terça-feira, 31 de julho de 2012

Canal Maria, TV egípcia só com mulher de preto da cabeça aos pés


New TV channel run exclusively by fully veiled women
(Tradução de Alfredo Herkenhoff, Correio da Lapa, Rio de Janeiro, em 31 de julho de 2012)
Novo canal de TV é produzido 
apenas por mulheres 
cobertas por véus
Por Sarah El Sirgany, Especial para CNN
 


 A “camerawoman” Heba Seraq-Eddin grava um programa 
de sátira social do canal de TV produzido exclusivamente 
por mulheres vestidas de niqab. 
(Camerawoman Heba Seraq-Eddin films a social satire program for a TV channel run exclusively by niqab-clad women.)


A new TV station is run by and features women wearing the niqab
The niqab is a black fabric that covers a woman's entire face except eyes. Some say the programming lets women's voices be heard; others say it's a U-turn for rights.
A emissora de TV usando o chamado o niqab,  véu feito com um tecido preto e que cobre todo o rosto da mulher, com exceção dos olhos. Alguns observadores sustentam que a programação permite que a voz das mulheres seja ouvida, outros dizem que é uma inversão no processo de conquista de direitos civis.


(CNN) -- After graduating from the mass communication department of Cairo University, Heba Seraq-Eddin couldn't find a job. Potential employers turned her down, she says, because of her veil. Heba wears the niqab, the black fabric that covers her whole face, except for the eyes.
(CNN) - Depois de se formar em Comunicação pela Universidade do Cairo, Heba Seraq-Eddin não conseguia encontrar um emprego. Os possíveis  empregadores lhe negaram qualquer chance por causa de seu véu, disse a jovem usando o niqab.

"I used to tell them I won't appear on camera, my niqab won't be visible," recalls Serag-Eddin, trained as a director and camera operator. But there were no job offers and she felt that the networks rejected the very concept of the niqab in the workplace.
"Eu costumava dizer a eles que eu não iria aparecer na câmera, meu niqab não será visível", lembra Serag-Eddin, treinada para ser operadora de câmera. Mas não havia ofertas de emprego e ela sentiu que as redes de TV rejeitavam o próprio conceito do niqab no local de trabalho.

Then she came across an ad for a new TV channel called Maria, run exclusively by niqab-clad women. She was hired right away.
Então ela avistou o anúncio de um novo canal de TV chamado Maria, tocado exclusivamente por mulheres vestidas de niqab. E ela foi contratada imediatamente.

Maria, the first channel of its kind anywhere, kicked off with the Muslim holy month of Ramadan on July 20. Until it gets more funding and staff, it's a daily four-hour broadcast on its mother channel, Al-Omma, an independent channel seen in the Middle East.
Maria é a primeira estação de TV com essas características no mundo. A emissora foi inaugurada em 20 de julho, abrindo o mês sagrado muçulmano do Ramadã. Enquanto verbas e pessoal não chegam o bastante, o canal transmite apenas quatro horas por dia, como parte da emissora Al-Omma, que é um canal independente no Oriente Médio.

In an apartment in the eastern Cairo district of Abasya, the female volunteers of Maria share two studios with Al-Omma's staff. Men occasionally help move the colored wooden panels on set and perform other technical chores. And Islam Abdallah, Al-Omma's executive director, steps in to offer advice on how to talk to the camera.
Em um apartamento no distrito oriental de Abasya, no Cairo, as mulheres no canal Maria dividem dois estúdios com o pessoal do canal Al-Omma. Homens por vezes prestam ajuda, movendo no set os painéis coloridos de madeira e fazendo ainda outras tarefas técnicas.  E o Abdallah, executivo do Al-Omma, ensina os primeiros passos sobre como agir diante da  câmera.

Critics say the programming is a "U-turn" on any Arab Spring advances.
Críticos dizem que a programação é uma "retrocesso" diante dos avanços da Primavera Árabe.

While new hires are being trained, the station is using the skills of other women who favor the hijab -- the veil that's more like a head scarf -- to help. But the objective is to depend solely on niqab-clad women. So far, they all work as volunteers.
Enquanto outras pessoas contratadas vão recebendo treinamentos, o canal Maria começa a usar  as habilidades de outras mulheres que privilegiam o chamado hijab - o véu que é mais parecido com um lenço na cabeça. Mas o objetivo é usar somente mulheres trajando o niqab. Até agora, todas elas trabalham como voluntárias.

