quarta-feira, 4 de julho de 2012

Crítica ao programa de Fátima Bernardes, DP do Rio invadida por bandidos armados, mãe desesperada ataca hospital em Minas



E mais, censura às Olimpíadas de Londres na TV Globo, Angela Merkel, o Brasil e a crise na Grécia, Coluna do Correio da Lapa está de volta.. Rio de Janeiro, 4 de julho de 2012.



QUINZE GUERRILHEIROS DO NARCOTRÁFICO 

INVADEM DELEGACIA NA "CIDADE MARAVILHOSA"

 
Um marginal condenado é preso e levado a uma delegacia de polícia no Rio de Janeiro. Horas depois, 15 homens de preto, empunhando fuzis e pistolas automáticas, dão tiros para o alto, cortam o cadeado da cela e levam o amigo de volta para a favela. Rio, Cidade Maravilhosa. Eu choro. Quantos micos o Rio de Janeiro vai pagar até a Copa das Confederações que a Fifa promove na reabertura do Maracanã no ano que vem?





CRISE NA SAÚDE
DESESPERO DE MÃE COM FILHO QUASE MORRENDO E TRATAMENTOS DESIGUAIS

 Uma mãe com um bebê no colo, ardendo em febre, tendo convulsões, depois de 12 horas sem atendimento numa UPP na Grande BH, parece surtada e começa a quebrar pequenos objetos na recepção, esmurra portas, grita: não vou ficar parada esperando meu filho morrer.

 A Rede Record deu matéria ampla, mostrando os gritos e outras pessoas também sem atendimento e se solidarizando com a mãe. Já a Rede Globo, no Jornal Hoje, castrou a matéria. Tirou o áudio do justo desespero da mãe, preferiu enfatizar que a mãe corre o risco de ser punida pelo Justiça por depredar patrimônio público. A Globo valoriza ainda o que a direção do hospital  afirmou ter feito: uma avaliação da criança enferma, seu caso não era tão urgente diante de tantos outros atendimentos. O Jornal Hoje foi simplesmente horrendo hoje.



CENSURA NA TV GLOBO
 A três semanas do início dos Jogos Olímpicos de Londres, soa patético o ato de censura total que a TV Globo impôs ao seu jornalismo, que não pode sequer citar expressões como Olimpíadas e Jogos Olímpicos. Isso se deve ao fato de a Rede Record ter conseguido exclusividade da transmissão do evento. Pelo mesmo motivo, no ano passado, a Globo, quatro anos depois de o Rio de Janeiro ter sediado os Jogos Pan-americanos, censurou o Pan de Guadalajara.

É triste ver que quatro anos antes de o Rio de Janeiro sediar as Olimpíadas de 2016, a Globo censura o maior evento esportivo do mundo, como se a emissora pudesse sobreviver com saúde negando a realidade.

 Nos anos 80 e 90, quando as Organizações Globo cresciam rapidamente,. Seus eventos sociais eram noticiados por outros veículos concorrentes.  Mas, por exemplo, quando o Jornal do Brasil promovia pioneiramente as maratonas no Rio, o jornal O Globo nada publicava.



MUDANÇA NO JORNALISMO BRASILEIRO É DE BUNDA
A propósito, isso me faz lembrar de um episodio que sem repetia na redação do falecido Jornal do Brasil. O repórter e saudoso amigo Oldemário Touguinhó costumava dizer para o pessoal da primeira página: sabe o que mudou no jornalismo, no JB? Antigamente, se alguém do Comercial vinha aqui na hora do fechamento e dizia: olha, tenho aqui um anúncio de página inteira que acabou de chegar. O que faço com ele? O diretor da redação diria: enfia na bunda. Hoje, quando o comercial traz à última hora um anúncio grande, vai ao editor-chefe e diz: olha, tenho aqui uma página inteira do Banco X. E você reage assim: mas o que que eu faço com a minha grande reportagem na página 15? E o cara da Publicidade diz: Enfia na bunda.
No jornalismo brasileiro, e isso vale para todos os veículos, a mudança que houve é de bunda.


