Única sobrevivente, Baya (foto),
14 anos, volta da África para Paris
Alo jornais O Globo, Estadão, Zero Hora, alô Times de Londres, alô sites e sites, onde estão Johanna Ganhataler e seu marido Kurt Ganthaler, aqueles italianos que "escaparam" do Airburs A330 um mês atrás? Barriga mundial ou apenas um caso mal contado?
14 anos, volta da África para Paris
Alo jornais O Globo, Estadão, Zero Hora, alô Times de Londres, alô sites e sites, onde estão Johanna Ganhataler e seu marido Kurt Ganthaler, aqueles italianos que "escaparam" do Airburs A330 um mês atrás? Barriga mundial ou apenas um caso mal contado?
Correio da Lapa - Notícia real e comentada (*)
Onde está aquela italiana que se salvou por perder o voo 447 que saíra do Rio de Janeiro para Paris? Ninguém sabe, ninguém viu. Chamava-se Johanna Ganhtaler. Segundo a agência de notícias Ansa, ela morreu num acidente de carro dez dias depois de escapara do Airbus A 330 no Atlântico. Quase todos os jornais do mundo deram a "notícia". Ninguém desmentiu.
Talvez seja tudo verdade... apenas este Correio da Lapa insiste - incorrendo no risco de talvez ser o único endereço errado no mundo, mas sempre exigindo foto e versão verossímil sobre um caso que parece cascata, o de uma misteriosa italiana, ou misteriosa história da mulher que escapou do destino só uma vez para sucumbir a ele dez dias depois. O caso tem cheiro de barriga mundial, só menor neste milênio do que aquele que George Bush enfiou goela abaixo da mídia, a de que o Iraque tinha armas de destruição em massa.
Mas, antes de prosseguir na polêmica sobre falha jornalística, vale a pena prestar atenção nas fotos sobre o caso do acidente com um Airbus, desta vez um velho aparelho modelo A 310. A menina é real, as fotos da agência AFP nem são excelentes, mas é imagem real.
A menina Baya Bakari, de 14 anos, ao lado de seu pai, Kasim Bakari, chegando na manhã desta quinta-feira a Paris. Ela é a única que se salvou no acidente do Airbus no Oceano Índico terça-feira. Bakari fraturou uma clavícula. Ela dormiu na viagem de volta a bordo de um avião do governo francês. A mãe dela é uma das 152 vitimas do voo que decolara de Paris. Mas, numa escala no Iêmen, houve troca de aeronave, e 153 pessoas seguiram viagem num velho Airbus, que estaria sem condições por falha de manutenção. Bakari, que mal sabe nadar, ficou horas agarrada em destroços até ser salva no litoral de Comores.
Voltemos ao caso do voo 447 da Air France. Na ocasião, a agência italiana Ansa divulgou, num único parágrafo, que Johanna e seu marido Kurt Ganthaler deixaram de embarcar por pouco no 447 e pegaram outro voo; só souberam da sorte quando já haviam chegado a Mônaco. Dias depois, a mesma Ansa, também sinteticamente, divulgou que Johanna, depois de tanta sorte, tinha morrido num acidente de carro no Tirol austríaco, no dia 9. A notícia só bombou no mundo a partir do dia 12.
Desde então, este Correio da Lapa vem pesquisando e nada encontra de real sobre Johanna neste mundo de jornais impressos e internet. Nenhuma declaração real de autoridade real, nenhuma foto real, nada, apenas centenas de sites copiando, clonando, inventando, melhorando e piorando o que não parece uma notícia real da Ansa.
Talvez este Correio da Lapa seja o único errado por insistir em desconfiar que é o único certo. Se Johanna foi um caso real, o Correio da Lapa pelo menos ainda poderá chiar: mas foi péssimo jornalismo.
E pior, quando o Times de Londres também clonou a nota da Ansa, o mundo inteiro embarcou na viagem da história citando o Times. Mas, até agora, nada. O Correio da Lapa localizou fotos de diferentes acidentes exibidos em sites como se fossem o que teria vitimado Johanna Ganthaler.
Barriga jornalística, ou mau jornalismo, pouco importa à essa altura. O Airbus parece que não sabe voar. A única sobrevivente no mar do arquipélago de Comores não sabe nadar. E Johanna Ganthaler, a única que que morreu na estrada depois de escapar do mar, não sabe morrer.
De barriga ninguém gosta de falar. Jornal grande fala de errinho, correção. E talvez nem seja o caso de falar de Johanna, que descanse em paz, se morreu.
Só o Correio da Lapa, tonitruante solitário, insiste em mergulhar no que pode ser seu próprio erro. Tivera este CdL recursos, teria já enviado um correspondente para ver in loco como vive a família desta italiana da região maravilhosa do Alto Ádige, vizinha da Áustria. Para ver o nicho onde foi sepultada, ver detalhes do destino de uma verdadeira e bem contada história, ou notícia.
Mas não, só resta gritar aos quatro provedores: onde está, onde esteve a misteriosa italiana?
(*) Por Alfredo Herkenhoff