quinta-feira, 19 de março de 2009

COLUNA 4 DO ALFREDO NO CORREIO DA LAPA


Cassio Cunha Lima e Lula:

dois pesos e 110 milhões

de cheques a mais


Cassio Cunha Lima foi destituído do cargo de primeiro mandatário da Paraíba porque o seu governo distribuiu 35 mil cheques no valor de 4 milhões em período eleitoral. O governo Lula não distribui 35 mil capilés, distribui cerca de 110 milhões de pagamentos em espécie por ano. O programa Bolsa-família funciona em toda a legislatura, incluindo o período eleitoral. Qual a diferença de uma esmola da outra? Por mera formalidade da lei, por filigrana jurídica, Cassio foi apeado do poder. Lula deve fazer a sucessora com a mesmíssima política...

Depois os magistrados se escondem atrás das togas não sabendo por que são vistos com tanta antipatia. Mas lei é lei. Dura lex sed lex, no cabelo só gumex. São mais do que respeitados, temidos os magistrados superiores.

O cidadão comum não quer saber se o cheque é de Lula, Cassio, Garotinho e Rosinha, que esses dois ex também financiaram a pobreza com a esmola eleitoral. O cidadão da Paraíba recebeu o cheque e continuou pobre.

Os juízes se baseiam nos autos, no textual e quem quiser que vá reclamar com a mulher do padre. Não importa a sentença, os juízes estão acima do bem e do mal e continuam ricos. Ganham a bagatela de 25 mil reais pr mês e mais mordomias. Batem o martelo e não enganam ninguém. Estão fazendo política, fazendo administração pública os juizes superiores. Estão se tornando mais administrativos ou administradores do que muitos parlamentares e governadores. Estão exercendo o poder político de direito e de fato.

Por uma dessas que Caixa D'Água, o poeta de Campina Grande e João Pessoa, dizia: pra ser doido na Paraíba é preciso ter muito juízo. E em Brasília são 19h, e pra ser doido na capital federal não precisa nada. Basta olhar para o céu imenso, sonhar com o mar Paranoá, fazer um concurso ou aceitar uma nomeação.


Para deixar até servidor vivo

Ser funcionário público ou de estatal para levar a vida que levo, criando e criando, e trabalhando muito pouco na repartição.

O Correio da Lapa nasceu para deixar até servidor vivo, servindo. Nasceu para salvar moribundos encastelados na mesmice.

Quero morrer de bolso cheio! Nota de Cem! Quero morrer no Hospital Samaritano! Bolso estribado! Vem dezembro, vai dezembro, é festa! É festa o ano inteiro todo ano.

Sagrada Família de Salomão

Gosto tanto de você que nem sinto a hora passar. Hoje estou aqui feliz só em me lembrar quando a vi pela primeira vez e agarrei. E vi que não podia mais soltar. O amor parece um milagre. Esse amor me faz um grande bem. Um amor simples, desses que tanta gente tem, e tenho também. Você é o meu milagre de todos os dias e todas as noites. Nosso amor não tem tempo. Quero de novo chorar se isso faz rir e faz. Não tenho medo do ridículo, de cair de barriga na piscina ou no riacho, de pular sem bom senso. Que o nosso amor não vai acabar jamais porque sempre será muito mais do que a maior certeza de todos os milagres da vida. É o amor mais bonito que eu grito. Não tenho vergonha de gritar. É tão bom agarrar. Não posso mais soltar. Então choro e rezo e incorporo cada dia, cada gota de suor, cada saliva, tudo é o meu melhor momento no mundo. O amor de nós dois é a coisa mais linda, e será ainda mais linda a nossa vida nos dando mais vida, mais milagre, sem ilusão de que o nosso amor, todo amor, é uma estrela, é apenas uma semente, germinando o prazer de estar dentro e fora, germinando como uma flor, criança que, antes de tudo, tem pai e a mãe que quer ser mãe, e é a mãe mais amada, a mais gostosa, a melhor mãe do neném que vem nascendo com os prazeres que a vida nos tem dado. Meu amor, enlouqueço e não desgrudo, não saio de você que não pára. Parar por que?


