórios, um calhamaço que, lá na frente, daqui a alguns anos, propiciará que um futuro Procurador Geral abra uma ação penal pública a ser destrinchada por aí... Em qual colégio? Em qual vara? Governador e alguns parlamentares têm direito ao STF, o foro privilegiado e tantas vezes privilegiador, mas que ultimamente anda com sanha condenatória.
 O samba do crioulo doido está só começando. Antes éramos o país de milhões de técnicos de futebol. Agora viramos todos juristas, entre papos mil sobre o goleiro Bruno e Elias Maluco, o qual, quando sair da cadeia, sairá automaticamente como jornalista, garantido nesse direito pelo mesmo Supremo ex-canudo universitário...
E ontem à noite, Carlos Cachoeira, que estava havia nove meses em cana, foi condenado a cinco anos e oito meses. A condenação, entretanto, pariu um alvará de soltura expedido pela mesma decisão judicial. Como a pena é menor que oito anos, não se recomenda regime fechado, e ele foi pra sua casa imediatamente para comer uma pizza e comer aquela loura linda e apaixonada, aquela perua cheia de jóias que tentou comprar um juiz à luz do dia e que agora teve pedido  ou recomendação de indiciamento por vários crimes, incluindo o de corrupção ativa, que é oferecer vantagem a servidor, o magistrado em seu próprio gabinete.
 Carai. Bem disse José Simão: Cachoeira foi ontem condenado a ser solto ontem mesmo.
 Odair do PT, o parlamentar que assina o relatório final da CPI Mista e Quente, parece ter usado um estilo que ouso batizar de Pós-Mensalão,  ou estilo JB, de Joaquim Barbosa, que é o mesmo que vigiar pouco (os autos), punir muito por presunção e ganhar manchetes a favor e elogios da opinião pública que segue as mesmas manchetes.
 Procópio da Veja não foi sequer depoente na CPI. Soa vingativo o pedido para que seja investigado, julgado e condenado.O próprio pedido no Brasil soa como condenação.
 Mas a ação de um jornalista atrás de informação e que por isso se aproxima de fontes criminosas é totalmente diferente de formação de quadrilha. Mas a  Veja está pagando porque aqui na terra se faz e aqui se paga. Está provando do próprio veneno. Pela importância de Procópio, posso pensar metonimicamente que é a própria Veja que está a caminho do indiciamento.
 Está na hora de voltarmos ler a Casa Verde, de Machado. Se todo mundo é doido, ninguém é maluco. Ainda bem que Brasília não restaurou a guilhotina francesa. Estivéssemos na era do terror interpares, de execuções sumárias, o grito do Bezerra da Silva (Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão) perderia o sentido. Estariam todos mortos com a sociedade brasileira à espera de um Napoleão...
No Brasil, esse novo sistema político-judicial de punir está condenando todo mundo não à morte,  mas à vergonha. Não importa quantos meses ficarão nos presídios infernais esses indiciados, sejam réus atuais, réus iminentes, eles já estão mortos, foram desprezados pelo presente. Veja que até a Veja foi pra vala. Morreu. Está morta, mortinha da Silva, está sentindo agora o que é ser condenado sem que se considere apenas o que está nos autos.
  Mas já pra Demóstenes não muda nada estar na lista dos 46. Ele pode se achar eternamente senador, mas aos olhos nossos, em nosso dia a dia, já é mais do que sabido que ele nasceu e vai morrer com cara de bunda, um bundão.
  Quem está condenando é a mídia numa dobradinha ora com parlamentares, ora com tribunais. O que aos olhos de muitos parece um avanço, vejo, com estes que a terra há de comer, que estamos retrocedendo.
 Aguardo um novo Sobral Pinto, um causídico católico contemporâneo, um humanista conservador contemporâneo, pra livrar o ateu marxista José Dirceu das masmorras medievais que são nossas penitenciárias, e para tal com base na velha lei de proteção dos animais, como fez nos anos 30 com Luiz Carlos Prestes no alvorecer do Estado Novo, aquela velha ditadura.
Ao preservas Cachoeira da pena de restrição de direito do ato de prosseguir circulando, a juíza Ana Claúdia se ateve aos autos. A magistrada ganha um prêmio ambiental. Cachoeira pode mostrar a exuberância da sua própria natureza. Do mesmo modo, ao impor aquele somatório de penas para os 25 réus remanescente do Mensalão, os ministros do Supremo se limitaram a seguir os ritos das leis, interpretá-las, executá-las. Ganharam elogios,  especialmente da Veja.
 Meus, não. Esperaram sete anos pra condenar sem ver que  o sistema judiciário brasileiro está condenado desde Rui Barbosa que, entre outros brocardos, cunhou  este inesquecível: justiça lenta não é justiça.
 Manter um condenado numa cela-cloaca é um crime continuado. A Constituição Federal não permite este descalabro em nosso sistema carcerário. Mas quem pode julgar o Supremo?
 