"I felt that we finally have a place in society after being marginalized. As women wearing niqab, we had no rights, and no one to talk about us. Through Maria, we'll find people like us talking about us, with no discrimination," Seraq-Eddin says.
"Sinto que finalmente temos um lugar na sociedade depois de sermos marginalizadas. Como mulheres que usamos o véu, não tínhamos direitos e ninguém para falar sobre nós. Através do canal Maria, vamos encontrar pessoas como nós falando de nós, sem discriminação ", aiirmou Seraq-Eddin.

The niqab has sparked many debates about discrimination over the years. Public universities' ban of them during exams or in dormitories were the subject of numerous court battles and were condemned by advocacy groups. Women often complain of an unwelcoming job market with an unwritten discrimination.
O niqab provocou muitos debates sobre a discriminação ao longo dos anos. Proibição de seu uso em universidades públicas e durante os exames, ou em alojamentos,  foi objeto de inúmeras batalhas judiciais e condenado por grupos de defesa de direitos. Essas mulheres frequentemente se queixam de um mercado de trabalho hostil com uma discriminação que não existe por escrito.

Maria director Alaa Abdallah says that being part of the TV project showed her and other team members that they did, indeed, have the skills for the job.
A diretora Alaa Abdallah, do canal Maria, diz que fazer parte do projeto de televisão mostrou a ela e demais integrantes  da equipe que todas têm, de fato, capacidade para exercer o trabalho. 


 "We are trying to create a better society after the earthquake of freedom that was January 25," Alaa Abdallah explains. She says Egypt's intellectuals should support her right to speak up and her right to give a marginalized segment of society a voice.
"Estamos tentando criar uma sociedade melhor depois do terremoto de liberdade que foi o 25 de janeiro", explicou Alaa Abdallah, sustentando que intelectuais do Egito deviam apoiar o direito de falar e o de dar voz a um segmento marginalizado.

One of those intellectuals is not convinced. The network taps into the rhetoric of women's empowerment, says Adel Iskandar, media scholar at Georgetown University, but there is a "very strong case to be made that it's a gimmick."
Um desses intelectuais não está convencido disso. Diz que a emissora se aproveita da reórica sobre concessão de poderes às mulheres.  Adel Iskandar, estudioso de mídia da Universidade de Georgetown, acrescenta porém que se trata de um "caso bem claro que nasce como um engodo”.

Others are worried that the rise of political Islam in Egypt will radicalize the society. They argue that a TV network that features only women with covered faces is a "U-turn" on the path of the so-called Arab uprising.
Outros analistas estão preocupados com o crescimento do islamismo político capaz de radicalizar a sociedade egípcia. Eles argumentam que uma rede de TV que apresenta apenas as mulheres com rostos cobertos é uma "retrocesso" na trajetória da chamada Revolução árabe.

Alaa Abdallah says she avidly supports freedom of expression, but wouldn't grant her critics the same leeway she demands. "I stand by freedom of expression as long as it isn't hostile to Islam," she says, arguing that "secular and liberal" channels are "destructive" in the way they are promoting ideas that would reshape society.
Alaa Abdallah diz que é uma árdua defensora da liberdade de expressão, mas não concede a seus críticos a mesa margem de manobra que para si mesma  ela demanda. "Eu sou a favor defendo da liberdade de expressão, desde que não seja hostil ao Islã", diz ela, argumentando que canais "seculares e liberais" são "destrutivos" na medida em que promovem ideias para remodelar a sociedade.

Abu Islam Abdallah, Alaa's father and the owner of Al-Omma, believes he's restoring the balance. By stressing the niqab, he believes he evens out what he describes as the "racism" against these women.

Abu Abdallah Islam, o pai de Alaa e proprietário do Canal Al-Omma, acredita que ele está restaurando o equilíbrio. Ao promover  o niqab, ele acredita que promove um contrapeso ao que descreve como "racismo" contra estas mulheres.

