domingo, 15 de março de 2009

COLUNA (3) DO ALFREDO CORREIO DA LAPA

ESCÂNDALO TIPO EXPORTAÇÃO
Sean longe do pai David Goldman
por causa do padrasto Lins e Silva

Poesia e música no Edifício Chopin


Devolver o menino Sean ao pai americano não é favor nem política externa, é ato de justiça. Cada dia de Sean longe do pai David envergonha o Brasil. O padrasto Lins e Silva é amoroso, mas está demonstrando egoísmo, crueldade, prepotência e ignorância. Alô Lula, olha o Barack Obama aí!

DIA DA POESIA COM ROCK
E SAMBA PARA 200 TALHERES



Uma festa inesquecível num grande apartamento de Copacabana. Nonato Buzar tocou, cantou e apresentou jovens talentos. Arnaldo Brandão tocou com banda e apresentou novas composições e novos talentos. Nonato, parceiro de Chico Anysio no clássico Rio Antigo, viu a galera, gente madura e garotada dourada, reconhecer a canção como um dos três maiores hinos à Muy leal e hermosa Cidade de São Sebastião...

As três antológicas são Cidade Maravilhosa, de André Filho - primeira gravação de Aurora Miranda, irmã de Carmen, Valsa de uma Cidade, do mais carioca dos pernambucanos, Antonio Maria, e esta Rio Antigo, que bombou o Edifício Chopin na madrugada deste domingo. Alguém discorda?

O roqueiro Arnaldo Brandão, do Hanói Hanói, também fez barulho na festa da poesia. Arnaldo é aquele parceirão de Cazuza, O tempo não pára, e de Tavinho Paes no hit Totalmente De +, que Caetano Veloso e a jovem funkeira Perlla gravaram e que, conforme corre um tititi, numa convesa mal contada, canção que também estaria interessando a Shakira. Já imaginou uma versão em inglês para a colombiana cantar "Linda como um neném... Que sexo tem...?"

Seria inútil tentar agora no fim da manhã deste domingo retratar com palavras o enorme sarau de Copacabana. A cearense Sílvia, esbanjando força nos tons mais altos, o cabo-verdiano Hélio, mostrando que o arquipélago a 500 km do Noroeste africano é um Caribe quente, com balanço, reggae e pauleira. O malandro lapiano Beto Monteiro num samba lento... "Sonhei que o tempo não fosse passar pra nós dois.... ".

Uma parafernália de guitarras, percussão e saxofones no meio do salão sem atrapalhar ninguém, entre sofás, quitutes e muitos quadros nas paredes.

Duzentas pessoas, 400 no rodízio, porque a cada hora saíam 20 e chegavam mais 20, todo mundo artista, gente bonita, o poeta Mano Melo arrebatado como sempre, declamando o amor em forma de atrevimento.

A generosidade dos anfitriões, o velho Dr. Marzagão, pai, e o Marzagão filho, este atencioso com todos no tão "mal falado" Edifício Chopin de réveillons e carnavais, entre o esplendoroso negrume do Atlântico e o azul fulgurante da piscina do Copa, azul contrastando com a escuridão da alta madrugada, que no gracioso hotel de 1923, fora a fachada sempre iluminada, tudo adormece e escurece, menos a água da pérgola, para tranquilidade dos hóspedes ilustres.

Quase ninguém, fora o rock, o samba, o acalanto, a poesia, as 200 almas encantadoras da noite, poderia imaginar tanta beleza brasileira, beleza americana, encerrando o Dia Nacional da Poesia quase ao amanhecer deste domingo 15 de março de 2009.

Nesses tempos de facilidades tecnológicas, a festa, no que tange as apresentações de música popular no meio de uma ampla sala, ou salão, foi integralmente documentada, gravada, fotografada por recomendação dos anfitriões. Mas também foi filmada por essas maquinetas, celulares e câmeras baratas. Foi festa falada, inventada, cantada e dançante.

Para além dos comes e bebes, rolou uma lição de entropia urbana, de antropologia em tempo real, de documentarismo deste novo cinema digital, cinema descentralizado, rolou uma feira de papos e negociações, feira de possibildades de novas parcerias. Rolou criatividade e um jeito bacana de constatar que o Brasil e o Rio de Janeiro não perderam a esperança, se depender de seus artistas.

Com tanta documentação, o melhor que rolou, cedo ou tarde, vai continuar rolando por aí, e quem buscar, encontrará e não se arrependerá... Para não acordar ninguém pedindo imagens, por enquanto o Correio da Lapa finge que mostra. E se mostra. Rolou a festa. Logo o Youtube tudo confirmará.


O MENINO SEAN E O PAI GIGANTE DAVID


O presidente Lula, no seu primeiro encontro a portas fechadas com o presidente Barack Obama, na Casa Branca, disse não compreender por que os EUA tributam o etanol brasileiro, uma energia renovável e que evita o aquecimento global, e por que libera geral o combustível poluente, o petróleo, esta meleca preta, carbono que um dia foi vida, foi bilhões de anos atrás...

