terça-feira, 8 de setembro de 2009

Cinema, Veneza: capitalismo mau. Chávez, santo

O documentário do americano Michael Moore, «Capitalismo: Uma História de Amor», foi exibido neste domingo no Festival de Veneza, mostrando, com humor e tragédia, a tese de que o capitalismo beneficia apenas os ricos e condena os pobres. O cineasta ataca a relação de proximidade entre banqueiros, políticos e oficiais do Tesouro dos EUA, dando a entender que em Wall Street houve benefícios incompreensíveis. No extremo da sua tese, o realizador chega a entrevistar padres, que dão conta de que o capitalismo é o anti-Cristo.

«Essencialmente temos uma lei que diz que apostar é ilegal, mas permitimos isso a Wall Street e eles jogaram com o dinheiro das pessoas, levando-o para as áreas mais loucas de derivados», disse Michael Moore em Veneza.


«Eles precisam mais do que apenas regulação. Precisamos nos estruturar de uma maneira diferente para criar finanças e dinheiro, sustentar empregos, negócios, etc, para manter uma economia saudável».

«O capitalismo é mau, e não se pode regular a maldade», conclui o documentário de duas horas.

Chávez, estrela do evento, financiador do filme
que lhe dá tratamento de santo

Outra estrela de festival foi Hugo Chávez, que desfilou no tapete vermelho e deu autógrafos. O venezuelano foi à estreia mundial do documentário "South of the Border", do diretor americano Oliver Stone, sobre as mudanças políticas na América Latina desde a sua eleição em 1998. Vestido com um terno negro e gravata vermelha, Chávez saudou Stone por dizer verdades. O documentário "representa parte do renascimento da América Latina", declarou Chávez que, ao término da exibição se aproximou do público para falar da história do continente, da colonização e de suas tragédias.

Sobre o presidente americano, Chávez comentou: "Acho que Barack Obama tem boas intenções e quero ajudá-lo".

Nenhum membro do governo de direita de Silvio Berlusconi acompanhou o presidente latino-americano, que foi convidado pelo mesmo Stone para o lançamento oficial do filme, apresentado fora de competição.

As primeiras imagens do documentário, com a apresentadora da Fox News fazendo insinuações de que o "ditador" Chávez se drogava todas as manhãs consumiando "folhas de cacau", não geraram reações do público, ao contrário da exibição para a imprensa, que reagiu com gargalhadas.

O documentário, em que sete presidentes latino-americanos de esquerda são entrevistados, incluindo Lula, foi recebido sem empolgação pela crítica cinematográfica. O jornal La Repubblica classificou o filme de Stone de retrato "benévolo" de Chávez e o Il Corriere della Sera o chamou de "hagiografia" (história da vida dos santos), ao descrever apenas aspectos "mais fáceis" do movimento bolivariano.

"Foi eleito 12 vezes. Qual ditador passou por um número tão elevado de votações?", ressaltou Stone em uma entrevista coletiva à imprensa.


O documentário apresenta Chávez sorridente, aclamado pelo povo e evita abordar assuntos delicados internos e da atualidade como os protestos dos opositores e as críticas à censura feita à imprensa. "Chávez é um fenômeno, um herói", assegurou Stone à imprensa, que considera o líder venezuelano "o primeiro mandatário latino-americano que desafiou o Fundo Monetário Internacional".

Stone, de 62 anos, ganhador de três Oscar pelo roteiro do filme "O expresso da meia-noite" (1978) e pela direção de "Platoon" (1986) e "Nascido em 4 de julho" (1989), considera que Chávez representa "a mudança" que a América Latina atravessa atualmente.