 TLEVISÃO
PROGRAMA DE FÁTIMA BERNARDES COMEÇA CHEIO DE PROBLEMAS
A simpática Fátima Bernardes, que um dia entrevistei para uma longa matéria publicada lá em meados dos anos 90 na revista paulistana chamada se não me engano Corpo,  estreou dias atrás um programa que leva seu nome. É o melhor do gênero, mas ainda assim embute vícios e riscos. Traz assuntos densos que são tratados longamente numa hora que me parece imprópria para TV aberta.  Procura fazer uma mescla de brasileiros anônimos com as celebridades globais de sempre, que na Vênus Platinada o mundo é o eterno Videoshow falando de si próprio, das suas estrelas da teledramaturgia. Mas o programa da Fátima exibe também, desnecessariamente, muitas caras anônimas num palanquinho tipo circo do interior, algo que atrapalha a concentração do telespectador. A bem da verdade, a Madame Oprah tem seu auditoriozinho e tal lá nos Estados Unidos, tem seu palanque, mas não dá mole, a câmera não perde tempo nem audiência exibindo quem está ali só pra dar um climazinho de calor humano.  No programa da Fátima, a plateia esfria o ritmo.
 Nada sei de ibope até agora nesses primeiros dias de Fátima, mas temo que um programa caro, diário, de hora e meia, vá causar problemas por aí.


 BIAL VEM AÍ, xi!
Pedro Bial parece que vem com programa semelhante ao da Fátima. No último BBB, segundo me disseram, houve a pior audiência e o melhor faturamento. Mas TV aberta não sustenta esse fenômeno.  Não importa eventual aumento de publicidade nos programas iniciais de Fátima e Bial. 

Se o Ibope claudicar, como agora estou intuindo que vai, haverá problemas a médio prazo para a longevidade da bela iniciativa, que são dois belíssimos profissionais.


 


CRISE EUROPEIA:
 SERÁ QUE O BRASIL RECEBERIA  UMA AJUDA 
19 VEZES MAIOR  DO QUE A RECEBIDA PELA GRÉCIA?
A Grécia tem 11 milhões de habitantes e ganhou ajuda de 110 bilhões de euros, isso dá mais ou menos 10 bilhões de euros para cada milhão de habitantes. Se a crise fosse no Brasil, teríamos de receber, a toque de caixa, o equivalente a 2 trilhões de euros.
 Existe dinheiro na Europa, belos capitais, belas indústrias. O problema é que investir lá no Velho Continente é prejuízo certo.  Com a moeda comum, os países da Zona do Euro não podem emitir, não podem criar inflação rápida para aquecer a economia. 

 A receita alemã é dura e perigosa: apertar o cinto de milhões de europeus que não trabalham muito e gastam muito graças a seus governos generosos, também gastadores e agora totalmente endividados.  Há de se buscar um equilíbrio. Permitir que os vários governos tenham mais manobra para aquecer a economia, ou pelo menos reduzir a recessão, e ao mesmo tempo apertar o cinto, ma no troppo, ou pelo menos não tão rapidamente. Há de escalonar as duas visões: a do sacrifício exigido pela chanceler alemã Angel Merkel e a resitência das sociedades e  governos em crise: sim, vou reduzir o meu desequilíbrio fiscal, mas não tão subitamente.

 Pelo sim, pelo não, os capitais europeus independentes, isto é,  das grandes corporações, não investem na região em crise. Melhor fazer nos países emergentes. Ou quando muito, emprestar ao governo dos Estados Unidos, comprar títulos do Tesouro bancado pela Casa Branca, pelo Pentágono e pela própria pujança da democracia americana.



CINEMINHA BOM

 Ainda não vi o novo filme de Woody Allen passado em Roma, mas adorei. Não vi o passado em Paris e adorei. Vi, anos atrás, aquele Manhattan, e também adorei.


CAÇA SENSACIONAL
 PILOTO QUE ESPATIFOU VIDRAÇAS EM BRASÍLIA É HERÓI
 DAS METÁFORAS NACIONAIS 
Um jato dá um rasante em Brasília e quebra umas poucas vidraças do palácio do Judiciário. Se todas as vidraças dos palácios na Praça dos Três Poderes e dos prédios na Esplanada dos Ministérios se espatifassem, o Brasil não viveria um choque de transparência, que esses vidros teimam em ficar intactos diante de tanto desleixo país afora, mas certamente o Distrito Federal ficaria mais arejado. 

A Esquadrilha da Fumaça não fez um bom trabalho. O rasante tem que ser da frota inteira.


Por Alfredo Herkenhoff - Coluna do Correio da  Lapa em 4 de julho de 2012.
Rio de Janeiro.