segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Ciro de Patrícia Pillar do Brasil no Ceará

A escolha de Ciro
Por Kamila Fernandes *

20 de setembro foi o prazo dado pelo deputado Ciro Gomes (PSB) para decidir se irá mudar seu domicílio eleitoral para São Paulo ou se o manterá aqui no Ceará. O prazo, pela legislação eleitoral, é um pouco maior, até 3 de outubro, mas ele não pode passar disso. Se ficar, Ciro restringe suas opções à única que vinha cogitando até recentemente, a disputa pela Presidência da República (ele já bradou que se recusa a voltar ao Congresso Nacional). Se for, fica livre para se candidatar ao que quiser, se livrando dos limites impostos pela Justiça Eleitoral por causa do parentesco com Cid Gomes, seu irmão governador, e mantendo vivas as especulações sobre sua candidatura ao Governo de São Paulo, mas sem deixar de lado a disputa à Presidência & ainda que isso possa custar um certo ressentimento de seu fiel eleitor cearense.


DESVANTAGEM LOGO NO COMEÇO
Pois bem, se Ciro confirmar sua candidatura ao Planalto, bem como a neo-verde Marina Silva, o que se pode esperar da disputa contra as gigantescas composições de Dilma Rousseff (PT) e José Serra ou Aécio Neves (PSDB)? Mesmo ao olhar mais otimista, se ambos entrarem, já começarão em desvantagem, por ter menos tempo na propaganda eleitoral gratuita do que seus concorrentes, por não contar com alianças de peso. Essa ausência, por sua vez, pode significar menos recursos para a confecção da campanha (será que, mais uma vez, Ciro vai chamar o cunhado para fazer sua propaganda?). Por fim, talvez a maior dificuldade: não será fácil conseguir palanques nos Estados. Pelo tamanho do Brasil, é difícil demais, mesmo com ampla propagação midiática, se manter presente o tempo todo nas diversas localidades, o que demanda palanques fortes que repercutam o máximo possível o slogan do presidenciável e suas ideias.


SEM ESPAÇO PARA CAMPANHA CASEIRA
Ah, pode argumentar o leitor, mas temos diversos exemplos, inclusive na política cearense, de candidatos sem apoio, sem dinheiro, e que conseguiram êxito. O feito mais recente é o da prefeita Luzianne Lins (PT) em 2004. Afinal, a vontade do povo é soberana e pode superar tais desvantagens. Ok. Mas temos aqui uma enorme diferença: de um modo geral, podemos falar de candidaturas menores que tiveram êxito em municípios ou, no máximo, estados, onde é bem mais fácil fazer uma campanha caseira, de pé na rua, de porta-em-porta. Numa eleição presidencial, isso não tem acontecido. Pelo contrário, a estrutura partidária acabou se tornando, ao longo dos últimos anos, uma diferença gritante, o que pode ser evidenciado pela franca hegemonia de dois grandes partidos apenas, o PT e o PSDB.

Evidente que Ciro tem uma chance: se Dilma não emplacar logo no começo da disputa, ele pode começar a concentrar apoios de petistas insatisfeitos ou com medo de que o tucano vença ainda no primeiro turno. Ele também pode atrair, no meio do caminho, outros aliados, como parte do PMDB. Mas entre tantos "ses", há um trajeto árduo e um adversário bem conhecido a ser vencido: a "boca" de Ciro, que o tem traído sempre nos momentos mais inadequados. Vamos ver se ele aprendeu a lição.


FALANDO EM CANDIDATOS A PRESIDENTE
O presidente Lula fez um longo discurso na sede do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na noite de quarta-feira, em que tratou inclusive sobre sua sucessão. Um dos trechos ganhou grande destaque no Jornal da Globo: "Se" tiver quatro ou cinco candidatos, são todos do espectro de esquerda. Uns podem não ser mais tão à esquerda quanto eram, mas não tem problema. A história e a origem dão credibilidade para o presente das pessoas``. Houve risos em seguida, pois, claramente, Lula falava de Serra. Agora, qual o intuito de Lula ao elogiar todos os candidatos que se opõem a Dilma, tratando bem até o tucanato? Minha impressão é de que ele busca se posicionar como um analista, não mais o candidato de antes, se diferenciando de Dilma e buscando evitar, assim, ataques da campanha contra si mesmo e seu governo. Uma tática inteligente para quem vislumbra o retorno em 2014.


POLÍTICA CEARENSE NA DÉCADA DE 1980
Aos que gostam de análises sobre a política cearense: amanhã, 22 de setembro de2009, haverá o lançamento do livro Ceará na Década de 1980: Atores Políticos e Processos Sociais, organizado pela professora Rejane Vasconcelos Accioly Carvalho, coordenadora do Laboratório de Estudos de Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC). O livro traz artigos inéditos com análises da política cearense nesse importante momento da história, quando surgiram nomes como o de Tasso Jereissati, o próprio Ciro Gomes e a primeira prefeita do PT em capitais do País, Maria Luiza Fontenele. O lançamento será às 10 horas no auditório Luiz Gonzaga, no campus do Benfica, e contará com um debate com os autores.

* - Do site do jornal cearense O Povo