+++

 Na semana passada, o Band Datena, que eu acho meio enjoado, mas eu o via por acaso enquanto bebia uma Coca Cola no balcão de um botequim, defendia-se de um desmentido oficial do governo de São Paulo porque dissera na véspera que o secretário de Segurança estava fora. O governador Geraldo já procurava um novo nome. Datena estava certo. O Ferreira finalmente caiu. Quer dizer, tinha caído, mas só anunciaram agora...

 (Alfredo Herkenhoff)
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Solidariedade a José Dirceu e Genoino

Fui contra o projeto Ficha Limpa e com isso só arrumei desavença e deselegância nas ferramentas sociais. Comigo estavam os juízes Marco Aurélio e Celso de Mello; mas foram votos vencidos. Não tiveram
a audácia de considerar um brasileiro como ficha suja enquanto a ação não tiver transitado em julgado. Mas seus pares preferiam destroçar o brocardo romano do in dubio pro reo. Sob pressão da sociedade, o Supremo decidiu que bastará para ser ficha suja quando uma pessoa tiver sido condenada por um colegiado de instância inferior. O Supremo abriu mão de seu próprio direito de dizer: Roma locuta, causa finita.
O Supremo já fez muita lambança neste país e continua fazendo. Já chancelou o Estado Novo, entregou Olga Grávida aos fornos crematórios, apoiou os atos institucionais da ditadura de 64 etc e tal.

Só pra dar um exemplo do mais implacável dos judiciários de nações democráticas: A Justiça dos EUA permitiu que um assassino famoso, um negão do beisebol, ficasse livre das grades e da pena capital não por falta de provas. Toda a sociedade americana queria a prisão de OJ Simpson por matar a sua mulher, uma lourona, mas os juizes preferiram deixá-lo ao largo porque as provas contra o réu tinham sido colhidas de forma criminosa. Preferiram deixar um assassino solto do que absolver uma afronta à ordem jurídica.

Aqui no Brasil estamos vivendo o mesmo drama hoje: o Supremo por exemplo diz que juiz que absolve não vota na apenação do condenado. Uns três ou quatro ministros não votaram por exemplo a favor de uma punição mais pesada para determinado réu condenado. E os outros votos vencedores conseguiram apertadamente a condenação mais severa. Sim, quem absolve não vai condenar a uma pena específica de prisão pouco depois. Mas o simples fato de um juiz ter absolvido devia ser considerado como voto a favor do réu na dosimetria. Os votos de absolvição deviam ser computados como contra a pena maior. Ou seja, não é nem desrespeito ao in dubio pro reo que está rolando nessa Ação Penal 470, é pior: é a aceitação de convicção de inocência por parte de um magistrado como causa subsequente de aumento da pena de prisão.

 
 José Dirceu nos anos 60
Para a Judiciário alemão, Hitler era inocente enquanto mandava exterminar nossos irmãos judeus em1939. Para o nosso Judiciário, o Poder Executivo era legitimo enquanto José Dirceu arriscava a vida matando e vendo amigos morrerem em nome de idealismo político nos estertores do comunismo soviético, e tudo isso num momento em que a grande mídia apoiava o operação militar que empalmou o poder na marra.

José Dirceu blindou Lula no Mensalão. Foi blindado por Delúbio e por Pizzolato. Mas o Supremo, diante do fracasso da Mídia em mostrar que Lula sabia do esquema, optou por sancionar de novo os tubarões da imprensa e condenar na base da presunção, base dos indícios. O Supremo abriu mão, como no caso do projeto feicibuquiano da Ficha Limpa, de mais uma máxima romana e universal: o que não está nos autos, não está no mundo do Direito.

Barbosa, ungido a herói, já lançado a candidato presidencial, prefere tratar da coluna nos melhores hospitais da Alemanha. Para ele e seus pares, o SUS é coisa nossa. Para mim, Barbosa, sim, no uso de suas atribuições, tem se excedido no linguajar, constrangendo seus pares, mesmo aqueles que acompanham o seu voto sempre inclemente, aparentemente eivado de ressentimentos históricos. Sem nada de pessoal, Barbosa está me saindo um verdugo, um capitão de mato ao contrário, caçando e humilhando o maior amigo de Lula como se José Dirceu fosse um bandido comum.