Urina o País do Carnaval
Urina a Central do Brasil
Urina a História

Segue mais um trecho de Central do Brasil Século 21:


Com tanta segurança, tanta gente com carteira assinada, os compromissos, os encontros, os reencontros, as despedidas e uma velha flanerie fazem toda estação de trem exalar um ar de magia. A Central do Brasil, como a mais importante do país, é hoje um espaço popularmente enobrecido pela descontração carioca, no que esta tem de mais humilde e generoso: as amizades que se fazem naquele salão amplo, com um pé direito equivalente a uns seis andares, algo meio majestoso, meio palaciano, meio realismo socialista, getuliano, tenentista, coronéis de ocasião, um caudilho-mor... Quem se importa?
Terra do melhor bate-papo com a grande diversidade que a miscigenação total das etnias vem forjando dia e noite de tal modo que, apesar de tantas dores, o Brasil a cada instante nasce e renasce maravilhosamente. Ufanismo sim. Com muito orgulho, com muito amor.
Mas urinar ali não é para qualquer um não. Ninguém vai ao banheiro porque quer, mas porque precisa. O banheiro, a 50 centavos a entrada, tanto faz se para lavar as mãos ou outra coisa, é bem limpo, porque o dia inteiro, até 9h30 da noite, está sempre molhado com sabão e outros antissépticos. Com isso, está sempre sendo limpo, com funcionários uniformizados que contribuem para manter um clima civilizado. Nem sexo nem droga. Tirando birita e cigarro, a Central é clean. Nenhuma safadeza. Apenas trabalhadores com bala para tirar do bolso.
A maioria é negra e mulata, altíssima miscigenação positiva, gente humilde moradora da Baixada Fluminense, região periférica da metrópole, com as 13 cidades reunindo quase 4 milhões de almas. Quase todos têm na Estação Dom Pedro II, a 300 metros da primeira favela do Brasil, Providência, uma de suas principais áreas de reconhecimento, e ainda com opções rápidas de comércio e lazer. Perto do banheiro, no subsolo, existe uma lan house. Você trafega na rede mundial a bom preço. Os serviços que não são prestados dentro da gare o são no camelódromo, como os de costureiras, sapateiros, barbeiros etc, além da tradicional venda de quinquilharia made in China.
Depois de 21h30, o banheiro fecha, mas não fecham os quatro bares que vendem a loura gelada. Só fecham depois de 22h30. Para os mais renitentes, uma opção de emergência é sair por qualquer um das quatro grandes entradas da Central e regar um canto qualquer da rua. Nessas horas você pensa que está desrespeitando as normas mais comezinhas da urbanidade, mas em vez de sentir culpa, sente raiva de todos os prefeitos do Rio.
O lado "mais tranqüilo" para xixi na rua é a própria Avenida Presidente Vargas. Pela lateral, corre-se o risco de um soldado do Exército apitar no seu ouvido assim que você terminar o xixi. Os jovens militares do imponente prédio do Ministério do Exército têm experiência e sabem que, uma vez iniciada a urinação numa semi-escuridão, o processo é irreversível. Então os militares esperam o término da micção para só em seguida bronquear. Depois do apito, avisam: não faz mais isso aqui não. No folclore, registra-se um caso, talvez mentira, mas ouvido na happy hour: um certo cliente estava tão delirantemente envolvido com a conversa divertida e com a pressão na bexiga que, sem óculos, saiu correndo da gare e quase urinou no coturno de um soldado, confundido a bota com árvore ou poste.
Mesmo quem tem 50 centavos sobrando e sente necessidade de ir ao banheiro antes das 21h30 corre algum risco. O banheiro no subsolo da gare fica tão longe que o processo de aproximação da porta costuma ser doloroso, no sentido da vontade apertando, numa briga com os segundos e a capacidade de retenção da loura quente a passos largos. Uma técnica desenvolvida por uns malandros aconselha que o cliente pense em duas coisas antes de ir ao banheiro. Primeiro, que vá antes de a vontade apertar muito. Segundo, que leve na mão um copinho de plástico com um pouco de cerveja. Flanando, ele corta a multidão no sentido contrário sem pensar que a prioridade internacional do universo é alcançar o banheiro. Com a cerveja na mão, o cliente da Supervia mantém a calma e chega no tempo certo, quando a copo está vazio e a porta, adiante.
Mulheres são mais organizadas na pequena esbórnia. Raramente se vê uma delas agachando-se na rua. Um caso impressionante aconteceu com uma mulher depois das 21h30, sem o banheiro e sem informação, ela se dirigiu à Faixa de Gaza. E foi tão dantesco o cenário visitado que ela ficou corada só de lembrar que foi, viu, perdeu e retrocedeu, aliviada em parte, amargurada por inteiro.
Claro que existe opção civilizada. Não é nem o banheiro fechado às 21h30 nem o desrespeito no logradouro público, nem a Faixa de Gaza. Existe um salão de festa com vários banheiros para os camelôs que trabalham no camelódromo coberto atrás da Central, entre o prédio tombado e a rodoviária com os coletivos partindo o tempo todo para as cidades da Baixada. De dia, só vai a este banheiro quem for comerciário, ou comerciante, ou freguês com uma senha e tal, uma identificação. À noite, surge o forró-pagode, que só termina no início da madrugada. Na sexta-feira, forró dos mais animados. O banheiro é grátis, a cerveja barata e gelada. Dança-se e diverte-se. Segurança total.

