sexta-feira, 15 de abril de 2011

Bunga Bunga é uma aula de teatro na política - Parte 4 de 5


Bunga Bunga é uma aula de teatro na política
Parte 4 de 5

Por Alfredo Herkenhoff – Correio da Lapa – Rio de Janeiro, em 15 de abril de 2011.


O escândalo sexual envolvendo o premier Silvio Berlusconi é uma aula de teatro político. As duas meninas entrevistadas pelo jornal oposicionista La Repubblica disseram que não rolou bacanal Bunga Bunga, que elas não fizeram nada além do que fazem belas escorts em condições normais de temperatura e pressão (algumas das convidadas fugiram no meio do ritual). Mas elas levaram a fama e não levaram nada de lucro algum, ao contrário, só tiveram prejuízos morais.
 São essas duas jovens invisíveis que não fizeram nada e estranhamente se tornaram visíveis em demasia. Então, não receberam nada e agora acusam e acusam. Outras jovens das mais de 30 participantes já tiveram seus 15  minutos de inglória.
 O caso parece reverter a máxima desses tempos digitais que valorizam uma personalidade pelo número de hits e seguidores em ferramentas como Google, Twitter e Facebook. Talvez esteja ocorrendo um fenômeno novo na Itália capaz de mexer complexamente com máximas e boutades tradicionais, como a voltairiana de falem mal, mas falem de mim, ou no futuro todo mundo será famoso por 15 minutos. As jovens italianas, que foram pegar dindim com o bilau do presidente, além de mal faladas, estão ficando mal vistas, invisíveis no extremo da fama.
 E sem querer, elas estão expondo o fenômeno da guinada à direita que vem rolando no mundo, de Pequim a Brasília, e principalmente na Itália, França e Alemanha.
 Mas em vez do velho fascismo nacionalista do Século 20, o que parece estar surgindo é um neofascismo que provavelmente vai se revestir de tons verdes, ecologicamente corretos, porém  restritivo, retrocesso dos Direitos Civis e Direitos Humanos.  Da xenofobia, com recrudescimento da intolerância cultural e racial, da proibição de um simples cigarrinho numa calçada em New York a guerras higiênicas e assimétricas, com potências e suas armas de alta tecnologia buscando preservar ecossistemas em países pobres. Pretextos. Mas, no extremo oposto deste pessimismo, estão os otimistas pensando que a direita mais rancorosa vai sair enfraquecida em conseqüência de escândalos.
 E resta a internet para impedir esses perigos que na Itália ganham uma estranha visibilidade e uma personificação: putas e Silvio Berlusconi.
Continua