Napoleão dizia que pra ganhar uma guerra você precisa de três coisas:dinheiro,dinheiro e dinheiro. Um coronel baiano dizia: em política não existe crime,só existe eliminação de obstáculo, que pode ser1: a lei, que se burla, e que também condena. 2: a imprensa, que denuncia o escândalo, e 3: o candidato adversário.

Zé Dirceu não está sendo condenado pela legislação brasileira, mas pela imprensa que incensa a presunção de culpa em detrimento de uma Justiça Universal. Por tradição, nosso Supremo prefere ficar sempre bem ao amparo de algum tipo de poder, ora do Poder Executivo, ora da grande mídia.

Pessoalmente, creio que Dirceu sabia de tudo o que rolava. Mas ele estava fazendo a guerra suja da política, não estava assaltando nenhum cidadão na esquina nem brincando de fazer a política limpinha no ar refrigerado dos Três Poderes. Ele estava ajudando Lula como nós, eu e a maioria, fizemos dando-lhe o segundo mandato e aceitando Dilma como a melhor delfim. Milhões de pessoas deixaram de morrer de fome ou de outra míngua qualquer graças à ação desse belo porra-louca chamado José Dirceu.

O linguajar quase ininteligível que os ministros usam entre si dá bem a dimensão de quão distantes estão da realidade das ruas. Por presunção, poderiam ter condenado também Lula, o Metalúrgico. Mas não tiveram culhão ou não quiseram superar (PF e MP) a blindagem heróica que José Dirceu armou para o maior líder brasileiro dos últimos tempos.

Na guerra suja da política, Nixon se envolveu com meia duzia de cubanos pra arrombar o escritório do concorrente Partido Democrata em Washington. Impeachement à vista, Nixon renunciou. Mas teve antes a humildade de ir a Pequim reconhecer a liderança de Mao e a humildade de sair derrotado do Vietnam ao som do ricocheteio das metralhadoras que Moscou enviava a Ho Chi Min. Hoje Nixon é homenageado em todas as universidades americanas.

De público declaro a minha solidariedade a Dirceu e Genoíno. O componente político falou nas tecnicalidades desse Supremo com um histórico de execrável tradição, tanta absolvição e tanto omissão diante de verdadeiros verdugos da população pobre do Brasil.

Temo que, embora não seja nossa tradição, que o raro caso de Getúlio possa estar prestes a novamente acontecer na esteira do Mensalão: sangue, suicídio e mar de lama, honra e homenagens da História. Não da parte de Dirceu, que prefere morrer matando a sair da luta. Mas da parte de outros levados de roldão nessa forma enxovalhada de promover justiça de ocasião.

Antevejo num futuro não muito distante o nome de José Dirceu sendo homenageado como um político brasileiro, com um pouco de Maquiavel, um pouco de Roberto Jefferson, um pouco de Policarpo Quaresma, e quase nada de Dom Quixote. Sim, prós e contras, mas um homem que ajudou Lula e o povo mais pobre que todo dia sofre os maus-tratos da classe governante. legisladores, executivos e magistrados. Um homem que ainda será estátua, um homem, mais um raro que não foge à luta.

Por Alfredo Herkenhoff

Cinco lições nesse início do escândalo sexual envolvendo o general Patreus

Frida Ghiti, colunista do The Miami Herald and World Politics Review e ex-correspondente da CNN, autora do livro "The End of Revolution: A Changing World in the Age of Live Television", escreveu artigo sobre o escândalo sexual que derrubou o general David Patreus da chefia da CIA e no qual ela faz cinco resumos das primeiras lições de um caso do qual pouco ainda sabemos, enquanto detalhes vão surgindo e prometem animar a mídia nas próximas semanas ou meses. Eis as cinco pensatas de Frida:



                   O general e sua biógrafa e amante Paula Broadwell



 1 - Homens poderosos, não importa quão brilhantes e talentosos sejam, podem sofrer de uma forma de insanidade temporária causada pela interação entre a arrogância e a libido.

2 - Qualquer coisa que você escrever num e-mail poderá ser usada contra você.

3 - O FBI pode investigar praticamente qualquer pessoa nos EUA, até mesmo o diretor da Central de Inteligência.

4 - Os americanos estão profundamente divididos sobre a questão da moralidade na vida pessoal na esfera pública.

5 - Um escândalo sexual calliente vai produzir um caminhão de manchetes de primeira página, num momento que o desafio mais imediato do novo mandato de Obama é o "abismo fiscal", um tema árido e velho que fará com que a maior parte da população americana mude de canal ou vire a página .

