A idéia do tempo serve para reflexão do seu significado ao longo do próprio tempo. Animais têm fome no tempo, saciam-na e prosseguem na rotina sem noção de que o tempo evolui no tempo. Já o homem se adapta ao que mede, sem nem sempre medir palavras para tornar mais eficiente a comprovação da noção que faz do tempo. Faz poesia, faz exegese. Energia é igual à massa multiplicada pela velocidade da luz ao quadrado.
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O tempo é também subjetivo. Percorremo-lo fincado num chão, um ponto de vista. Sendo subjetivo o sentimento do tempo, tratemos de vivê-lo bem. É hora de desafiar o instante: o que pensar do tempo diante de tanto que passou enquanto passamos? Primeiramente que é preciso ter tempo para pensar. Para sofrer ninguém precisa ter tempo porque o sofrimento só chega quando é o seu momento de chegar. Viver bem, portanto, é cultuar o tempo como um precioso diamante efêmero. Quando acaba o tempo, chega a eternidade. E pensar que nessa vida temos de descansar todos os dias...
Os animais não têm tempo para pensar, só para lutar pela comida, dormir e procriar. É por isso que são animais.
A prece é diferente em cada repetição. Os átomos se separam e se juntam na mais antiga das repetições. Nossas vísceras dependuradas nos açougues são as mesmas atraindo o bico da Águia. Voando se vai ao céu, mas cantando talvez se chegue mais rápido. Seríamos então emanações de ondas que ora emitem sons, ora luz, ora encarnações materiais. A luz é um letreiro lido por letrados e iletrados enquanto a vitrine do mapa das estrelas cadencia a oscilação ao sabor da nossa ignorância.
O jornalista viu o diário virar semanário. Depois virou anuário e ficou guardado num armário de ossos, que foram recolhidos num baú que se perdera nas profundezas do mar durante um naufrágio.
Hoje o alfarrábio é um tesouro, e ainda dá para ler na folha de rosto: Primeiro periódico pintando perfeitamente perfídia produzida por patifarias para público perdido pelas poucas possibilidades presentes.
* - O texto acima integra o livro inédito intitulado Conto para fugir de balas perdidas, de Alfredo Herekenhoff