He describes as heretic the type of democratic system that allows women "to dress immodestly, work as dancers and even be members of Parliament." That's "pandemonium," he says.
Ele descreve como herege um regime democrático que permite que as mulheres "se vistam despudoradamente,  trabalhem como dançarinas e sejam até mesmo integrantes do Parlamento". Isso é o "pandemônio", diz ele.


Al-Omma -- which means the nation -- is full of "anti-Christianization" rhetoric. There is less of that on Maria, named for the woman thought to have been the prophet Mohammed's Coptic wife. Its female-oriented, cultural programming "within a religious framework," as Alaa Abdallah describes it, might even have greater potential than Al-Omma and its donation-based funding model.
O canal Al-Omma -  que significa A Nação - está cheio de retórica "contra o cristianizar. Há menos desse conteúdo no canal Maria, que ganhou este nome em alusão à mulher que se te sido a esposa copta do profeta Maomé A programação cultural,  destinada a público feminino "dentro de um quadro religioso", conforme descrição de Alaa Abdallah, pode até ter um potencial maior do que o canal Al-Omma e seu modelo de financiamento baseado em doação.

Maria caters to a niche market untapped even by ultraconservative channels, according to Iskandar. But normalizing the appearance of women covered from head to toe in black could be a double-edged sword. "It takes away from their mystique, their exoticism," he argues.
Maria atende a um nicho de mercado inexplorado até mesmo por canais ultraconservadores, de acordo com Iskandar. Mas padronizar a exibição de mulheres cobertas de preto da cabeça aos pés pode ser uma faca de dois gumes. "É preciso manter distância da mística dessas pessoas, do seu exotismo", argumenta ele.


Others believe Maria might end up isolating the niqab "community" and only underline the controversy over the full veil.
Outros acreditam que o canal Maria pode acabar isolando a comunidade que usa o niqab  e apenas chamar a atenção para a controvérsia sobre o próprio véu.

Either way, the biggest challenge, according to Iskandar, will be to overcome what may be visually dull presentation with creative content.
De qualquer maneira, o maior desafio, de acordo com Iskandar, será superar, mediante um conteúdo criativo, o  que pode ser uma apresentação visual enjoada.



sábado, 21 de julho de 2012

Globo e REcord nos Jogos de Londres 2012. Fátima Bernardes corre risco.

Jornalismo em crise na Globo e no mundo

Os quatro grandes acontecimentos em curso neste 2012 são, sem ordem hierárquica, na minha subjetivérrima avaliação: a Guerra Civil na Síria, a crise econômica dos governos falidos da Europa, a reeleição ou não de Barack Obama e as Olimpíadas de Londres. A TV Globo só noticia três desses acontecimentos. Já chegaram a Londres os primeiros milhares de jornalistas para documentar a competição. Estima-se que estarão na capital 21 mil repórteres. Mas o setor comercial da TV Globo decidiu que isso não é notícia, o negócio é autocensura. A culpa não é da fortuna do Edyr Macedo ganhador de licitações. Mas do COI, com o seu péssimo exemplo de vender a transmissão para uma única emissora aberta. A mesma falha que comete a prefeitura do Rio-com-Liesa no Carnaval da Sapucaí. Se houvesse duas TVs abertas na cobertura, a concorrência seria salutar para o jornalismo e para a audiência, para atletas, foliões e telespectadores, todos nós.
Dizem que Lula tentou chave de galão com ajuda do saudoso José Alencar para levar a Record a fazer um acordo com a Globo... Dizem que Dilma também tentou a chave de galão. Macedo, vitorioso e generoso com os dois presidentes que ele tanto apoiou e apoia, até admitiu ceder e fazer parceria excepcional. Mas exigiu uma única condição, cláusula pétrea: que a Globo, em vez de exibir seu logo no canto da telinha, mostrasse o tempo todo em toda transmissão esses dizeres: "Imagem gentilmente cedida pela Rede Record". Os Manos Marinhos não aceitaram. Dizem, não sei se nada disso é verdade. Mas onde tem fumaça, tem jogo.
 
