Estará a internet ficando mais
forte do que o Quarto Poder?
forte do que o Quarto Poder?
Editorial do Correio da Lapa (*)
Aos poucos, a internet substitui o velho jornalismo, como o Quarto Poder nas diversas democracias e quase democracias.
A Venezuela, antes de Hugo Chávez tentar o primeiro golpe de estado como coronel do Exército em 1992, lá se vão 17 anos, era então uma democracia estável, uma das mais estáveis na América do Sul. Desde então, Hugo Chávez manda, mesmo tendo perdido o poder por curtos períodos, mesmo dentro da cadeia, por causa do golpe fracassado, já era o homem mais poderoso do pais. O caudilho populista manda e desmanda no país há década e meia.
O Chile, até o golpe do 11 de setembro de 73, era também uma das democracias mais estáveis do continente. Bastou um médico socialista, Salvador Allende, tentar implementar reformas mais radicais para as forças conservadores reagirem com violência extrema. Jornais ditos democráticos ajudaram no golpe.
No Chile houve a quebra institucional por causa de reformas rápidas. Na Venezuela, diametralmente por motivos opostos: houve a quebra e o surgimento do militar trapalhão porque não houve reforma nenhuma durante décadas, especialmente na economia. A alta burguesia venezuelana ficou brincando de fazer compra de luxo em Miami e Nova Iorque, esquecendo dos favelados e achando graça da corrupção na esfera dos políticos.
No Irã, até um mês atrás, havia aquela estabilidade politica, a república dos aiatolás, aquela rotina dos discursos radicais de Ahmadinejah contra Israel e tal. Bastou a classe média urbana jovem se ligar nos sinais emitidos pelas democracias ocidentais, via internet, se ligar nos sinais trocados entre eles, jovens no Irã, para a instabilidade aparecer. O candidato Mousavi nem chega a ser um moderado, mas é menos radical e isso é o bastante para desafiar o status quo teocrático.
Em todos esses exemplos, há o peso considerável da informação que circula entre os eleitores. Antes, os jornais balizavam possibilidades e apoios políticos. Hoje a coisa pulverizou. Foi a internet que tornou possivel à maciça maioria branca de olhos claros votar sem medo no negro Barack Obama. Também foi e é a internet a ferramenta protagonista na crise no Irã.
Informações das maiores democracias interagindo com jovens e estudantes iranianos. Essa juventude, maioria maciça no pais de velhos revolucionários dos anos 70, vive o drama do regime que nega liberdade, que censura toda a imprensa e sucumbe à corrupção.
Mas no Irã, com petróleo e fanatismo religioso, o regime xiita pode fechar ainda mais, em vez de se abrir aos anseios do segmento mais moderno da juventude urbana.
No Brasil, com a internet dominada pelo conteúdo trash, sexo, fofoca e lazer, a ferramenta da liberdade ainda não deu o grande susto. Mas isso não deve tardar. A internet está assumindo o lugar da grande imprensa enquanto balizador político. Você anda nas ruas e quase não vê mais muita gente segurando um exemplar de jornal, como antigamente. Quando muito, um trabalhador humilde com um Meia Hora aqui ou ali na mão - jornal, aliás, que podia até mudar de nome e se chamar "Bunda Inteira", tamanha a quantidade de nudez feminina na capa e contracapa. É disso que o povo gosta? A preferência nacional? Mulheres mais descoladas, precisando, eventualmente, de serviços desses jornais com tanta vulgaridade, acabam dobrando a primeira página e a última, com vergonha pública de tanta explicitação calipígia.
Não importam matizes. A internet chegou com o poder de causar surpresas políticas. A quase vitória de Fernando Gabeira já teve um pouco o dedo da internet. Gabeira perdeu porque foi mal assessorado na reta final. O novo prefeito Eduardo Paes ganhou merecidamente porque foi bem assessorado no segundo turno.
A televisão ainda é a força maior do Quarto Poder. E por saber disso, a TV tenta como nunca se passar por internet. Todos os jornais e programas de Rede Globo, por exemplo, ou convocam internautas a enviar conteúdo e sugestões, ou anunciam seus sites para que internautas tenham a TV em seus PCs ou nesses pequenos aparelhos, celulares, i-pod, etc, que está todo mundo plugado na grande rede.
Este esforço da Globo decorre desta compreensão estratégica da nova ferramenta que torna todo mundo um jornalista. A diferença fundamental entre uma Rede de TV e a internet é que nesta, com a pulverizarão, reside a surpresa, o inesperado, o que bomba da noite para o dia, o que torna possíveis Gabeira e Obama, o que torna possível sonhar com a liberdade no Irã, na Venezuela, em Cuba e na Coreia do Norte.
Grandes jornais e revistas também promovem mudanças, alimentam seus grandes portais. Mas mesmo assim, esta atualização não substitui o fator surpresa que prepondera e explode a todo momento na internet como ferramenta maior da mudança de padrão político. A razão é simples: na internet não existe patrão, não existe censura interna, recomendações de aquários, nada, na grande rede rola o momento em que as coisas se unem, fenômenos que levam tantas pessoas a decidir votar em determinada tendência. Na internet, cada vez mais gente percebe que vale a pena votar, votar sempre e cada vez melhor, de forma mais consciente, ou seja, valorizando a liberdade e com base em informações emitidas também com liberdade. Na internet todo mundo virou jornalista bem antes de o Supremo cassar a exigência do diploma universitário. Políticos brasileiros começam a se dar conta do fenômeno.
