sexta-feira, 20 de março de 2009

Leblon, o último bairro

O Leblon é bom

O texto a seguir foi publicado no Caderno B do Jornal do Brasil em 7 de julho de 2003. Ao tratar da especulação imobiliária no Leblon, causei mal-estar dentro e fora do jornal. Deu um certo trabalho fazer o rápido levantamento dos prédios que estavam sendo levantados e dos imóveis que estavam sendo demolidos naquele semestre de 2003. Quase seis anos depois, o que se vê? Mais e mais prédios, shoppings, projetos de shoppings etc. Onde está a paciência para apontar as edificações erguidas no Leblon de seis anos para cá e que não estão na compilação da falecida coluna no JB? Novos prédios e papparazzi... Mas o Jobi, ah o Jobi! O Jobi continua lindo, e o garçom Paivinha rindo à toa...

Leblon, o último bairro


O Leblon, cercado pelo mar, pela Lagoa e pelos canais do Jardim de Alá e da Av. Visconde de Albuquerque, já foi chamado de ilha em Ipanema e de apêndice da Gávea. O bairro, oitentão, guarda o charme do velho areal e, como nunca, é desejado por 9 entre 10 estrelas.

Copacabana nasceu no século 19, explodiu no pós-guerra e esgotou-se nos anos 60/70, quando Ipanema copacabanizava-se. Nos 80, começou na Barra da Tijuca o boom que não pára. Meio retângulo, meio triângulo, o Leblon, quase 2km pra lá e pra cá, ficou esquecido e agregou gente bonita e qualidade de vida. Atrai os happy few e os novos ricos de sempre. Todo mundo no bairro é retirante ou descendente direto. A diferença é que o caminhão não é pau-de-arara, mas de dinheiro. O bairro tem o maior coeficiente demográfico de pessoas bem-sucedidas. Essa concentração mantém, com simplicidade, um ritmo provinciano, de boemia light e clima de aldeia urbana encantada.

Se Chico Buarque disse que carioca não gosta de restaurante em beira de praia, e se a própria Praia do Leblon não é lá essas coisas, o lugar ficou praieiro sem aquele ar turistóide de Copa. O próprio Chico se mudou de mala e cuia para um cafofo ao pé do Morro Dois Irmãos.

Capixaba-lebloniano que morou na Praça Antero de Quental nos anos 50, chão de meus primeiros passos, ouso dar uma sugestão: quem puder que separe uns caraminguás, em dólares, e aguarde os seguintes lançamentos de um pequeno boom, que tem tudo para ser passageiro ou temporão:

Avenida Niemeyer, nº 2, prédio em construção - só ficou a fachada do velho Hotel Leblon, o eterno pano de fundo das corridas de baratinhas, 60 anos atrás, com o piloto Chico Landi arrancando suspiros. Na Aristides Espinola, a rua dos restaurantes Antiquário, Diagonal e Guanabara, no n° 6, esquina com Delfim Moreira, diante do mar, um edifício de dois pavimentos já está vazio. Na Rita Ludolf, n° 74, do lado da Piauí (aliás, aqui está o primeiro prédio alto do bairro), paira vazio um terreno imenso, sem placa. Na General Artigas, colado à Padaria Rio-Lisboa, o edifício de três andares foi demolido em junho. Na San Martin, esquina com Artigas, prédio em fase de conclusão, multifamiliar.

Na Rainha Guilhermina, ao lado do Restaurante Caneco 70, diante do mar e sendo cobiçado, a exemplo da Rio-Lisboa, está um terreno vazio. Na Professor Artur Ramos, 157, prédio de oito andares em construção. Na charmosa Venâncio Flores, 460, quase esquina com Humberto de Campos, prédio em fase de elevação. Ali ficava o antigo colégio Canarinho. Na Bartolomeu Mitre, trânsito denso, endereço dos ex-Un Deux Trois e Tanaka Sun, casa de dois andares já desocupada. Na João Lira, 66, no lugar do ex-Hotel Carlton dos recém-divorciados, um imóvel residencial está em fase de acabamento.

Onde já existiram a Boate Vogue, o Bar Leblon e o Míkonos, na Rua Cupertino Durão, esquina com Humberto de Campos, começou uma construção. Perto do Braca, na José Linhares, também com Humberto de Campos, jaz delicioso lote, sem placa, onde antes Gatão e Terras Brasilis. Na mesma Cupertino, 66, prédio de seis andares, mais cobertura, se acha em construção. Na General Urquiza, atrás do Correio, ao lado do Fellini, tapume de madeira. Está caindo o sobrado onde noutros tempos funcionaram o Bela Blu e a barulhenta discoteca Circus. Chegaram a pensar em motel ali, mas a idéia foi embargada.

Na Rainha Guilhermina, esquina de Av. Ataulfo de Paiva, a 30m do Jobi, o colégio San Patrick's funciona em duas casas das cinco de dois andares, mas o fim do conjunto é dado como favas contadas, ou foi tudo tombado? Na mesma área, Ataulfo de Paiva 1.098, das cinco lojinhas do térreo, ainda estão lá a relojoaria, a boutique, a de flores e o Rei Jeans. A camisaria já fechou, prenunciando roupa nova no pedaço. Especula-se que Artur Sendas não manterá dois supermercados separados por 200 metros com a Casa Plataforma no meio. Quem sabe os donos ibéricos e o Alberico Campana não vão transformar este complexo de teatros numa Broadway? O provável, porém, é mais um residencial. Enfim, o bairro é a família maravilhosa que cresce. Quem não chegar o quanto antes, não chegará jamais depois.

Por Alfredo Herkenhoff
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