Darya Klishina, uma das dez mulheres mais bonitas dos Jogos de Londres. Ela vai disputar ouro com a Maurren Maggi no salto a distância. Outra musa hiper cotada, está entre as dez mais, é a goleiraça da Seleção feminina de futebol dos EUA. A propósito, a estreia do Brasil da Rainha Marta é já nessa quarta-feira...Tô ligado, morô?
  Nimeyer: Brasília virou um penico
O General Costa e Silva, que ficou um curto período na chefia da ditadura, detestava Brasília. Governava mais a partir da Zona Sul do Rio e do Palácio Laranjeiras do que do Plano Piloto. Um belo dia, desabafou com o seu ministro da Saúde. E diante da Esplanada dos Ministérios, lamentando e exalando pessimismo com a capital, dizendo não ver saída para aquilo tudo, perguntou ao assessor: qual o futuro dessa merda? E a resposta foi uma única palavra do ministro: "Vegas".

Sim, Brasília é o cassino dos caciques, é só jogatina com o dinheiro público. Qual a atividade principal do empresário Charlie Waterfalls? Produtos farmacêuticos? Serviços de corrupção para contratos e nomeações? Não faço ideia. Vomito.
Rola na internet uma declaração curiosa que é atribuida a Oscar Niemeyer. Ele diz que Brasília foi pensada como vaso de flores, mas acabou transformada em penico pelos políticos. Diz que em vez de formato de avião, o Plano Piloto deveria ter sido melhor desenhado, com formato de camburão.

 
Curioso nesse dueto bilingue é que Sinatra não pronuncia Ipanema como fazem os americanos, "Ipanima", mas como faz o Tom Jobim, como todos nós, "Ipanêma". Cantando enquanto fuma, The Voice dá uma bela baforada no fim. Tom parece ter inveja, mas cantar, fumar e tocar violão ao mesmo tempo não seria possível. Monstros acima do bem e do mal, esses dois não morrem nunca...
 
  Maravilhosa Fátima Bernardes...
  Dos vários programas semelhantes da Rede Globo, Encontro é o melhor. Critiquei-o exatamente pela excelência. O programa de Fátima é melhor do que o da linda Maria Beltrão na Globonews (este é meio afrescalhado), é melhor do que o da Ana Maria Braga, que é excessivamente generosa, um sitio do picapau doméstico. A querida Ana está quase virando Vovó Benta do Apê. Melhor do que o do Serginho Groisman, que é muito enrugado pra tanta juventude. É melhor do que o VideoShow, que é o mais radical daquela máxima do poeta Mallarmé: o mundo só  existe para abortar não um livro, mas a própria TV Globo, Globo parindo Globo, um replay do replay do replay. O da Fátima é melhor do que o do Jô, ligeiramente engessado no formato e horário errático. 
 E sendo o novo programa da Fátima o melhor de todos, corre riscos. É caro, uma hora e meia ao vivo diariamente. Por ter qualidade, não terá audiência alta. E isso é fatal numa grande emissora, ainda a melhor TV aberta do Brasil e uma das melhores abertas do mundo. Mas em decadência. E o principal: no universo das celebridades globais, rola uma ciumeira do cão. A TV não mostra, claro, mas aquilo tá chei de neguim querendo apunhalar o colega, ver a caveira, o ibope despencado.
 Em se confirmando essa minha hipótese, resta a questão: quanto tempo a Globo vai resistir sustentando essa alta qualidade do caríssimo programa Encontro com Fátima Bernardes? Um ano, ano e meio? Alternativas: reduzi-lo e migrá-lo para a Globo News.

 Vantagem de estender a Fátima mesmo a custo elevado... Considerações: o programa não precisa ser líder do horário, precisa apenas conter o concorrente direto e semelhante que rola na mesma hora na Record com Edu, sua culinária para classe média baixa e os coleguinhas com aquelas  fofoquinhas das celebridades da emissora do bispo em meio a pequenas inserções jornalísticas ao vivo.
Não sei se nada disso é verdade. Mas onde tem briga pelo Ibope com a Record, tem pânico na Globo. 
(Alfredo Herkenhoff, Correio da Lapa, Rio de Janeiro, 21 de julho de 2012)
 
 

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Crítica ao programa de Fátima Bernardes, DP do Rio invadida por bandidos armados, mãe desesperada ataca hospital em Minas



E mais, censura às Olimpíadas de Londres na TV Globo, Angela Merkel, o Brasil e a crise na Grécia, Coluna do Correio da Lapa está de volta.. Rio de Janeiro, 4 de julho de 2012.