(*) Por Alfredo Herkenhoff
A Venezuela, antes de Hugo Chávez tentar o primeiro golpe de estado como coronel do Exército em 1992, lá se vão 17 anos, era então uma democracia estável, uma das mais estáveis na América do Sul. Desde então, Hugo Chávez manda, mesmo tendo perdido o poder por curtos períodos, mesmo dentro da cadeia, por causa do golpe fracassado, já era o homem mais poderoso do pais. O caudilho populista manda e desmanda no país há década e meia.
O Chile, até o golpe do 11 de setembro de 73, era também uma das democracias mais estáveis do continente. Bastou um médico socialista, Salvador Allende, tentar implementar reformas mais radicais para as forças conservadores reagirem com violência extrema. Jornais ditos democráticos ajudaram no golpe.
No Chile houve a quebra institucional por causa de reformas rápidas. Na Venezuela, diametralmente por motivos opostos: houve a quebra e o surgimento do militar trapalhão porque não houve reforma nenhuma durante décadas, especialmente na economia. A alta burguesia venezuelana ficou brincando de fazer compra de luxo em Miami e Nova Iorque, esquecendo dos favelados e achando graça da corrupção na esfera dos políticos.
No Irã, até um mês atrás, havia aquela estabilidade politica, a república dos aiatolás, aquela rotina dos discursos radicais de Ahmadinejah contra Israel e tal. Bastou a classe média urbana jovem se ligar nos sinais emitidos pelas democracias ocidentais, via internet, se ligar nos sinais trocados entre eles, jovens no Irã, para a instabilidade aparecer. O candidato Mousavi nem chega a ser um moderado, mas é menos radical e isso é o bastante para desafiar o status quo teocrático.
Em todos esses exemplos, há o peso considerável da informação que circula entre os eleitores. Antes, os jornais balizavam possibilidades e apoios políticos. Hoje a coisa pulverizou. Foi a internet que tornou possivel à maciça maioria branca de olhos claros votar sem medo no negro Barack Obama. Também foi e é a internet a ferramenta protagonista na crise no Irã.
Informações das maiores democracias interagindo com jovens e estudantes iranianos. Essa juventude, maioria maciça no pais de velhos revolucionários dos anos 70, vive o drama do regime que nega liberdade, que censura toda a imprensa e sucumbe à corrupção.
Mas no Irã, com petróleo e fanatismo religioso, o regime xiita pode fechar ainda mais, em vez de se abrir aos anseios do segmento mais moderno da juventude urbana.
No Brasil, com a internet dominada pelo conteúdo trash, sexo, fofoca e lazer, a ferramenta da liberdade ainda não deu o grande susto. Mas isso não deve tardar. A internet está assumindo o lugar da grande imprensa enquanto balizador político. Você anda nas ruas e quase não vê mais muita gente segurando um exemplar de jornal, como antigamente. Quando muito, um trabalhador humilde com um Meia Hora aqui ou ali na mão - jornal, aliás, que podia até mudar de nome e se chamar "Bunda Inteira", tamanha a quantidade de nudez feminina na capa e contracapa. É disso que o povo gosta? A preferência nacional? Mulheres mais descoladas, precisando, eventualmente, de serviços desses jornais com tanta vulgaridade, acabam dobrando a primeira página e a última, com vergonha pública de tanta explicitação calipígia.
Não importam matizes. A internet chegou com o poder de causar surpresas políticas. A quase vitória de Fernando Gabeira já teve um pouco o dedo da internet. Gabeira perdeu porque foi mal assessorado na reta final. O novo prefeito Eduardo Paes ganhou merecidamente porque foi bem assessorado no segundo turno.
A televisão ainda é a força maior do Quarto Poder. E por saber disso, a TV tenta como nunca se passar por internet. Todos os jornais e programas de Rede Globo, por exemplo, ou convocam internautas a enviar conteúdo e sugestões, ou anunciam seus sites para que internautas tenham a TV em seus PCs ou nesses pequenos aparelhos, celulares, i-pod, etc, que está todo mundo plugado na grande rede.
Este esforço da Globo decorre desta compreensão estratégica da nova ferramenta que torna todo mundo um jornalista. A diferença fundamental entre uma Rede de TV e a internet é que nesta, com a pulverizarão, reside a surpresa, o inesperado, o que bomba da noite para o dia, o que torna possíveis Gabeira e Obama, o que torna possível sonhar com a liberdade no Irã, na Venezuela, em Cuba e na Coreia do Norte.
Grandes jornais e revistas também promovem mudanças, alimentam seus grandes portais. Mas mesmo assim, esta atualização não substitui o fator surpresa que prepondera e explode a todo momento na internet como ferramenta maior da mudança de padrão político. A razão é simples: na internet não existe patrão, não existe censura interna, recomendações de aquários, nada, na grande rede rola o momento em que as coisas se unem, fenômenos que levam tantas pessoas a decidir votar em determinada tendência. Na internet, cada vez mais gente percebe que vale a pena votar, votar sempre e cada vez melhor, de forma mais consciente, ou seja, valorizando a liberdade e com base em informações emitidas também com liberdade. Na internet todo mundo virou jornalista bem antes de o Supremo cassar a exigência do diploma universitário. Políticos brasileiros começam a se dar conta do fenômeno.
(*) Por Alfredo Herkenhoff