segunda-feira, 9 de março de 2009

DINHEIRO PARA O BEM DA EDUCAÇÃO

Dedicado ao senador Cristovam Buarque e ao Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida

"A boa educação é moeda de ouro, tem valor em toda parte", afirmou Padre Antonio Vieira, quase 400 anos atrás.

Com a qualidade do ensino comprometida no Brasil, historicamente, pela falta de recursos ou sua má divisão ou aplicação, as famílias estão cientes de que o quadro de penúria não será resolvido da noite para o dia, mas ao longo de gerações, e na melhor das hipóteses, de uma geração. Da creche ao ensino superior, todos estão atentos porque, se educar é preciso, desperdiçar recursos é um erro. Para evitar a falha, o primeiro passo é se informar. Assim como há boas e más escolas particulares, existem boas e más escolas públicas.
É responsabilidade de todos exigir bom funcionamento do ensino. No fundamental e médio, a questão premente é dinheiro. Volta e meia um ministro da Educação, de plantão, lembra que os problemas no ensino fundamental são consequência de políticas de governo ao longo de décadas anteriores. O Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, Fundeb, dispõe de algumas poucas dezenas de bilhões de reais para o setor. Todo político sabe que seria preciso destinar muito mais para a educação.
Enquanto a democratização do ensino de qualidade não vem, as famílias buscam alternativas, que são muitas, entre elas, matricular jovens em cursos especiais e profissionalizantes. Quem tem condição financeira costuma achar mais depressa os melhores colégios, que encaminham os jovens para as melhores universidades. A busca já não é tão fácil para as famílias que vivem as agruras do cotidiano de salário baixo e desemprego alto.
Nesse universo de preocupações, os mestres têm a palavra: o vice-reitor da Universidade Candido Mendes, professor Antonio Luiz Mendes de Almeida, escreveu: "É tarefa complicada para os pais encontrar uma boa escola com mensalidades acessíveis, pelo menos para aqueles que se preocupam em propiciar uma boa educação a seus filhos. Infelizmente, desde há muito o ensino público está arruinado e a iniciativa privada passa por momentos difíceis em razão da crise que entrava a economia, aliada à má formação docente e também à deterioração dos costumes que atingiu a família e, por conseqüência, o comportamento dos alunos. Temos hoje um professorado desmotivado e um alunado desinteressado, o que afeta o trabalho educacional. Há, contudo, algumas ilhas de boa atuação, e os pais devem checar o projeto pedagógico, a composição do corpo docente e a qualidade das instalações para ver se a mensalidade que pagarão corresponderá à contrapartida devida. A educação melhoraria se mais pais se importassem e fiscalizassem o desempenho das escolas".



