Foto de Valter Campanato/ABr
Fernando Collor
O retorno aos holofotes
Deu no jornal Zero Hora O retorno aos holofotes
FÁBIO SCHAFFNER - Brasília (*)
Antes da retomada das atividades do Congresso, semana passada, o senador Fernando Collor (PTB-AL) foi fotografado acendendo velas na Catedral de Notre Dame, em Paris. A imagem que surpreendeu o país, contudo, foi a de um Collor de sobrancelhas arqueadas, olhos esbugalhados e respiração ofegante, dizendo ao senador Pedro Simon (PMDB-RS) que engolisse as palavras antes de citar seu nome.
Para servidores habituados ao cotidiano do Senado, as duas cenas traduzem à perfeição o comportamento instável do ex-presidente. Tão logo assumiu o mandato, Collor trazia sempre preso à lapela um broche de Nossa Senhora de Fátima.
Porém, um de seus primeiros atos à frente da presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado, em março, foi determinar a retirada do gabinete de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida.
– As meninas da comissão vivem em pânico. Nunca sabem como ele vai reagir a qualquer comentário – conta um assessor do Senado.
Ao circular pelos carpetes azuis da Casa, Collor mantém sempre a postura retilínea, os olhos mirando o horizonte. Raramente conversa com jornalistas e os próprios assessores confessam temor de seu destempero verbal. Em seu gabinete, que ocupa todo o 13º andar de uma das torres do Senado, exige da garçonete que serve o cafezinho que mantenha as unhas impecáveis.
– Ouvi dizer que ele paga muito bem, deve ser pela insalubridade – ironiza uma funcionária da Casa.
Eleito em 2006 com 550 mil votos, Collor ressurgiu em Brasília vestindo o figurino de um político cordato. Embora preservasse a fleuma dos tempos em que ocupou o Palácio do Planalto (1990-1992), em nada lembrava o destempero com que reagia às denúncias de corrupção em seu governo. As raras aparições em plenário – foi o senador mais faltoso de 2007 – e o desapego à prática parlamentar logo o reduziram a um papel de coadjuvante na discussão dos temas de interesse nacional.
Nos dois primeiros anos de mandato, Collor licenciou-se do cargo por duas vezes, ficando 244 dias distante do Congresso. Até a semana passada havia feito apenas 21 discursos e apresentado seis projetos de lei.
– Ele nunca foi participativo. Não comparece às reuniões e quase não conversa com os demais senadores – resume um colega de bancada.
Réu em duas ações penais no Supremo Tribunal Federal, Collor é acusado de sonegação fiscal, falsidade ideológica, peculato, corrupção passiva, tráfico de influência e corrupção ativa. No início do ano, foi flagrado usando a verba indenizatória do Senado para custear segurança privada e fornecimento de quentinhas aos funcionários da Casa da Dinda, mansão onde residiu quando ocupava a Presidência da República.
Collor só voltou a frequentar os holofotes da imprensa em março, ao vencer a disputa pela Comissão de Infraestrutura. Na ocasião, contou com o aval do PMDB para derrotar a candidata do PT ao posto, a senadora Ideli Salvatti (SC). Após a eleição, tentou fazer um elogio à adversária, ao afirmar que a senadora “cisca para dentro”. A reação dos petistas foi imediata e Collor pediu que a expressão fosse retirada dos anais da sessão.
Proximidade com o Palácio do Planalto
Apesar da reprovação da bancada petista no Senado, Collor está cada vez mais próximo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Há duas semanas, eles compartilharam um palanque em Maceió. No discurso, Lula elogiou Collor e criticou “a política de compadrio” de governos anteriores. Um dia após a discussão com Simon, Collor se encontrou com Lula novamente, desta vez no gabinete presidencial. O flerte de Lula com Collor é mais um exercício de pragmatismo do presidente, que tenta fazer o senador votar a favor da entrada da Venezuela no Mercosul. À frente da Comissão de Infraestrutura, Collor também é responsável pela fiscalização de obras do PAC.
Na última segunda-feira, Collor não estava em plenário quando Simon começou a discursar. Ele acompanhava pela televisão, em seu gabinete, o embate do gaúcho com Renan Calheiros (PMDB-AL). Ao ter o nome citado por Simon, Collor saiu apressado. Pegou o elevador e entrou sobressaltado em plenário. No aparte, disse que no momento apropriado iria revelar “fatos extremamente incômodos” a Simon.
No dia seguinte, ao ser informado que o peemedebista havia ingressado com uma representação contra ele na Corregedoria do Senado para que esclarecesse a ameaça da véspera, mais uma vez Collor recorreu a uma vaga grosseria.
– Manda ele ir... – disse Fernando Collor de Mello, refugiando-se no carro sem completar a frase.
(*) fabio.schaffner@gruporbs.com.br
E deu no G1:
O medo de Pedro Simon
diante do olhar de doido
do senador alagoano
diante do olhar de doido
do senador alagoano
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) disse nesta terça-feira que ficou angustiado com o olhar recebido por Fernando Collor (PTB-AL) durante a discussão acalorada ocorrida ontem na tribuna do Senado Federal. Segundo o político gaúcho, colegas, espantados com a reação de Collor, o questionaram se ele não teria medo de que o senador alagoano partisse para a agressão física, a exemplo do que fez seu pai, na década de 60.
Na época, o senador Arnon de Mello, pai de Collor, matou com um tiro do peito o senador acreano José Kairala no plenário. Segundo registros, Mello tentou acertar um desafeto político seu, o senador Silvestre Péricles, mas acertou, por engano, Kairala, que estava logo atrás. Mesmo com o flagrante, Mello não foi preso devido a sua imunidade parlamentar.