Pois é esta experiência que tenho intenção de contar, animada pela ideia de que não é todo mundo que sabe por onde passam os caminhos para se editar um livro - seja qual for. Por menor que seja, os erros pululam e somos sempre vítimas do esquecimento, da negligência, da ignorância e do despreparo.
Desde 1977, publico o que escrevo, seja em jornal, revista ou livro. A primeira chance veio no jornal Análise, do DCE do Mackenzie, onde eu havia acabado de entrar na Faculdade de Direito e mostrei, por acaso, um poema a um recém-amigo e ele disse que precisava ser publicado no Análise e me apresentou ao pessoal que formava a redação do jornal do Diretório Central dos Estudantes, alunos principalmente da Arquitetura, muito inteligentes e instruídos que já tinham ganho prêmio com a publicação.
Meu poema foi publicado na íntegra e tinha um título curioso: "Subjetivo objetivo". Se agradou ou não à maioria das pessoas, não sei. Ninguém veio me dizer que não gostou, só um eu soube que perguntou se não era gozação: eu estava falando bem do Mackenzie e isso parecia desaforo. Coisas que a gente só aprende na faculdade.
Mas a sorte estava lançada: eu não viria a sair do Análise senão alguns anos depois, em 1980, quando já tinha fundado um grupo de poetas, o Poeco, e lançado cinco antologias, realizado três concursos nacionais de poesia e juntado mais de 20 poetas que se reuniam semanalmente aos domingos para ler seus poemas.
A experiência editorial começou justamente publicando livros com chapa de papel e gráficas de fundo de quintal - onde começa toda e qualquer atividade de impressão, sempre do menor para o maior. Na época, o computador mal existia e as máquinas IBM faziam o serviço, tudo tinha de ser digitado para fazermos os famosos "past-ups", colados a páginas de papel sufite, que depois gravariam as chapas de papel e o livro saía disso, dessa composição e montagem, desse desprendimento altruísta, desse ímpeto de fazer-se lido.
Os anos eram propícios: em 1978, conheci a redação e as oficinas dos Diários Associados na Rua Sete de Abril, onde trabalhava o diagramador do Análise, que fazia um bico para diagramar nosso jornal. Foi no Análise que publiquei meus primeiros poemas a sério e, a partir daí, a sorte estava lançada: todos que vieram depois determinaram o que eu iria fazer a seguir.
A poesia tem essa capacidade aglutinadora de unir pessoas, de trazer aqueles que precisamos encontrar. A literatura, em sua expressão maior, tem essa mesma capacidade, possibilitando encontros que seriam improváveis em outras situações. Por isso, a experiência editorial é tão evocativa: ler e fazer-se ler faz parte do cotidiano, e como preparar um texto para ser lido e publicado é a função básica e primária de um autor e de seu editor.
Publicar tornou-se (e é) em todos os tempos a atividade primordial do ser humano, depois de plantar para comer, construir para morar e evitar catástrofes.
Assim, cada livro tem sua história, desde o momento em que o autor se prepara para escrevê-lo, até levar os originais para um editor, ou editá-lo ele mesmo, e materializá-lo com capa e tudo que tem direito. Cada livro tem suas peculiaridades e seu percurso, o seu tempo e seus desvios, suas esperas e surpresas - sejam boas ou más. E é preciso ter paciência para acompanhá-las e compreendê-las. E é a história sempre surpreendente de cada livro, dia a dia, que pretendo contar - se me permitem seus autores, por que quando penso que já vi e vivi tudo para fazer um livro, descubro algo inusitado ou inesperado, que coloca o livro como "único".
E essas histórias valem a pena ser contadas.
Rio de Janeiro, domingo, 6 de setembro de 2009