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Gonzagão não era o pai biológico do Gonzaguinha

Gonzaga é 
mesmo 
universal!


Sobre o filme De pai pra filho

Belo e comovente,

mas com falha de

verossimilhança

 

Por José Nêumanne Pinto

A fila à porta do cinema em que é exibido o novo filme de Breno Silveira, Gonzaga, de Pai para Filho, é um excelente sinal. Ídolo da diáspora nordestina pelo Brasil e pelo mundo, o Rei do Baião, que conheceu a glória na carreira quando introduziu no mercado fonográfico e nos meios de difusão o cancioneiro do semiárido e inventou a música regional nordestina, mas caiu no ostracismo sob os reinados da bossa nova e do rock, volta no ano do centenário do nascimento a interessar e comover o grande público.
O aviso dado no começo da projeção - “baseado em fatos reais” - avisa honestamente ao espectador que aquele não é um documentário nem uma biografia, mas uma narrativa que tem como ponto de partida a vida de um astro - mais do que isso um dos pilares da Música Popular Brasileira. Trata-se da filmagem da história pungente de amor e rejeição entre pai e filho, este também um compositor e intérprete talentoso e popular. O rei fundou uma estética de raízes fincadas no solo seco do sertão e com público nostálgico da cultura original. O príncipe não pode ser considerado herdeiro porque sua obra tem fontes urbanas e público cativo e apaixonado, criado em apartamentos de classe média na metrópole.
A fita mostra a difícil reconciliação do filho sempre relegado a segundo plano pelo pai pródigo em proteção material, mas avaro em afeto. Há insinuações de que nas veias do filho pode não correr o sangue do pai. Este constata a dúvida à própria mãe, que não a contesta. Depois Helena, mulher de Gonzaga, faz uma pergunta sem resposta: como ele não repete em seu ventre o milagre da concepção com o qual fora abençoado o da mãe de Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, herdeiro até do nome do rei?
Aí se revela uma falha de verossimilhança: Gonzaguinha não podia ser filho biológico de Gonzaga, que era estéril. E sabia. A biografia factual é outra história: o sanfoneiro em começo de carreira se apaixonou pela dançarina das boates da Lapa carioca a ponto de perfilhar o rebento dela, dando-lhe o próprio nome, que se tornaria famoso. A moça, Odaléa, morreu e obteve do artista o compromisso de cuidar da sobrevivência do filho em sua ausência. Mesmo sabendo que não era o pai, o sertanejo cumpriu à risca a promessa e financiou o “anel de doutor”: Gonzaguinha se formou em economia, mas nunca exerceu a profissão. Gonzaga deu o filho para a comadre Dina criar e tentou forçar o convívio dele com a madrasta, Helena, mas Gonzaguinha optou por ficar no morro de São Carlos no lar em que foi criado.
O filme é belo, pungente, chega a comover. Mas a verossimilhança falha cria problemas para o roteiro. O Rei do Baião não foi um pai ausente e insensível, mas um provedor atento, embora frio. Essa falha gera uma certa dificuldade para compreender a reconciliação. A onda da bossa nova e a febre da Jovem Guarda tiraram Lua das paradas e o astro chegou a viver em dificuldade. Foi salvo pela amiga Tereza Souza, que fez dele protagonista de campanhas das sandálias Havaiana no Nordeste e pelas atenções que recebeu de Caetano Veloso e, principalmente, Gilberto Gil, negro e sertanejo como ele.
O talento de compositor e intérprete e o carisma popular de Gonzaguinha pegaram Gonzaga no contrapé. Ele não contava com isso: um herdeiro em cujas veias não corria seu sangue. Mas foi humilde para reconhecer o talento artístico do moço que ele tentou fazer doutor. Vida de viajante, o velho sucesso de Hervê Cordovil na voz do pai, tornou possível na voz dos dois a entrada do mais velho no palco do mais novo. É bom que as plateias lotadas do Brasil se reencontrem com o autor de Asa Branca sob os holofotes do criador de Explode Coração. No escurinho de cinema os egressos do semiárido bebem a seiva de sua raiz e os cidadãos urbanos se deparam com a beleza rústica da cultura sertaneja. É importante que o Brasil das cidades se reconcilie com os grotões rurais de suas origens. Mas talvez seja conveniente lembrar que a obra, embora bela, nada tem de biográfica.

(Publicado na página D3 do Caderno 2 do Estado de S. Paulo 
 de terça-feira, 6 de novembro de 2012)