"O ópio das elites"
Correio da Lapa a artistas da navegação> Texto avistado em site português by João Rita; Jornal a Página da Educação , ano 16, nº 165, Março 2007, p. 31.
E fotos da escritora sueca e curadora Maria Lind apanhadas ao léu do rigor...
Uma viagem fantástica pela ARCO 07 (Feira de Arte Contemporânea de Madri em 2007)
Sentados no chão e encostados a um pequeno muro de protecção das escadas de uma estação de metro, na madrilena Praça Callao, à Gran Via, onde, em duas torres quase gémeas, co-existem na disputa dos consumidores, internos e externos, a FNAC e el Corte Inglês, quatro homens, ainda jovens, estendem chapéus à ingenuidade alheia revelando, com palavras simples manuscritas em folhas de papel, o destino a dar ao dinheiro - vinho, cerveja, whiskie, bebedeiras.
A poucos quilómetros, no Campo das Nações, onde a Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madrid assenta arraiais, um dos actores que Javier Nunez Gasco contratou em Lisboa para novas instalações das "Misérias Ilimitadas, Lda", também estende a mão à ingenuidade alheia, com um cartaz de pedinte, escrito em inglês e a letras a néon para que se veja ao longe.
Enorme visibilidade tem igualmente o cartoon que Máximo publica no jornal El Pais e que no dia de 15 de Fevereiro, dia da abertura da ARCO ao público, retratava as próprias instalações da feira com uma não ingénua citação de Marcel Duchamp – "Arte es lo que el artista llama arte" - pichada numa das paredes. Marcel Duchamp (o que pintou uma Mona Lisa de bigodes) também representado neste ARCO 07, na Galeria parisiense 1900*2000.
Voltando às "Misérias Ilimitadas, Lda", instalação que antes de se instalar na ARCO 07 esteve na "Luzboa 2006", também a criar algum impacto mediático como Javier Nunez Gasco gosta (1), é de registar que quando passei pelo mendigo de serviço no stand 9G205, ouvi alguém perguntar, em castelhano, se ele estaria mesmo a pedir. Saberá alguém responder a esta questão?
O Tiago Roldão, um jovem universitário de Química que andou pela ARCO a satisfazer a sua paixão pela fotografia, passou pela instalação das "Misérias Ilimitadas, Lda" num momento em que o actor se ausentara deixando o clássico aviso "volto já". Mesmo não se apercebendo da existência do actor-pedinte, nem do facto dele ser português, o Tiago elegeu a instalação como uma das mais bem conseguidas.
Segundo os testemunhos do próprio Javier Nunez Gasco, os actores-pedintes, recrutados em Portugal por anúncios de jornal, estariam a ganhar 300 euros pelos cinco dias da ARCO 07 e mais 70% dos óbolos que sempre acabam por cair numa caixa de esmolas, mesmo debruada a néon. Esta história dava letra para uma milonga. Até Jorge Luís Borges escreveu letras para milongas. Pelo menos uma, como a que ouvi, no Teatro Gran Via, num espectáculo de música e dança flamenga e andaluza, sob os auspícios da cantora Carmen Linares.
(continua pelos 4 postes da estrada a seguir)