QUINZE GUERRILHEIROS DO NARCOTRÁFICO 

INVADEM DELEGACIA NA "CIDADE MARAVILHOSA"

 
Um marginal condenado é preso e levado a uma delegacia de polícia no Rio de Janeiro. Horas depois, 15 homens de preto, empunhando fuzis e pistolas automáticas, dão tiros para o alto, cortam o cadeado da cela e levam o amigo de volta para a favela. Rio, Cidade Maravilhosa. Eu choro. Quantos micos o Rio de Janeiro vai pagar até a Copa das Confederações que a Fifa promove na reabertura do Maracanã no ano que vem?





CRISE NA SAÚDE
DESESPERO DE MÃE COM FILHO QUASE MORRENDO E TRATAMENTOS DESIGUAIS

 Uma mãe com um bebê no colo, ardendo em febre, tendo convulsões, depois de 12 horas sem atendimento numa UPP na Grande BH, parece surtada e começa a quebrar pequenos objetos na recepção, esmurra portas, grita: não vou ficar parada esperando meu filho morrer.

 A Rede Record deu matéria ampla, mostrando os gritos e outras pessoas também sem atendimento e se solidarizando com a mãe. Já a Rede Globo, no Jornal Hoje, castrou a matéria. Tirou o áudio do justo desespero da mãe, preferiu enfatizar que a mãe corre o risco de ser punida pelo Justiça por depredar patrimônio público. A Globo valoriza ainda o que a direção do hospital  afirmou ter feito: uma avaliação da criança enferma, seu caso não era tão urgente diante de tantos outros atendimentos. O Jornal Hoje foi simplesmente horrendo hoje.



CENSURA NA TV GLOBO
 A três semanas do início dos Jogos Olímpicos de Londres, soa patético o ato de censura total que a TV Globo impôs ao seu jornalismo, que não pode sequer citar expressões como Olimpíadas e Jogos Olímpicos. Isso se deve ao fato de a Rede Record ter conseguido exclusividade da transmissão do evento. Pelo mesmo motivo, no ano passado, a Globo, quatro anos depois de o Rio de Janeiro ter sediado os Jogos Pan-americanos, censurou o Pan de Guadalajara.

É triste ver que quatro anos antes de o Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas de 2016, a Globo censura o maior evento esportivo do mundo, como se a emissora pudesse sobreviver com saúde negando a realidade.

 Nos anos 80 e 90, quando as Organizações Globo cresciam rapidamente,. Seus eventos sociais eram noticiados por outros veículos concorrentes.  Mas, por exemplo, quando o Jornal do Brasil promovia pioneiramente as maratonas no Rio, o jornal O Globo nada publicava.



MUDANÇA NO JORNALISMO BRASILEIRO É DE BUNDA
A propósito, isso me faz lembrar de um episodio que sem repetia na redação do falecido Jornal do Brasil. O repórter e saudoso amigo Oldemário Touguinhó costumava dizer para o pessoal da primeira página: sabe o que mudou no jornalismo, no JB? Antigamente, se alguém do Comercial vinha aqui na hora do fechamento e dizia: olha, tenho aqui um anúncio de página inteira que acabou de chegar. O que faço com ele? O diretor da redação diria: enfia na bunda. Hoje, quando o comercial traz à última hora um anúncio grande, vai ao editor-chefe e diz: olha, tenho aqui uma página inteira do Banco X. E você reage assim: mas o que que eu faço com a minha grande reportagem na página 15? E o cara da Publicidade diz: Enfia na bunda.
No jornalismo brasileiro, e isso vale para todos os veículos, a mudança que houve é de bunda.


