quinta-feira, 7 de maio de 2009

Educação e Antonio Luiz Mendes de Almeida

A seguir, mais uma colaboração do Vice-Reitor da Universidade Cândido Mendes para o Correio da Lapa - *

VÁRIAS ASPAS

Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida

LULA DÁ MAU EXEMPLO

Pergunto a minhas abotoaduras que jamais respondem. Calam-se com discrição, porque o Tribunal Superior Eleitoral fica inerte, quieto, mudo, enquanto “o cara”, com sua candidata a tiracolo, sai para qualquer canto do país, subindo em palanques, soltando seus solecismos tradicionais, em campanha descarada. Quando uma intervenção cirúrgica feita, em sigilo, há quase um mês, iria vazar, montou-se uma requintada entrevista coletiva, com a participação de solícitos médicos à mesa. Para qualquer alfabetizado, a encenação foi mais uma jogada de marqueteiro esperto para que a doença cruel motivasse a compaixão do populacho e mantivesse a oposição em respeitoso silêncio. A histórias não foi bem contada, mas vamos fazer de conta de que é verdadeira... O patrono da senhora guerrilheira declarou, há algum tempo, que a “nossa saúde era quase perfeita” daí, como sou ranheta, indago curioso: Por que a “mãe do PAC” não foi atendida pelo SUS, como seus possíveis eleitores? Em outro acesso de verborragia, o presidente “singular” disse que “não é crime deputado dar passagens”, confessando que ele mesmo o fez para seus colegas sindicalistas. Lembro-me de que à época, ele proclamava que “havia trezentos picaretas no congresso” levando-me a crer, com justas razões, que se autoincluiu na turma.

OBAMA DEFENDE BOA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO DO JARDIM AO FIM DO CURSO MÉDIO

Saio de nossas atribulações gerais para as questões educacionais que sempre ganham as manchetes com notícias lamentáveis, provocando uma cascata de comentários diversos, alguns anódinos, outros corretos ou desfocados. Desconfio nestas linhas iniciais de que acolherei os recortes das citações, poupando-me o esforço de criar. Obedeço à hierarquia e, embora nada tenha a ver com nossa situação tupiniquim aflitiva, entrego a palavra do Presidente dos Estados Unidos, transcritas por Mauro Santayana (respeito profundamente o direito autoral) : “Obama defende uma educação de qualidade, do jardim ao fim do curso médio que prepare as pessoas para a vida comunitária e o trabalho. As universidades devem ser centros de reflexão e de alta pesquisa. Ele deu o exemplo de seus avós maternos que não fizeram a universidade, tiveram êxito em sua vida profissional e foram felizes (...) O presidente lembrou que o desemprego entre os de formação universitária, em seu país, é três vezes superior aos que só têm o equivalente ao nosso segundo grau”. É o óbvio, mas, infelizmente, Barack Obama e sua visão real, concreta, correta, realista é presidente dos “irmãozinhos do norte” ou acima no mapa.

ESCOLA PÚBLICA É QUASE 100% O PIOR DO ENEM

Aqui embaixo temos a informação triste de que os estabelecimentos públicos representam quase cem por cento das escolas com pior desempenho no Enem. E são estes alunos que terão trânsito livre para chegar à universidade. Não sei à guisa de que, a observação do ministro é meio nebulosa e fora do contexto: “Há que se considerar que ainda é muito pouco o gasto médio por aluno na rede estadual. Praticamente, é comparável com uma mensalidade das melhores escolas particulares do país”.

A ignorância deve ser minha, mas desconheço o que uma coisa tem a haver com a outra. A União, Estados e Municípios nos tungam impostos e taxas sem dó e não revertem a dinheirama arrecadada para educação, saúde e segurança. Defendo, há décadas, uma voz rouca no deserto, que o ensino fundamental seja da competência da União que dispõe de muito mais verbas e não fique entregue aos pobres municípios de pires na mão à cata de ICMS de grande fábrica que lhes dê algum recurso.

Uma intervenção lateral, recolhida de Leandro Mazzim, do Informe JB, sob o título “Bonde da educação : A educação do Brasil não é a melhor do mundo, mas os reitores das federais que se reuniram na terça com o ministro da Educação em Brasília, não abrem mão de carros turbinados, com ar condicionado e bancos de couro (foto em anexo)”.

QUEM PODE PAGAR EXIGE QUALIDADE DA ESCOLA

Com na nota, ficamos sabendo como as verbas são gastas e desperdiçadas, ou seja, inexiste gestão qualificada, o que, igualmente, acontece nas escolas estaduais, segundo os conceitos das Profa. Sylvia Vergara, doutora em Educação que aponte como causa do baixo rendimento: “Não é possível destacar apenas um fator. Há que se levar em conta, por exemplo, que o aluno da escola pública tem características diferentes do da particular. A instrução familiar e a renda, por exemplo (outro...) influenciam no resultado final. Mas é claro que estamos num país em que não se privilegia a educação pública. O setor é espaço para benesses. No ensino privado, a cobrança é maior, quem procura e pode pagar, exige qualidade. Não gostou, troca de escola. Os gestores não são preparados. Desde o diretor da escola não há essa formação. Na escola particular há metas definidas”. Qual é a novidade, cara pálida? Há outros depoimentos de doutores e quem sou eu, simples mestre escola que aspirou a “poeira pedagógica” para discordar dos estudiosos sem prática?

COTAS ATÉ PARA EUNUCOS, É SÓ O QUE FALTA

Fiz a coluna à mão e perdi a tabulação, daí parto para o final, alargando as linhas, desalojando os condôminos... Fora do espetáculo deprimente do Enem, com todas suas conseqüências desastrosas, há mais um tema, o de cotas para deficientes, egressos (como sempre) da escolas públicas (só ratifica a sua ruína), elevando a reserva, talvez, para 60%. Há um aspecto positivo, não pensado pelos autores, que sempre acentuei: é uma maneira de, enfim, a universidade pública deixar de privilegiar os já privilegiados com a gratuidade indiscriminada. Fora isso, sou contra desde o início e vejo que o senador Demóstenes Torres (estará lendo bons autores?) tem a mesma posição ao dizer, na última citação que aproveito: “É inconcebível. Estamos jogando no lixo a idéia de se vencer na vida pelo mérito. Defendo que o Estado só dê esse tipo de empurrão para os mais pobres. Por que os deficientes ricos também não precisariam de vagas? Será que vamos chegar ao estado da Índia que tem cotas até para eunucos?”

Senador, não ofereça essa sugestão que eles aproveitam, principalmente, se ampliarem para os eunucos sem ética e moral...

P.S. Estourei o espaço, mas não pode faltar; Três vezes MENGÃO!

FIM

*- Observe-se que no artigo acima, afora o título, os entretítulos entre alguns parágrafos não constam do original enviado pelo eminente educador. São apenas destaques gráficos deste blogue-jornal para o texto de alta precisão. O Professor Antonio Luiz Mendes de Almeida produz uma crítica que mais parece um tiro certeiro no cérebro desses políticos e gestores burocratas que tratam, com desídia, da educação no Brasil.