Obama disse a Lula que com o tempo tudo se resolve, mas cobrou rapidez do Brasil para devolver o menino Sean ao seu pai verdadeiro, David Goldman. Este pai era casado com uma brasileira que fugiu com a criança, então com cinco aninhos, veio para o Brasil, aqui se casou de novo, com o advogado João Paulo Lins e Silva, e morreu seis meses atrás ao parir a irmãzinha de Sean.

David não é Golias, mas é um pai guerreiro. Goldman não é nenhum pobre coitado, é homem de ouro. Mas fosse um mendigo, é pai, e isso basta. Qual pai verdadeiro não se identifica com David?

Senti vergonha de ser brasileiro ao ler página inteira do jornal O Globo, neste domingo, 15 de março: o padrasto Lins e Silva defendendo tese tosca numa entrevista emblemática dos nossos males. Lins e Silva, o nome é pomposo, mas não faz jus à tradição de advocacia na família. Ele deita falação numa tentativa vã e cruel de se negar a devolver o enteado ao pai saudoso.

Lins e Silva deu uma aula de abjeção, de absurdos, de egoísmo, de indisciplina, de desrespeito às normas universais, normas elementares de Direitos Humanos.

Adoro o Brasil, a brasilidade, sou uma vertigem de farra neste país de tanta injustiça, mas senti vergonha ao ler uma das maiores cretinices jurídicas de todos os tempos. Lins e Silva precisa fazer psicanálise urgentemente.

Alô Supremo, alô Lula, alô Mães da Praça de Maio, alô vovô bíblico juiz Salomão, alô qualquer papai e mamãe saudosos! Que loucura é essa de um viúvo querer a criança da falecida, se o viúvo nada viu do que ocorreu antes de se casar com a ex-mulher de David? Lins e Silva nada viu dos mais de cinco anos que ela viveu com o gringo e o filho único.

Falar mal do americano porque o gringo exerce o justo e legítimo direito de tentar recuperar o filho? Sean foi tirado dos EUA numa viagem que era para ser de 15 dias, mas provavelmente a mãe, a esposa, já havia armado a saída de lá como uma fuga, um divórcio, um States nunca mais...

Que crueldade querer meter patriotismo nessa história? Se David e Bruna, a falecida, viviam entre tapas e beijos, não é da nossa conta. Mas ao que consta, não se agrediam fisicamente.

O americano, fosse angolano, vietnamita, ou iraquiano, ou sírio, ou libanês, não importa, não é nada, não é ninguém. O americano é um simples pai e como tal é que tem direito de recuperar o filho. David é criativo, tem apoio da Casa Branca, de Obama, pessoalmente, e da chefe da diplomacia, a secretária de Estado Hillary Clinton...

O que estamos esperando? Vamos achincalhar ainda mais a nossa pífia e injusta estrutura jurídica nos exibindo internacionalmente num caso vexatório de viuvez enrustida?

O padrasto alega que o Sean agora tem uma irmãzinha, hoje com seis meses, e aqui será mais feliz do que lá? Que ridículo!

Mesmo que David não tivesse apoio de ninguém, nem de Obama, nem do papa, reconheço, eu, como um pai medíocre, como um jornalista delirante, quase obsceno, não importa, reconheço David como um homem verdadeiro, e isso me emociona. Prefiro deixar de ser brasileiro a ficar quieto diante de um absurdo tão gigantesco, fruto desse emaranhado de favores injustos, emaranhado que costuma começar na primeira instância, na tal Justiça estadual.

Ora, a Justiça estadual do Rio de Janeiro não está nem aí para milhares de crianças abandonadas, morrendo nas ruas e nos lixões da periferia da capital.

Pelo amor de Deus e pelo amor de todos os pais e filhos, por favor senhores ministros de Estado e do Supremo, libertem Sean da loucura de um padrasto, amoroso, sim, claro que o Lins e Silva adora o menino e o tem como filho, e o educa bem. Mas não rasguemos o direito elementar do verdadeiro e saudoso pai, que está lutando, com unhas e dentes, com esperteza jurídica, esperteza política, lutando com todas as armas de um pai, com marketing, que se lasque, não interessa a malandragem brasileira ou americana, mas David está lutando pelo que é dele, pelo que é só dele.

Será Sean mais feliz lá do que cá? Não precisamos saber. Se não for mais feliz, pelo menos saberá que tem um pai que faz barulho no mundo inteiro para ter o filho de volta são e salvo. Sean de volta para casa, já.

Se você concorda com essas palavras, espalhe o seu sentimento de indignação, e se puder, espalhe também o endereço Correio da Lapa, que precisa de sua colaboração com imagens, textos, vídeos e emoção.

Contato com a coluna
Alfredo Herkenhoff
alfredoherkenhoff@gmail.com

FIM