Luz da arte grega
Em A Luz da arte grega, o professor Emmanuel Carneiro Leão, da UFRJ, afirma:
(...) Não se deve reduzir luz à claridade. A escuridão também pertence à luz e por isso nunca deixa de ser luminosa. Luz é tensão ontológica; a tensão da unidade de claridade e escuridão no próprio ser dos seres (...) Dessa unidade dinâmica de claridade e sombra em toda realização falou a maior poetisa de todos os tempos, Safo de Lesbos, integrando o brilho da aurora com o escuro da véspera, num famoso poema (...):
Véspera, carregas tudo que dispersou a brilhante aurora: / carregas vinho (aos sábios) / carregas rebanho (ao redil) / carregas da mãe o filho.
(...) A Safo no século 7 antes de Cristo, poetisa da luz grega, faz eco, no século 19, Hölderlin, poeta da luz moderna, pela boca moribunda de Empédocles, cidadão da tecnologia:
Ó Luz Celeste!
Não me ensinaram os homens. Já vai longe o tempo em que em meu coração ardente, não sabendo encontrar a terra toda viva, me voltei para ti e, confiante, como a planta, abracei-me contigo longa e cegamente em minha alegre piedade. Pois um mortal mal reconhece os Puros. Mas quando o espírito floresceu em mim, como tu floresces, eu te reconhecei e gritei: és vida. E porque viajas entre os mortais e, jovial, como o céu, lanças de ti a graça de raios, brilhantes sobre cada coisa, a fim de que todas as coisas tenham a cor de teu espírito, foi por isso que também para mim a vida se fez poesia. É que em mim estava a tua alma. E assim como tu, meu coração se entregou livremente à terra grávida, à terra sofredora. E, muitas vezes na noite santa, prometi amá-la fiel e sem medo até a morte, amar esta terra toda carregada de destino e nunca desdenhar nenhum de seus Mistérios. (...)