CHOQUE DE ORDEM?

Mas os banheiros públicos! Com a ascensão do prefeito Eduardo Paes, aplicando o tal choque de ordem, que proíbe e retira cadeiras dos bares mais populares na calçada, que reprime foliões fazendo pipi em situação de emergência, no meio dos blocos com centenas de milhares de pessoas, como aconteceu neste 2009 com o Bola Preta e coom o Monobloco na Avenida Rio Branco.

O que pensar? Um choque de ordem na Central iria transferir a urinação para dentro da Estação Dom Pedro II? Nesse momento é difícil dizer, mas, por bem ou por mal, faz-se xixi até dentro de ônibus ou de vagões, incluindo o carro Geladão, se preciso for. Porque é imperioso, ou é melhor, não é factível impedir que alguém faça xixi quando não aguenta mais.
Imperadores Pedro I e Pedro II, mijões, Princesa Isabel, imperiosa, mexam-se em suas tumbas! Aliás, Isabel, a Redentora, dizem, mandou construir "mictório", inventou-se esta palavra na ocasião, para melhorar o saneamento do cais, hoje Praça 15, numa política pública embrionária, precursora dos tais banheiros de campanha, ou banheiros químicos, tão necessários nos tempos atuais em toda grande metrópole no País do Carnaval.


Zeca Pagodinho e o amor pela história da Baixada

A canção Sapopemba e Maxambomba, interpretada por Zeca Pagodinho e composta pois dois craques, o mestre Wilson Moreira e o enciclopédico Nei Lopes, dá bem a dimensão musical da Baixada num samba histórico. Aliás outro craque, Serginho Meriti, é de Meriti, com muito orgulho. Mas lembremos um trechinho do samba: Tarietá hoje é Paracambi / E a vizinha Japeri / Um dia se chamou Belém (final do trem) / E Magé, com a serra lá em riba / Guia de Pacobaiba / Um dia já foi também (tempa do vintém) / Deodoro também já foi Sapopemba / Nova Iguaçu, Maxambomba / Vila Estrela hoje é Mauá (Piabetá) / Xerém e Imbariê, mas quem diria / Que até Duque de Caxías / Foi Nossa Senhora do Pilar. E lá pro fim da música, Zeca faz o defecho: Morreu Tenório / Terminou sua Epopéia / E Joãozinho da Goméia / Foi Oló, desencarnou / Naquele tempo / Do velho Amaral Peixoto / Meu avô era garoto / E hoje sou quase avô

Cinco e meia

Cinco e meia! Cinco e meia!
A história começa assim:
Uma hora tão estranha
foi fundamental pra mim

Eu estava com um amigo
happy hour antes da hora
de repente você surgiu
E nunca mais foi embora

Cinco e meia! Cinco e meia!
Rasgou a sua meia de repente
e a que eu comprara pra minha irmã
pra você foi o primeiro presente

Não foi só amor à primeira vista
Foi antes a visão da meia rasgada
O pacotinho que tirei do bolso
nossa primeira gargalhada

Minha irmã, madrinha do nosso casamento
soube da história da meia só muito depois
O amigo que viu o nosso amor naquele afã
foi padrinho e inda casou com a minha irmã

Coincidência surpreendente
De repente rasgou a meia
Ganhamos a vida inteira
Cinco e meia pela frente

Tudo é festa, só prazer, nenhum lamento
Café da manhã, é almoço e chá
E noite adentro ainda rola ceia
Amamos e gritamos: "Cinco e meia!
Cinco e meia! Amamos e gritamos:
Rasgou a meia pra gente namorar!"

Por Alfredo Herkenhoff
Contato com a coluna: alfredoherkenhoff@gmail.com