sábado, 16 de abril de 2011

Itália é ditadura midiática. Berlusconi cai em armadilha - Parte 1 de 5

Por Alfredo Herkenhoff
Correio da Lapa – Rio de Janeiro, 16/04/2011

Itália é ditadura midiática. Berlusconi cai em  armadilha
Primeira parte - 1 de 5
 
A Itália se ferrou depois de manter por mais de duas décadas a televisão como monopólio do Estado, com a RAI – os dois canais da TV estatal que funcionavam mesmo assim como uma TV comercial, mas não tanto quanto as redes do mundo de hoje. Na Itália, por exemplo, a TV a cores chegou bem depois de chegar ao Brasil. Sabe por que? Porque havia uma compreensão de que a novidade levaria muita gente a investir apressadamente no novo aparelho – supérfluo - em detrimento de investimentos prioritários como saúde, educação e mesmo outros produtos mais úteis, como geladeira e aquecedores para o inverno etc.

 Mas a verdade é que era midiática chegou ferrando a Itália e ganha hoje, com a Era Digital, uma grandeza e uma gravidade que merecem profundas reflexões. Nesses quase 30 anos de TV Particular com Vale Tudo, a Itália  analfabetizou a massa, a audiência.

 O país se tornou uma ditadura moderna. Tudo parecia ir bem, se o homem mais rico, dono do ibope na Itália com TVs, rádios e jornais, dono do poder político, não tivesse caído na própria armadilha em que se criou. O presidente Silvio Berlusconi é hoje um desastre midiático em escala planetária com o escândalo dos festins noturnos no estilo sexo com Bunga Bunga. Nas brechas da lei o poderoso chefão ele vai se safando, mas a sua imagem de safado cresce e se expande como uma tsunami.

 Na internet todo mundo é contra Mister Bee, mas a rede pulveriza. A televisão, o mainstream, ainda é o fator político determinante. E a televisão é dele, do poderoso chefão.

Temos ainda a questão dos grampos de telefonemas que na Itália se chama intercettazione. O grampo vai ganhar uma lei ad personam, isto é, adrede votada e voltada para salvar Berlusconi, o Mister Bee, também conhecido como Il Cavaliere.

 O presidente sabe que caiu num desastre midiático, mas acredita que a grande mídia ainda pode salvá-lo.  
Continua