Porque hoje é sábado é a hora do planeta. Luzes se apagam, se acendem, ascendem. Viva a morte porque nunca é tarde para morrer.
Saddam Hussein enforcado. Beijo na morgue. Triunfo da morte, obra em Palermo, na Sicília. Senna na curva Tamburello. A menina Isabela, jogada da janela. Uma cena do fime Um morto muito louco, com Bernie morto e o amigo que o carrega a todo canto... Casal etrusco em Roma. Marat na banheira. Uma pin up que brinca de espanar um morto para acordar os vivos..
Balão! Balão!
Terá sido Platão quem disse que se a morte fosse boa os deuses não seriam imortais? Viver não é preciso, mas precisamos navegar no mar da saudade, no mar da internet recheado de peixes a colorir a memória, nem sempre alegre. Mas porque hoje é sábado, me dou o direito de pescar não peixes vivos, mas memórias e imagens de inúmeros cadáveres. Sem necropsia não existe laudo. Laudatória a ilusão de se perpetuar no tempo dos próximos?
Então vamos ao gurufim planetário, apagando as luzes por 60 minutos, apenas como um gesto quase inútil de solidariedade com a preocupação geral com o degradação do meio ambiente, e vamos ascender ao céu da imaginação num imenso gerúndio que gera aliterações místicas.
Pirilimpimpim
Quando eu morrer, quero estar bem velhim
Quando eu morrer, quero estar bem feliz
Quando eu morrer, quero estar sonhando
Entre desenhos, rabiscos de giz
Quero estar brincando de ensinar
a tod'as crianças desse mundo
a enfrentar os problemas a fundo
a preservar a terra e o mar
Quando eu morrer, quero a paz na praça
Nada de injustiça, nem trapaça
nem políticos nem ladrões
Apenas o amor nos corações
Quando eu morrer, quero as lindas canções
Cantando o bem-querer qu' exist' em mim
Quando eu morrer não vou perder você
Quando eu morrer, é pirilimpimpim
Quando eu morrer, quero estar bem velhim
Quando eu morrer, quero estar bem feliz
Quando eu morrer, quero estar sonhando
Entre desenhos, rabiscos de giz
Quero estar brincando de ensinar
a tod'as crianças desse mundo
a enfrentar os problemas a fundo
a preservar a terra e o mar
Quando eu morrer, quero a paz na praça
Nada de injustiça, nem trapaça
nem políticos nem ladrões
Apenas o amor nos corações
Quando eu morrer, quero as lindas canções
Cantando o bem-querer qu' exist' em mim
Quando eu morrer não vou perder você
Quando eu morrer, é pirilimpimpim
(21) - Nossos mortos (*)
Nossos mortos nos fazem sorrir, lembrar, chorar a saudade e sentir a força do amor, o valor de cada beijo, além da maior dor, aquela que o perdão não cura. O amor sem alegria na hora mais pura da perda é a absoluta tristeza. Mas nossos mortos nos fazem ver a beleza em cada pessoa, nos fazem ouvir segredos, as sonoridades mais antigas da memória, o pizzicato mais hábil de cada arpejo, o calor do desejo. Nossos mortos não são desculpa nem culpa para o que ainda vamos viver. Nossos mortos nos fazem gritar e murmurar despedidas que se acumulam na guerra e na paz, até que não mais se acumulem no anúncio inevitável de que todos seremos um dia os nossos mortos. E então, depois de tanta luta, não morreremos nunca mais.
22 – Deficiente mental (**)
O que parece uma agressão talvez seja apenas um cumprimento, uma comemoração, ou um agradecimento. O último conto cantou para subir. Morreu antes de nascer. Foi atingido por uma bala perdida, por uma única, saída de uma rajada.
(*) (**) - Os dois textos integram o Conto para fugir de balas perdidas
Por Alfredo Herkenhoff