Milhares de apoiadores do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, voltaram às ruas neste sábado em um protesto para marcar os 90 dias de sua deposição.
Manuel Zelaya foi deposto e expulso de Honduras em 28 de junho. Na última segunda-feira, ele retornou ao país sem a autorização do governo interino, que cobra a sua prisão, e se refugiou na embaixada brasileira na capital hondurenha, Tegucigalpa.
Além de Zelaya, cerca de 60 de seus seguidores também estão abrigados na embaixada, que permanece cercada por policiais.
Neste sábado, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse que um de seus delegados entrou no prédio a pedido de Zelaya.
Na sexta-feira, o presidente deposto havia afirmado que a embaixada brasileira foi alvo de bombas de gás lacrimogêneo lançadas pelas forças de segurança do país. Um porta-voz da polícia, no entanto, negou o ataque.
Um representante da Cruz Vermelha, Marcal Izard, disse à BBC que o delegado que entrou na embaixada não constatou situação de emergência no local. No entanto, Izard não confirmou nem negou as alegações de Zelaya sobre o suposto ataque com gás lacrimogêneo.
Condições de higiene
O diplomata brasileiro Francisco Resende Catunda disse à BBC Brasil que apesar do grande número de pessoas presentes no local desde segunda-feira, as condições de higiene não se deterioraram.
"A embaixada não está tão suja, eles são muito organizados", disse. "Não sei exatamente como fazem, mas deve existir um esquema para se livrarem do lixo, talvez horários para banhos de homens e mulheres. Mas o fato é que não existe um desconforto que se poderia imaginar dada a presença de tanta gente sitiada por muito tempo em um espaço pequeno."
O diplomata brasileiro afirmou que os funcionários da embaixada e os partidários de Zelaya não ficam em contato permanente, mas procuram ocupar partes distintas do prédio.
"Claro que nos conhecemos, nos cruzamos pelos corredores, mas eles cuidam da vida deles e nós, da nossa. Eles são os convidados e a convivência é respeitosa."
Na falta de camas para acomodar todos, os convidados "de maior hierarquia entre eles" ficam com os colchões infláveis disponíveis, diz Catunda. "O resto dorme no chão."
Catunda disse que foi autorizado um rodízio de funcionários da embaixada. Assim, com a chegada do diplomata Lineu Pupo de Paula, da missão brasileira na OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington, ele poderá ir para casa pela primeira vez desde o início da crise.
"Intimidação"
Na sexta-feira, em uma reunião de emergência pedida pelo governo brasileiro, o Conselho de Segurança da ONU condenou as "ações de intimidação" contra a embaixada do Brasil em Honduras. No início da semana, o prédio chegou a ter o fornecimento de água e energia cortado.
O governo interino que assumiu o poder em Honduras, comandado por Roberto Micheletti, não é reconhecido pela comunidade internacional. O Brasil, por exemplo, ainda considera Zelaya o presidente legítimo de Honduras.
Na sexta-feira, ao final de sua participação na reunião do G20, na cidade americana de Pittsburgh, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que Zelaya permanecerá na embaixada do Brasil "enquanto for necessário".
Um dos primeiros e principais negociadores da crise em Honduras, o presidente costa-riquenho Oscar Arias, disse em entrevista à BBC que o governo interino do país não tem demonstrado "boa vontade para dialogar".