 TLEVISÃO
PROGRAMA DE FÁTIMA BERNARDES COMEÇA CHEIO DE PROBLEMAS
A simpática Fátima Bernardes, que um dia entrevistei para uma longa matéria publicada lá em meados dos anos 90 na revista paulistana chamada se não me engano Corpo,  estreou dias atrás um programa que leva seu nome. É o melhor do gênero, mas ainda assim embute vícios e riscos. Traz assuntos densos que são tratados longamente numa hora que me parece imprópria para TV aberta.  Procura fazer uma mescla de brasileiros anônimos com as celebridades globais de sempre, que na Vênus Platinada o mundo é o eterno Videoshow falando de si próprio, das suas estrelas da teledramaturgia. Mas o programa da Fátima exibe também, desnecessariamente, muitas caras anônimas num palanquinho tipo circo do interior, algo que atrapalha a concentração do telespectador. A bem da verdade, a Madame Oprah tem seu auditoriozinho e tal lá nos Estados Unidos, tem seu palanque, mas não dá mole, a câmera não perde tempo nem audiência exibindo quem está ali só pra dar um climazinho de calor humano.  No programa da Fátima, a plateia esfria o ritmo.
 Nada sei de ibope até agora nesses primeiros dias de Fátima, mas temo que um programa caro, diário, de hora e meia, vá causar problemas por aí.


 BIAL VEM AÍ, xi!
Pedro Bial parece que vem com programa semelhante ao da Fátima. No último BBB, segundo me disseram, houve a pior audiência e o melhor faturamento. Mas TV aberta não sustenta esse fenômeno.  Não importa eventual aumento de publicidade nos programas iniciais de Fátima e Bial. 

Se o Ibope claudicar, como agora estou intuindo que vai, haverá problemas a médio prazo para a longevidade da bela iniciativa, que são dois belíssimos profissionais.


 


CRISE EUROPEIA:
 SERÁ QUE O BRASIL RECEBERIA  UMA AJUDA 
19 VEZES MAIOR  DO QUE A RECEBIDA PELA GRÉCIA?
A Grécia tem 11 milhões de habitantes e ganhou ajuda de 110 bilhões de euros, isso dá mais ou menos 10 bilhões de euros para cada milhão de habitantes. Se a crise fosse no Brasil, teríamos de receber, a toque de caixa, o equivalente a 2 trilhões de euros.
 Existe dinheiro na Europa, belos capitais, belas indústrias. O problema é que investir lá no Velho Continente é prejuízo certo.  Com a moeda comum, os países da Zona do Euro não podem emitir, não podem criar inflação rápida para aquecer a economia. 

 A receita alemã é dura e perigosa: apertar o cinto de milhões de europeus que não trabalham muito e gastam muito graças a seus governos generosos, também gastadores e agora totalmente endividados.  Há de se buscar um equilíbrio. Permitir que os vários governos tenham mais manobra para aquecer a economia, ou pelo menos reduzir a recessão, e ao mesmo tempo apertar o cinto, ma no troppo, ou pelo menos não tão rapidamente. Há de escalonar as duas visões: a do sacrifício exigido pela chanceler alemã Angel Merkel e a resitência das sociedades e  governos em crise: sim, vou reduzir o meu desequilíbrio fiscal, mas não tão subitamente.

 Pelo sim, pelo não, os capitais europeus independentes, isto é,  das grandes corporações, não investem na região em crise. Melhor fazer nos países emergentes. Ou quando muito, emprestar ao governo dos Estados Unidos, comprar títulos do Tesouro bancado pela Casa Branca, pelo Pentágono e pela própria pujança da democracia americana.



CINEMINHA BOM

 Ainda não vi o novo filme de Woody Allen passado em Roma, mas adorei. Não vi o passado em Paris e adorei. Vi, anos atrás, aquele Manhattan, e também adorei.


CAÇA SENSACIONAL
 PILOTO QUE ESPATIFOU VIDRAÇAS EM BRASÍLIA É HERÓI
 DAS METÁFORAS NACIONAIS 
Um jato dá um rasante em Brasília e quebra umas poucas vidraças do palácio do Judiciário. Se todas as vidraças dos palácios na Praça dos Três Poderes e dos prédios na Esplanada dos Ministérios se espatifassem, o Brasil não viveria um choque de transparência, que esses vidros teimam em ficar intactos diante de tanto desleixo país afora, mas certamente o Distrito Federal ficaria mais arejado. 

A Esquadrilha da Fumaça não fez um bom trabalho. O rasante tem que ser da frota inteira.


Por Alfredo Herkenhoff - Coluna do Correio da  Lapa em 4 de julho de 2012.
Rio de Janeiro.