sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Editorial do Apagão Brasileiro em 2009


O Apagão de Dilma e Lula

O Corcovado fechado à noite

Sintoma de uma crise que não se sabe quão grande é *




O assunto está encerrado, afirmaram Dilma Rousseff e Edison Lobão em coro de propaganda. Dez dias antes do Apagão, Dilma Rousseff, noutra propaganda, um programa de rádio, afirmou que não havia risco de desastre tipo 1999 porque o governo Lula fez planejamento. Diante do ridículo, Dilma reapareceu para se desmentir, e a coisa ficou ainda mais esquisita. Originalmente, ela tinha dito que havia uma certeza: não haveria Apagão. Dez dias depois, a certeza é que não haverá racionamento. Esqueceu de dizer que o Santo Chaveiro molha, mas não é planejador, senão não haveria tanta enchente. Dilma distorceu as próprias palavras, confiando na própria arrogância, confiando na facilidade de se mentir ao povão e confiando na docilidade da grande imprensa, esta irrigada sim, mas de verba de publicidade oficial.

Um dia depois deste Grande Apagão de 2009, o ministro da Energia, senador maranhense Edison Lobão, uivou em tom de propaganda: o caso está encerrado porque a luz foi restabelecida depressa e já sabemos que a causa foi intempérie.

Lula, numa propaganda mais maluca ainda, afirmou que nunca neste país alguém investiu tanto em transmissão de energia elétrica quanto ele em seus sete anos de mandato. Disse Lula que ele investiu 30% com relação a tudo que se investiu em 123 anos.

Que numero maluco é este, o 123? Lula botou no saco do desprezo energético todos os governos do Brasil, incluindo o imperador Pedro II que só foi derrubado pela verdade do golpe de estado em 1889, ou derrubado 120 anos atrás.

Aliás, foi em 1889 que o Brasil criou a primeira hidrelétrica, uma pequenina em Minas Gerais. Portanto, estamos comemorando agora 120 anos da entrada do Brasil na geração de energia elétrica através da queda d'água.

A lâmpada de Thomas Edison comemora neste 2009 seus 130 anos de invenção. No Brasil, Campos foi a primeira cidade a ter iluminação pública. Depois, salvo engano, Rio de Janeiro e Cachoeiro de Itapemirim, em 1903. O número 123 deve ter sido dado a Lula por um estagiário de uma agência de comunicação social qualquer, extraído às pressas de uma pesquisa qualquer na internet.

No século XIX eram sistemas de poucas lâmpadas. Em Campos, apenas 39 lâmpadas. Mas Lula diz que fez mais do que Dom Pedro II, Floriano, Getúlio, Fernando Henrique etc, ou seja, está apenas mantendo o estilo de propaganda que beira o ridículo, o tal "nunca neste país".

Ninguém quer lembrar a fábula do alfaiate que planejava a roupa luxuosa do rei, o rei está nu. Mas o planejamento do governo Lula está virando uma clara escuridão. Dilma está nua.

A propaganda do governo não vale nada, por fraqueza, mas o povo gosta de Lula. Por isso, o presidente precisa se acercar de melhor assessoria para que o ridículo das peças não contamine as chances de Dilma.

Vale lembrar que o PT foi o partido que mais se deu bem ao explorar o Grande Apagão de FH em 1999 e o racionamento que surgiria lodo depois.

No mesmo momento em que Lula, Dilma e o amigo de Sarney na pasta das Minas e Energia cometem esses exageros, o INPE desmente a possibilidade de que raios e ventos tenham causado o Apagão. O Instituto de Pesquisas Espaciais pode estar errado, sim. Mas Lula, Dilma e Lobão não podem estar errados, erraram sim e vergonhosamente.

Mas Lula, no clima de carnavalizar a mentira em nome de Dilma, afirma que o Mensalão foi uma mentira, que o Valério Doce foi um veneno amargo que os tucanos infiltraram na base aliada, com aquela fartura de R$ 50 mil para todo mundo no Congresso amigo.

O dinheiro na cueca foi uma mentira?

O Mensalão do senador tucano Azeredo quando era de Minas o governador? Outra mentira?

Sete é tido como o número de mentiroso ou de mentira. Será?

A importância de se saber a causa do Apagão não deve ser usada partidariamente em campanha eleitoral, mas vai, infelizmente. O tema é grave demais para ficar nesse rame-rame. Falta de luz é troço sério. Mentir nessa área derruba sonhos de vitória, atropela candidaturas.

A propaganda exagerada do governo Lula ameaça se tornar ridícula. Todo mundo gosta de ver o presidente lançar, como fez no começo deste ano, ao lado da Dilma, aquela campanha de casa popular, prometendo fazer 1 milhão 500 mil casinhas. O papel aceita tudo. A verdade, quase nada.

Plano de casa própria lançado de afogadilho, sem discussão ambiental nem orçamentária, tudo só choque de mídia.

O uso abusivo da propaganda por parte de Lula, Dilma e outros ministérios começa a se transformar num risco eleitoral.

Devagar, Seu Lula, se rolar outro grande blecaute as chances de Dilma passam a correr perigo de alta voltagem.

O excesso de sucesso mostrado na propaganda do governo está se tornando uma bomba de fragmentação ridícula.

Um pouco de verdade, mesmo que doa, é tudo que o eleitorado do presidente operário quer e merece. A semana não foi só negativa. O mesmo INPE, que desmentiu a causa oficial do Apagão, mostrou redução na taxa de desmatamento na Amazônia. A sóbria revista inglesa Economist botou o Brasil na capa dizendo que ruma para se tornar a quinta potência econômica dentro de 40 anos.

A foto da capa da Economist é um Cristo Redentor transformado num foguete decolando no alto do Corcovado. O monumento, agora oitava maravilha moderna do Mundo, antes era aberto à visitação pública 24 horas por dia. Atualmente, fecha às 19h exatamente. Às 18h30, eles fecham o pequeno comércio local. Motivo? Falta de segurança. Mas como se a favela deflagrada mais próxima do Corcovado fica a dois quilômetros de distância?

Para quem quer e merece ser sede da Fifa em 2014 e das Olimpíadas em 2016, é questão de honra voltar a deixar o monumento do Cristo aberto 24 horas por dia. A infraestrutura está toda lá. Empregos seriam criados. Em noites quentes de verão, seria um belíssimo passeio subir o morro do Cristo. Deixar fechado o Corcovado à noite por motivos de segurança, em plena era do governador Sérgio Cabral, é mais um sinal de fracasso, sinal de muito barulho e pouco avanço concreto na questão de violência, desemprego, insegurança e falta de confiança. Abrir o Corcovado 24 horas por dia é um pequeno passo para simbolizar essa vontade de vencer a desordem do banditismo e seus fuzis automáticos. Abrir o Corcovado 24 horas por dia é dar boas-vindas ao Mundo em 2014.

* Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa em ritmo de Brasil Grande e Mesquinho