POLÍTICOS SE DÃO BEM COM A GRANA, PROFESSORES, BEM MAL

Os professores sindicalistas observam que não é papel de sindicato definir qual escola é boa ou má. As famílias que estiverem passando por dificuldades devem tentar negociar com o proprietário de uma escola um desconto nas mensalidades ou tentar uma bolsa. Nem sempre isso é fácil ou possível.
Todo mundo de bom senso sabe que educação é tão importante que vale a penas sacrificar gastos com produtos supérfluos para destinar o pouco dinheiro na formação escolar. Mas uma família em apuros pode ser ver iludida pela propaganda de escolas privadas. O ensino público vive tão sem grana que não tem como fazer publicidade. Quem tira vantagem são os políticos, e quase sempre mentindo.
Professor ganha mal e quase nunca merece respeito de prefeitos, deputados, governadores, congressistas, ministros e presidentes.
Márcia Poncioni Brandão, diretora do Externato Santo Antônio, uma pequena escola humilde que há quase 80 anos instrui crianças numa das últimas casinhas da Av. N. Sra. de Copacabana, ressalta o aspecto humanitário do magistério. "A educação é bem mais que a simples transmissão de conhecimento. É um processo de formação de cidadãos conscientes e participantes, preparados para ajudar a construir uma sociedade mais justa, sob o ponto de vista coletivo, e aptos a alcançar uma qualidade de vida melhor, sob o ponto de vista individual. A escolha da escola para nossos filhos tem de considerar tudo isso, sobretudo na atualidade, em que os pais têm cada vez menos tempo para o tão necessário convívio familiar."
Todos os anos, no Brasil, uns 700 mil jovens se formam no ensino superior e pressionam o mercado de trabalho que, diante de tanta oferta, passa a exigir mais qualificação. O próprio diploma nem sempre garante colocação. Com muita competição, cresce a busca pelos cursos profissionalizantes e de atualização. Independentemente de paliativos como a adoção do regime de cotas para matrícula de universitários segundo padrões de pobreza e origem étnica, em detrimento de aferição de conhecimento, cada família enfrenta um desafio que se renova periodicamente e é sempre de curto prazo: matricular.
Grandes corporações estão destinando cada vez mais recursos para dar ensino básico a milhares de crianças carentes. A responsabilidade social já é rubrica fixa no orçamento de algumas das maiores empresas do Brasil. Pela internet, pode-se descobrir as oportunidades de aprimoramento que essas instituições oferecem. Esses apoios ajudam, mas não equacionam o problema social. Jovens e adultos contam ainda com a importante contribuição de entidades patronais como Sebrae, Sesc, Senai, Senac etc, oferecendo mil e um cursos de profissionalização e até acadêmicos, nas mais diversas áreas, em cidades grandes e pequenas, e até oferecendo programas de alfabetização no setor rural.


DEBATES PARA REVOLUCIONAR A LEGISLAÇÃO

Fóruns e seminários se multiplicam para discutir os destinos da educação nacional. Não imprta o barulho ou a cobertura da mídia. Sem o apoio maciço dos políticos, de forma apartidária, o problema da boa educação no Brasil está longe de ser resolvido.
Como um caminho para o fortalecimento da cidadania, a educação, como a saúde, é um direito de todos e um dever do Estado. Está na Constituição Cidadã. Mas, na realidade, os congressistas, democraticamente eleitos, matriculam os seus próprios filhos em escolas quase sempre entre as mais caras, enquanto as crianças da maioria dos pais brasileiros enfrentam problemas em escolas com poucos recursos orçamentários.
A propósito, corre na internet uma campanha que parece mais humor ou um sonho idealista do que uma prática concreta de mudança, e tem o patrocínio do senador Cristovam Buarque, uma sumidade na cruzada pela valorizaçção da educação. Trata-se daquela história de obrigar filho de todo político a ser matriculado em escola pública, de verador a senador, de governador a ministro. Nos anos 90, defendi essa tese bem humorada, o que até levou o Professor Antonio Luiz Mendes de Almeida a citar meu nome como autor da pequena loucura inconstitucional de forçar filho de político a estudar em escola pública e assim garantir a grana que faz coisas belas no setor médio e fundamental do ensino: está lá num dos livros do mestre da família maranhense Candido Mendes a minha pensata que nem sei se é orginalmente minha... Pouco importa. Viva o senador Cristovam Buarque...!
Concluindo: há muitos esforços louváveis no governo federal sob o Presidente Lula e em governos estaduais e municipais. Mas como sustenta o Professor Luiz Mendes de Almeida, a educação de qualidade não será alcançada com maniqueísmo nem com dicotomia entre público e privado. Professores, pais e alunos querem a aprovação de mais recursos e melhor legislação. Enquanto isso não vem, as famílias procuram boas escolas ali, boas alternativas acolá. E fica cada vez mais claro: educar é preciso, sim. Mas educar também os poderes: fazê-los trabalhar para um Brasil em que todas as crianças possam ser bem preparadas para a vida, todas as escolas, particulares e públicas, possam pagar salários dignos aos nossos mestres, hoje tão injustamente sacrificados.