terça-feira, 5 de abril de 2011

A expulsão de Agnelli da Vale - Coluna dos Nossos Dias


A expulsão de Agnelli

da Vale e o Brasil

de Dilma diante do Mundo

Espero que a expulsão de Roger Agnelli da Vale tenha sido só um pequeno prazer a que todo poder costuma sucumbir, Dilma via Mantega, mandando bala publicamente na segunda maior empresa do Brasil e uma das maiores do mundo. Lula também não gostava de Roger, que catapultou a ex-estatal nos últimos dez anos, multiplicando todos os números - lucros e bens, por muitas vezes. O governo, via fundos de pensão e BNDES, este que fomentou a privatização, tem expressivo percentual do capital votante da Vale, que tem valor bem menor do que o do restante das ações da mega companhia a caminho de ter 50 mil empregados no Brasil e no Mundo. Algumas lições e sinais polêmicos ficam visíveis nesse episódio de transição de direção: o governo, como importante acionista e player desta player internacional, poderia ter estimulado uma transição de forma interna, respeitando os demais grandes acionistas e acionistas não votantes em geral. Mas preferiu o escândalo. Pano de fundo: A Vale anda investindo a cada ano o dobro do seu lucro anual e estava ou está vendo os custos internos no Brasil, sua carga tributária, o real valorizado etc, como problemas a superar. Por isso vem aplicando muito no exterior, por melhores oportunidades. Dilma, tal qual Lula, mas com vocação mais autoritária, meteu a alfanja na camisa de seda que veste a cúpula de executivos da Vale - ganham alguns destes quase 50 milhões de reais de salários e bônus ao ano. Mas Dilma sinalizou para Wall Street que intervém em empresa privada que se apresenta como das mais eficientes hoje no planeta. O que se imagina, a julgar pela grande mídia, é que Dilma quer a Vale investindo mais no Brasil, o que significa menos no exterior. Resta saber se haverá compensações e estímulos, ou se os números que fazem os acionistas chorar de alegria vão agora diminuir. O lucro da Vale representa mais possibilidades de inclusão social nas políticas da administração PT. Forçar a Vale a fazer diretamente inclusão social talvez seja um fenômeno estranho. Será que faz sentido essa minha reflexão? O Brasil está cheio de planos e de novas siderurgias... Sim, estas levam o país a vender minério de ferro com mais valor agregado. Mas China e Índia já fazem isso, têm o maior parque siderúrgico. Os paises ricos querem cada vez menos fumaça, apesar dos filtros alemães de última geração que limparam o ar de Volta Redonda. Pittsburgh é ex-cidade do aço. Lá agora é informática, ou melhor, robótica. O Brasil vende ferro para a China com garantias de fornecimento por décadas. Por mais aços duros e laminados que vendamos, ainda seremos exportadores de ferro do subsolo, produtos típicos de países pobres ou emergentes, este último um conceito como mero atenuante da pobreza. Dilma não se queimou, apenas jogou pesado, talvez excessivamente. Desde a crise de 2008 ficou claro que o Estado tem de intervir sim no setor privado. Mas o Mundo fez isso no caos, Dilma está intervindo em céu de brigadeiro, fazendo algo que espanta todo mundo, da bolsa de Nova Iorque ao maior BNDES do Mundo que é Pequim. Mas nesta terça-feira, o país na santa paz da Dilma e do Mantega, mantém o otimismo habitual: a Bolsa em Sampa mostra ligeira alta, com ligeira alta dos papéis da Vale...

(Por Alfredo Herkenhoff - Correio da Lapa em 4/04/2011)