quinta-feira, 21 de maio de 2009

Queixas do Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida

No texto a seguir, o ilustre colaborador do Correio da Lapa desfere dados certeiros na classe política que se lixa para as mazelas sociais e econômicas do Brasil. O fosso da injustiça está cada vez mais fundo. Os políticos prometem um mundo cor de rosa enquanto aumentam impostos... Tunga! Tunga! Tunga!

QUEIXAS

Prof. Antonio Luiz Mendes de Almeida

E o “cara” cria mais um imposto, desta vez sobre a até então intocável caderneta de poupança. Fernando Collor, tão atacado, confiscou-a, mas devolveu o dinheiro posteriormente, corrigido. Foi o único, pois continuo esperando o da gasolina, das viagens e outros “empréstimos ” que retornariam e jamais voltaram. Agora, o radical sindicalista resolve mexer na economia popular da qual se diz defensor, taxando-a. Não importa se o valor individual possa ser pequeno (sua soma, contudo, renderá milhões para os cofres governamentais), esquecem-se, porém, de que a poupança representa a economia de anos acalentando um objetivo, na mor das vezes a casa própria, razão de sua criação, e se badalava a sua segurança e não incidência de tributos.

Esta capa de proteção se rompe, a título de evitar que os grandes investidores (que nunca perdem...) se bandeiem para a caderneta à busca de lucros maiores. O que sobra é que sofremos mais uma tunga, mesmo que, felizmente, não recaia sobre os pequenos já tão espoliados neste país que se lixa para a seca do Sul, as enchentes do Nordeste, as viagens de luxo do supremo mandatário e seus áulicos (sócios...), fiéis, o desprezo com os aposentados e, fundamentalmente, com a educação, a corrupção desenfreada.

Doi-me no âmago ver aquelas cãs de pau a pique afogadas das quais restam apenas os telhados, lápides dos poucos e modestos sonhos persistentes e ilusórios, o desespero refletido nos olhos tristes de seus moradores, cercados de suas crianças sem esperança no amanhã, um povo miserável, entregue à própria sorte e que só é visitado à época das eleições à caça de votos para representantes que coisa alguma farão por eles, como, aliás, apregoam descaradamente.

A outra notícia que ganhou manchetes foi a C.P.I. da Petrobras, considerada “irresponsável e briga de adolescentes” na expressão, incrivelmente sem erros (falou, não escreveu...), do supremo mandatário. Sabemos que a Petrobras é a maior empresa brasileira, da mesma maneira que sabemos também que esfregou as mãos e regozijou-se quando o barril passou dos U$ 150.00 e aí anunciou, com pompa e circunstância, a camada de pré sal de olho nos ganhos que viria a ter. Quando o valor caiu para U$ 50.00, recolheu a euforia, mas não diminuiu, como seria de esperar, o preço nas bombas dos consumidores, malgrado as fanfarras da auto-suficiência.

É de nosso conhecimento igualmente que a empresa é um grande cabide de empregos para apaniguados e diretores políticos bem como dispões de técnicos (de carreira) excelentes e seria muito mais eficiente se fosse enxugada e administrada profissionalmente por quem sabe.

O que me espanta, quer dizer, em verdade, me revolta é assistir a senadores retirando seus nomes do pedido de abertura da CPI. Ora, por que assinaram? Para agradar ao amigo, torcendo para que não emplacasse a solicitação? E por que retiraram a assinatura? Pressão? Troca de favores? Um cargo? Não sei, mas é lamentável, principalmente verificar que o Sr. Cristovam Buarque se prestou a este papel pouco digno. Para quem concorda com algumas de suas idéias (não todas...), como eu, fica devendo uma explicação ou também não liga para a opinião pública? Acho que a Petrobras está precisando de um brigadeiro Nicácio para fazer a devida operação limpeza.


As minhas queixas de cidadão deixaram pouco espaço para a obrigação e tenho um texto balançando na mente, misto de presente e passado , sobre a nossa agonizante educação. Vou pegar umas linhas e se estourar a centimetragem, guardo (se não esquecer...) para outra ocasião. Todos os pretendentes aos cargos públicos, da presidência a uma representação parlamentar estadual, mendigam votos, acenando com mudanças, verbas, reforços, metas grandiosas que, como é de hábito, se esgotam no momento de sua alocução, nas palavras proferidas com estudada entonação e nos gestos treinados com que buscam iludir uma população incauta. Garantem escolas para todas as crianças, antecipando-se a entrada para os seis anos bem como a criação de mais creches e incremento dos cursos supletivos para recuperação do tempo perdido, entre outras medidas.

São vocábulos gastos, truques velhos e ilusionismo barato de que se valem para conquistar o eleitor ignaro e desfavorecido. Brincam, com requintes de crueldade, com as aspirações mais sagradas do povo que deseja progredir, espera uma vida menos sofrida e faz jus à recompensa de seu esforço. Vamos para uma década do milênio, continuando a arrastar questões veteranas que não se equacionam porque, talvez, não interesse: se resolvidas, acabaria o discurso decorado e fácil, a platéia ouvinte saberia distinguir o capaz do aventureiro e presunçoso. Suportamos ainda, para exemplificar, uma taxa alta de analfabetismo depois de tudo quanto foi gasto no Mobral e nas promoções eventuais e temos de ouvir que só o erradicaremos daqui a mais anos (10? 20? 30?) quando, hoje, a globalização e a competição acirrada estão a exigir uma formação pelo menos de segundo grau para alcançar algum emprego razoável.

Alarga-se cada vez mais a distância entre os que, nos grandes centros, conseguem acesso à educação, mesmo falha e desligada da realidade, e aqueles, tangidos pela mão torta do destino, que vicejam nas periferias, no interior, nas favelas e alagados, nos grotões, abandonados a sua pobre sorte, gerando-se a dicotomia perversa e absurda que distingue cidadãos, beneficiando uns e descartando outros.


Somos um país que trocou a adjetivação de subdesenvolvido para a categoria de emergente sem que, contudo, se alterasse a situação de indigência dos indivíduos que não conseguem vislumbrar o futuro por não terem meios para enfrentar as exigências mínimas de um dia-a-dia decente.


A evolução, o crescimento, a satisfação pessoal somente se atingem através do grande e único agente que é a educação. Ela é a base, a alavanca, o sustentáculo do desenvolvimento que se almeja, daí, se queremos realmente progredir, todos os esforços devem ser feitos, urgente e preferencialmente, no sentido de dotar a educação de condições para erigir um modelo próprio e eficiente. Não basta copiar ora o sistema francês ora o norte-americano, pois nosso corpo, com tantas diferenças regionais, não se amolda ao feitio pronto e inflexível. É preciso encontrar as nossas soluções, as respostas de uma nação que tem de, obrigatoriamente, queimar etapas caso pretenda alinhar-se ao primeiro time.


P.S: O senhor governador baixa lei obrigando que as escolas expliquem a história daqueles que lhes dão o nome, os patronos homenageados. O diretor e os professores por acaso sabem? Haverá cartilhas...?

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2009.