MPB
Parentescos de timbre
Qualidade alta
Famosos
Um quase desconhecido Rui de Carvalho
Por Alfredo Herkenhoff
Assim como a grande Maria Rita tem a sua linda voz própria lembrando a maior de todas, a sua mãe Elis Regina, assim como o excelente Diogo Nogueira, com a sua voz própria, e agora com um programa na TV Brasil bombando o samba, traz a lembrança do Pai João, este saudoso pioneiro de um cantar quase falado, sincopado na descontração da melhor carioquice, há outros exemplos na MPB de parentesco timbresco sem que haja consaguineidade, nada, nada de linhagem genética, matricial, e muito menos imitação, que isso é coisa de papagaio e humoristas.
Neste sentido, o também saudoso roqueiro baladeiro Renato Russo tem aquele vozeirão, o tal dó de peito, lembrando a voz roqueira do iê iê iê light de Jerry Adriani, este sim italiano no nome e que, na maturidade, aprendeu a valorizar o romantismo dos primeiros anos da turma da Jovem Guarda.
Neste sentido, há outros grandes intérpretes que, sem nenhuma mídia, sem apoio de nada nem ninguém, alegram com suas canções as noites no Rio de Janeiro. Alguns desses cantores permitem confirmar essa pequena reflexão sobre parentesco de timbre, e alguns até conseguem viver da música, com dificuldades, pequenos shows, venda de CDs de mão em mão, levam uma vida de artista. E o fato de não estarem no altar da fama não representa nada para o reconhecimento da qualidade de seus trabalhos, repertório e voz.
Tendo como prima a poesia, esta que quase não reúne multidão nenhuma, a música popular, ao contrário, emociona sociedades inteiras, e atrai também um sem-número de almas se achando capazes de compor ou interpretar com força suficiente para encantar as pessoas. Sim, nos encantamos, mas nem sempre estamos numa multidão.
Pela quantidade de cantores no Brasil, muitos se frustram com a impossibilidade de fazer sucesso. Alguns porque não merecem mesmo. Outros porque é impossível tanta gente boa ter sempre um grande público.
Toda essa digressão é para destacar um nome em meio a tantos que merecem um foco de atenção. Aqui rendo loas neste nosso Correio da Lapa a Rui de Carvalho. Faz sambas, grava CDs – tem seis ou sete de produção independente -, canta na Lapa, canta no Leblon, canta aqui e acolá. E quase sempre para público pequeno. Já quase cinquentão, sei lá, Rui de Carvalho tem parcerias com o chargista, também letrista, Liberati, do Jornal do Brasil. Rui de Carvalho tem um CD em que interpreta só pérolas de Noel Rosa. O artista vive pelas bandas do Grajaú e Vila Isabel. Por isso sente Noel ali correndo no cotidiano. Rui de Carvalho lembra a voz de Diogo e João Nogueira, sem aquele DNA, apenas são todos da mesma estirpe do samba com calma, malemolência. Rui de Carvalho tem um jeito próprio e inconfundível de cantar com bom humor. A gente fica mais leve quando ouve os sambas de Rui de Carvalho que é, na “vida real”, um publicitário, artista plástico, designer.
Talvez, em meio a tanta oferta musical neste fim de semana, com o Rei Roberto Carlos no Maracanã, se você não souber o que vai ver e ouvir, de modo mais íntimo, existe uma possibilidade: conhecer este parentesco timbresco de Rui de Carvalho com a família Nogueira.
O Correio da Lapa recebeu a seguinte mensagem pessoal de Rui de Carvalho:
Eu, Rui de Carvalho, Zé Arnaldo Guima e o Grupo Samba na Cabeça vamos cantar na Festa da Rua Julina da Emília Sampaio, no próximo sábado, dia 11/07, às 19h30, É um repertório de 23 sambas pra esquentar o arraiá carioca. O evento é na rua ao ar livre! Todo mundo lá. Essa rua fica entre o Grajaú e Vila Isabel.