segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Imperiano em carta volta a criticar Liesa

Caro Alfredo,

A propósito da maneira como fui citado em Seu Correio da Lapa e apenas a título de esclarecimento: minha militância imperiana incondicional talvez esteja na origem da briga contra a imoral sociedade prefeitura-liesa – mas não luto pelo fim da Liga [é isto o que desejo, o fim da Liesa] com a intenção de beneficiar o Império Serrano.

Não.

Penso no carnaval das escolas de samba, pelo que sou apaixonado, e nos valores da cultura popular do Rio de Janeiro. Se o glorioso Império Serrano se faz presente nos escritos em que combato essa canalha é porque por meio dele – da experiência de o viver intimamente – travei contato com a forme torpe com que a contravenção intimida as escolas de samba.

Intimidação – esta é a palavra.

A licitação recém-anunciada pelo prefeito, que de resto servirá para legitimar o poder da Liesa [que a vencerá], faz densa fumaça para não clarear a questão decisiva: o julgamento. É por meio dele e somente com ele que a Liga se faz grande e amedronta. Controlada por três bicheiros [donos de três escolas...], o peso do julgamento, obscuro a cada ano mais, amarra, sob chantagem, as demais agremiações, que se mantêm alinhadas por medo absoluto.

O prefeito sabe disso. Que lançasse a licitação, ok. Mas que trouxesse para a prefeitura a responsabilidade estratégica que golpearia – decisivamente – a presença da contravenção no carnaval das escolas de samba. (E sem polícia)... Era num dia retirar da Liesa o domínio do júri e, no outro, ver a debandada das agremiações, afinal livres. (Não há, no carnaval, um modelo de representação positiva, como se vende por aí, de forma que me sinto agredido toda vez que leio Liesa como sinônimo do conjunto das escolas, já que esta “liderança” é artificial e se impõe – repito – pela intimidação).

A respeito, eis o que escrevi lá no Tribuneiros.com:

"Querem saber o motivo por que brigo para que a prefeitura - o Poder Público - controle o julgamento do carnaval das escolas de samba?

É simples: quem comanda o júri está no comando - e se impõe. Valor absoluto. Ponto estratégico.

Por isso lamentei - lamentarei sempre - que a licitação anunciada pelo prefeito Eduardo Paes sequer mencionasse o julgamento, deixando-o, sem ressalva sequer, com a Liesa. E é este desvio - esta marola, esta omissão - que faz do processo, já na origem, uma imensa farsa.

Bastava a municipalidade assumir o júri - e o carnaval voltaria a ser transparente e a ter um resultado em que se pudesse acreditar. E nem precisaria de licitação… Que se deixasse todo o resto com a Liesa; ela não seguraria a onda. Golpeada no julgamento, onde e somente onde se faz grande, aos poucos se abriria, perderia peso, mostraria a podridão de suas entranhas, e logo começaríamos a ver a debandada de escolas de samba que ali só estão alinhadas por medo.

O prefeito sabe - já me disse - que o julgamento do concurso é a questão decisiva, que é por meio dele que poucas escolas [aquelas duas ou três poderosas, as que são comandadas pelos bicheiros supremos] subjugam as demais; mas preferiu deixar escapar, nesta conversa mole de licitação do irrelevante, uma oportunidade histórica de defender o patrimônio cultural do Rio de Janeiro."
Retomar o julgamento não seria uma decisão superficial: o carnaval é feito com dinheiro público graúdo [quase R$ 40 milhões em 2009] e num espaço público importante. A prefeitura é a responsável por um evento que entregou ao jogo do bicho – o que ficou patenteado na forma inacreditável como a Cidade do Samba, patrimônio público municipal, foi dada [por Czar Maia] à Liesa, sem sequer uma falsa licitação.

Assim, porquanto se trate de causa maior, não gostaria de que essa luta específica fosse confundida com um pleito exclusivo do Império Serrano, a minha escola; que, sim, enfrenta enormes dificuldades, nenhuma delas, porém, a passar pela falta de um bicheiro a lhe prover. A agremiação, cheia de problemas estruturais hoje, já teve bandidos no comando, mas eleitos democraticamente – o que há de fazer toda a diferença. (Desfilo no Império desde 1995 e já fui rebaixado quatro vezes desde então, todas justas – mas não, jamais, esta última, a de 2009, um crime).

Um ponto importante: o Império Serrano, num modelo transparente de carnaval, talvez não vencesse o concurso; mas decerto que encontraria na estabilidade, não sendo rebaixado bárbara e injustamente como em 2009 [por motivos, insisto, mui pouco carnavalescos], meios de se reestruturar e, por que não?, modernizar-se.

Fato é que, do jeito como a coisa se organiza, e com a chancela covarde do prefeito, o Império Serrano [e isto serve para qualquer escolas que questione a Liga] sofrerá profundas e persistentes retaliações por ter se oposto publicamente ao sistema – e, desprotegido, faça o carnaval que fizer, restará uma década no Grupo de Acesso.

Obrigado.

Um abraço,

Carlos Andreazza